Analista faz Diagnóstico?

  



COLUNA: Saúde Mental & Psicanálise - Julho de 2021

Psicanalista faz Diagnóstico?

Com frequência, as pessoas que estão em sofrimento prolongado buscam um profissional que possa oferecer um diagnóstico, uma nomeação para seu sofrimento. O diagnóstico pode ter uma consequência diferente para cada pessoa: seja de alívio, por finalmente poder pensar que aquilo que o faz sofrer tem um motivo; seja uma dificuldade maior de mudança, por pensar que os sintomas fazem parte de um transtorno e não podem ser mudados. 


Esse diagnóstico é o chamado de "nosológico", que agrupa sintomas que fazem parte de determinados transtornos, listados em manuais. Na psicanálise, o analista não trabalha com esse tipo de diagnóstico, mas ouve o que a “depressão” ou o “transtorno de ansiedade” querem dizer para cada pessoa, visto que cada um sente de forma diferente. O que não significa que o analista não faça um diagnóstico. Esse diagnóstico, porém, é feito em relação à linguagem: a forma como o analisando responde às demandas dos outros, qual seu sintoma analítico, como ele entende o mundo. 


O diagnóstico analítico não é algo que o analisando recebe do profissional, mas sim que serve para que o analista saiba por qual caminho conduzir o tratamento. O analista deixa que o próprio analisando fale de si, não o nomeia. A partir disso, pode-se investigar através da fala o que o sintoma quer dizer para cada um em sua história de vida, mas também levando em conta o contexto social.


Assim, também é importante tomar cuidado para não transformar sofrimentos por questão sociais, como trabalho precário, falta de necessidades básicas, entre outros, em um transtorno individual. Por exemplo, muitas pessoas, principalmente neste momento de pandemia, estão apresentando sofrimentos relacionados ao contexto precário de trabalho: medo de demissão, sobrecarga, pressão, dificuldade financeira. Estas pessoas acabam sentindo bastante angústia diante disso e, caso essa angústia não seja escutada com cuidado, pode acabar sendo entendida como um transtorno - algo individual - e não como uma ansiedade em decorrência de condições precárias no contexto de trabalho.


Ainda assim, caso você sinta que está em um sofrimento intenso, seja por questões sociais, seja por questões particulares, existe a possibilidade de buscar uma escuta junto à psicanálise.


Paula Benato
CRP: 08/26034

Graduação em Psicologia pela UNICENTRO
Especialização em Saúde Mental e Psicanálise pela PUC-PR
Percurso em Psicanálise

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