Câncer: lutar é preciso

Instituto Nacional de Câncer (INCA) e o Ministério da Saúde estimam que em 2014, cerca de 577 mil novos casos de câncer sejam diagnosticados no Brasil. Desse número, 57 mil casos serão referentes ao câncer de mama, primeira causa de morte entre as mulheres em relação à doença.

Kyene Becker/Jornal Hoje Centro Sul
 Com o intuito de alertar para a incidência do câncer de mama e do colo do útero, o mês de outubro, conhecido por Outubro Rosa, é marcado por atividades para prevenção e diagnóstico precoce da doença. Segundo o Ministério da Saúde, além do câncer de mama, os outros tipos mais comuns da doença no Brasil são os cânceres de pele, próstata, intestino, pulmão e estômago.
Apesar de ser a segunda causa de morte no Brasil e no mundo, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares, as chances de cura são altas, principalmente pelo aumento do conhecimento sobre a doença e pelo diagnóstico precoce. Ainda assim, ao descobrir serem portadoras da doença, muitas pessoas encaram o câncer como algo fatal.

Superação

O Outubro Rosa não alerta apenas para o diagnóstico precoce e prevenção do câncer, mas também mostra que é possível conviver com a doença e vencê-la. Lindamir Soares, 48, descobriu ser portadora da doença há dois anos e, desde então, tem batalhado pela cura. Ela conta que foi diagnosticada com câncer no intestino após uma cirurgia. “Eu nem sabia que estava doente. Estourou de uma hora pra outra, eu comecei a ficar doente, fiz vários exames e tinha muita dor. Eu só descobri depois que fiz a operação. Meu marido contou pra mim, porque o médico não queria que me contassem. Foi um dos dias mais difíceis que eu já passei nessa vida”, relata.

Lindamir ressalta que não foi fácil receber a notícia sobre a doença, mas desde o primeiro momento decidiu que ia lutar pela vida. “Na hora que ele me contou, vieram mil coisas na cabeça. Muito antes disso acontecer, eu lembro que tinha comentado uma vez que se eu descobrisse que tinha câncer, ia me atirar embaixo de um carro. Na hora que eles me contaram, eu lembrei desse dia e só conseguia chorar. Depois de um tempo, eu me acalmei e decidi que ia enfrentar. Eu tenho dois filhos para criar e tenho meu marido, se faltar a mulher em casa, falta tudo”, afirma.

Ela relembra os momentos difíceis após a primeira cirurgia e destaca que o pensamento positivo é essencial nesse momento. “Depois da primeira operação, eu estava muito magra. Eu sai do hospital com 22kg. Eu não era humana, era um cadáver andando. A auto-estima vai lá embaixo, porque você sabe que quando olhar no espelho, não vai ver você. Se você só ficar pensando nisso, a doença te derruba. Todo dia você está ali com medo de morrer, porque dói muito. E não é só a dor física, dói a alma da gente também”.

Segundo Lindamir, o apoio da família e amigos é fundamental para a recuperação e conta alguns dos sonhos que ainda quer realizar. “Quando você tem o apoio da sua família e dos seus amigos, você vence. Quem é que não vai melhorar, sabendo que tem pessoas que querem te ver bem e curada? Se eu não tivesse o apoio deles, acho que nem mais aqui eu estaria. Todo mundo fala que eu sou forte. Eu sou guerreira mesmo, duas vezes eu andei perto do abismo, mas não conseguiram me levar ainda e não vai ser fácil. Se Deus quiser, eu vou sair dessa. Eu quero ver os meus filhos casarem e me darem netos”, completa.

Anapci

A Associação do Núcleo de Apoio ao Portador de Câncer de Irati (Anapci) é uma casa de apoio às pessoas diagnosticadas com a doença. Elas são atendidas de várias formas, desde pernoites na casa até a doação de cestas básicas e roupas. Inaugurada em 2005, a casa de apoio conta, atualmente, com 35 voluntários e está atendendo quase 60 famílias.

Kyene Becker/Jornal Hoje Centro Sul
Dione Marise Iurk, fundadora da Anapci, explica que o objetivo, ao criar a instituição, era de ajudar pessoas que realmente necessitavam de apoio. “Eu sempre tive vontade de ajudar alguém. Eu sempre pensei em ser voluntária no hospital, mas como eu tive um caso de câncer em casa, surgiu essa oportunidade. Começou na Universidade como um projeto de extensão. Então, eu fundei a casa de apoio”.
Ieda Waydzik

Dione relembra quando o primeiro paciente foi atendido pela instituição e destaca a importância do trabalho realizado pela casa. “Foi uma emoção muito grande quando nós recebemos o primeiro paciente. Ele era muito humilde e carente. Ele se viu no céu quando chegou na casa. Infelizmente, ele estava em um estágio bem avançado da doença e acabamos o perdendo. Mas tivemos muitas outras histórias positivas, de pessoas que conseguiram se recuperar. É gratificante ver que podemos ajudar. Se o paciente precisa, é bom saber que temos tantas pessoas que estão dispostas a ajudar de toda forma”, completa. 

Ieda Regina Waydzik, presidente da Anapci, explica que o trabalho não é só voltado ao paciente, mas sim a toda família. “Nós tentamos dar um atendimento para a vida da família e não só para o paciente. O principal é a visita, tentar levantar o espírito desse paciente, mostrar que há a chance da cura e dar perspectiva de futuro”, afirma.

Ela ressalta que o apoio das voluntárias e das pessoas que já enfrentaram a doença é essencial na reabilitação, pois proporciona uma nova visão para os pacientes. “Muitas das voluntárias que colaboram aqui já enfrentaram a doença. Então, são a prova viva para os pacientes, para que eles se tratem e continuem acreditando. As pessoas melhoram ao verem que uma pessoa de fora está acreditando e mostrando que existe um mundo lá fora, que se importa com elas”, finaliza.

Kyene Becker