Rindo à toa, a comédia como profissão

“O humor da TV está cansativo, porque são humoristas que estão acostumados a falar besteira e como na TV não pode, eles não conseguem fazer graça sem isso. Eu acho que o humor deve ser acessível para todos: crianças, jovens, adultos e idosos”, afirma o humorista Paulinho Mixaria

Em 2011, cerca de 30 mil pessoas de 15 países diferentes elegeram os brasileiros como uma das nacionalidades mais engraçadas do mundo e a mais divertida da América Latina. A pesquisa, realizada pela rede social Badoo.com, mostrou o que muitos já suspeitavam: os brasileiros gostam de viver de bem com a vida.

Arquivo pessoal
O dom de fazer outras pessoas rirem é observado na televisão, internet, festas de família e com os amigos. Programas de TV, vlogs e blogs de humor são mais comuns no cotidiano do brasileiro do que se imagina. Mas se engana quem pensa que a comédia é tida apenas como hobby. Muitos brasileiros escolhem fazer do bom humor uma profissão.

Há duas formas de se trabalhar com comédia, a primeira é o humor por trás do personagem, onde o ator desempenha um papel, e o humor de cara limpa, onde o humorista não utiliza personagens para fazer as piadas. Em Rio Azul, o ator de teatro Talbian Przybycz explica que ser ator de comédia não é tarefa fácil e destaca as dificuldades de interpretar um personagem humorístico. “E muito difícil, porque exige que você se dedique de maneira a estar pronto a viver qualquer coisa que não seja você mesmo e em qualquer situação e lugar. Exige que você desconstrua e/ou esqueça a si mesmo e adquira uma outra personalidade, jeitos e trejeitos que você terá que viver, tomar para si e ser”.
Segundo ele, dentre as principais dificuldades está o imediatismo, pois o humorista precisa causar graça logo após a piada. “A dificuldade surge conforme o público, o momento, o local. Isso cria a necessidade de ter uma sacada muito rápida, porque muito mais do que em qualquer outro gênero, a comédia exige que a reação aconteça no momento em que ela é apresentada. Ninguém vai assistir uma comédia, ficar refletindo aquilo seriamente e, horas depois rir, o comediante precisa causar reação imediata”.

Para Talbian, o ator de comédia, antes mesmo de entrar no teatro, já possui um perfil engraçado na vida real. “Acho que as principais características são o carisma e a pureza em basicamente querer causar alegria no próximo. Também de não deixar o bom humor apenas no palco. É um tipo que sempre carrega uma piadinha, uma careta, uma ação na manga pronta para ser usada mesmo quando não como um personagem (não como um personagem, risos)”, afirma. Segundo ele, a procura pela comédia dentro do teatro nem sempre acontece com o objetivo de seguir uma carreira profissional. “Tem também muitas pessoas que procuram exatamente para perderem a timidez e melhorarem a comunicação”, explica.

O ator de teatro explica que, as oportunidades para exibir um trabalho de comédia, ainda se concentram nos grandes centros. “A vida sem o riso é uma desgraça. Infelizmente, os lugares onde os humoristas mais atuam são os grandes centros. Na região, as chances já são mais esporádicas, e a valorização que em nível de Brasil já não é muito grande, fica ainda menor pelas bandas de cá”, ressalta.

Receita de sucesso

O humorista Paulinho Mixaria apresentou, em Irati, no último domingo (16), o show ‘Humor à Moda Antiga’. Antes do espetáculo, ele concedeu entrevista exclusiva ao Jornal Hoje Centro Sul, onde falou sobre a carreira e a situação da comédia no Brasil.

Ele conta que pensou em iniciar na carreira depois de assistir uma peça no circo. “Quando eu era criança, fui um dia num circo e vi um palhaço. Eu nunca tinha visto isso e me encantou em ver ele fazendo as outras pessoas sorrirem. Eu vi que queria isso pra mim, queria trabalhar com isso e fazer as outras pessoas felizes. Eu fazia os teatrinhos na escola também. Nunca fiz curso, foi tudo nato, no instinto. Eu não gostava de drama, eu sempre achei que a pessoa sai de casa pra voltar melhor, pra sorrir”, completa.

Segundo Paulinho Mixaria, fazer piadas engraçadas não é tão difícil quanto se pensa. “Todas as pessoas que fazem teatro dizem que é difícil fazer comédia. Eu não acho que seja difícil fazer rir. Se você estiver na rua com seus amigos ou familiares e alguém tropeçar na rua, todos eles vão rir. Então, não é difícil, é algo pelo qual eles não esperavam, é o inusitado. O que se faz rir é o que não se espera. Eu tiro a graça das coisas que mais se esperam, das coisas do dia a dia, comuns e que as pessoas conheçam. Tudo pra mim vira graça”, conta.

Sobre a situação do humor no Brasil, Paulinho Mixaria afirma que muitas das piadas feitas atualmente acabam utilizando uma linguagem inapropriada para algumas idades. “Tudo na vida é mais fácil sujar do que limpar e com o humor é a mesma coisa. Todo humor pode ser limpo, mas as pessoas têm preguiça de fazer ele limpo, então, às vezes, acabam apelando. É fácil você chegar hoje para mil pessoas, falar um palavrão e fazer eles rirem. Mas cadê o conteúdo? Já passou o tempo de que para fazer piada precisa usar palavrão. O humor da TV está cansativo, porque são humoristas que estão acostumados a falar besteira e como na TV não pode, eles não conseguem fazer graça sem isso. Eu acho que o humor deve ser acessível para todos: crianças, jovens, adultos e idosos”, destaca.
Ele também ressalta a importância do incentivo aos aspirantes da comédia. “Tudo o que for para o bem e gera alegria nas pessoas têm que ser incentivado. Sempre que eu posso, eu ajudo quem está iniciando, porque sei como é importante esse apoio. Quando eu vejo novos humoristas, fico muito contente”. Paulinho Mixaria ainda faz graça ao falar sobre o futuro de sua carreira. “Até uns 85 ou 90 anos, eu quero continuar fazendo humor. Depois, acho que vou parar, porque aí já vou ter pego nojo das minhas piadas”, finaliza.

Kyene Becker/Hoje Centro Sul