Lei no Paraná proíbe o uso de celulares em salas de aula

Professores e pedagogos confirmam que o celular atrapalha a concentração dos alunos nas aulas, mas alguns não acreditam que a lei irá inibir o uso do aparelho. Em São Mateus do Sul, um Colégio decidiu, junto com os pais, pela retenção dos aparelhos por 15 dias, o que teve resultado positivo


Tanto escolas públicas quanto privadas sofrem com o problema de uso de aparelhos celulares em salas de aulas. Foi publicada no Diário Oficial do Estado do Paraná no dia 25 de junho de 2014, a Lei Nº 18.118, que proíbe o uso de aparelhos/equipamentos eletrônicos em salas de aula das escolas públicas e privadas do ensino fundamental e médio para fins não pedagógicos no Estado do Paraná.

@Silmara Andrade/Hoje Centro Sul
Marilisa Hamad, além de ser vice-diretora do Colégio Estadual João de Mattos Pessôa – Ensino Fundamental e Médio - da cidade de Irati (PR), é professora de Língua Portuguesa. Ela desabafa que sofre com o uso do celular dentro da sala de aula, pois os alunos não conseguem se desligar do mundo virtual. “O nosso regulamento interno diz que é proibido o uso de celulares em sala de aula. Infelizmente esse é o maior motivo de brigas entre alunos e professores. Os alunos estão o tempo todo conectados e a atenção e interesse pelas aulas estão diminuindo cada vez mais”.

A vice-diretora explica que, geralmente, quando um professor flagra um aluno usando celular, a primeira atitude é pedir para o aluno desligar e guardar o aparelho. “Nós alertamos o aluno para desligar, mas, se ele insistir em fazer  uso, é retirado o celular e levado até a direção. Depois disso, a direção avisa os pais ou responsáveis para  buscarem o aparelho”, diz.

Há casos de alunos que enfrentam e ofendem professores, quando eles tentam retirar o celular e levar o aparelho até a direção. “O aluno não tem maturidade para deixar o celular desligado durante a aula. E se o professor resolve tomar o aparelho, eles não querem entregar, enfrentam e até ofendem com palavras os professores. Há casos que os pais vêm até o colégio para retirar o celular, e no outro dia o aluno já está usando novamente em sala de aula”, conta Marilisa.
Para Marilisa, com lei ou sem lei, os alunos continuarão trazendo e usando os aparelhos. Infelizmente essa é a realidade. “Enquanto os alunos não aprenderem quando é a hora de fazer o uso e desligar quando é necessário, a situação vai continuar desse jeito”.

Para a pedagoga do Colégio Estadual João de Mattos Pessôa, Cacilda Filus, com o uso de celular em sala de aula, os alunos acabam desviando a atenção dos conteúdos, o que prejudica o aprendizado. “Também acaba prejudicando o trabalho dos professores e o andamento das aulas. Eu sou a favor da lei, só que acredito que precisa haver mais conscientização dos alunos de que o uso do celular em sala de aula os prejudica. O problema do Brasil é que precisa haver lei para isso, mas não consigo acreditar que com a lei, o uso diminua. Pois enquanto não houver conscientização por parte dos alunos, juntamente com a ajuda dos pais, não haverá uma significativa melhora”.

A diretora do Colégio São Pedro Canísio de Irati, Clair Kiatkoski, também não concorda com o uso do celular em sala de aula, porque segundo ela, o uso atrapalha o aluno, distrai os colegas e professores, serve como cola, passagem de gabaritos e como brincadeira, às vezes perigosa, por isso condena o uso de celular no colégio.

“Se algum professor flagrar algum aluno usando o aparelho, será retido na secretaria da escola, até que os pais ou responsáveis façam a retirada no Colégio”, explica Clair. Apesar disto, ela comenta que o Colégio não proíbe o aluno de trazer o celular, porque alguns moram em outras cidades. “Nós temos muitos alunos que moram longe e que precisam, algumas vezes, se comunicarem com os pais, mas só é liberado usar fora do horário escolar. Temos que impor limite, senão à coisa foge de controle”, finaliza.

Já a pedagoga do Colégio São Pedro Canísio, Patricia S. Moravieski, acha importante o uso do recurso tecnológico em sala de aula, como o tablet, o notebook e telas multimídia, porém, segundo ela, o celular é de uso pessoal e não há como controlar o uso correto.

De acordo com Patricia, o regulamento interno do Colégio é bem trabalhado e quando os alunos são flagrados, não resistem em entregar o aparelho. “Já peguei muitos alunos usando o celular e cumpri o que é determinado pelo regulamento. Infelizmente, os pais vêm buscar imediatamente o celular, com isso não permitindo que seu filho entenda que infringiu uma regra. Também há a desculpa que é a ultima vez que vem buscar, mas não é o que acontece. Os pais têm consciência de que o celular tira o foco do filho e relatam que não sabem o que fazer. Alguns dão a desculpa que é melhor estar no celular do que na rua”.

Patricia revela que sabe que os alunos não usam o celular de forma correta, para auxiliar nas dúvidas.  Ela explica que o objetivo da maioria é entrar nas redes sociais, postar fotos e trocar mensagem. Para Patricia, essa finalidade não colabora com as aulas e interfere negativamente na aprendizagem. “Usamos o Portal Positivo no Colégio, algumas salas têm tela multimídia e também utilizamos o laboratório de informática, o que deixa a aula mais interessante e é o mundo em que eles estão inseridos”, diz.

A pedagoga afirma que há anos o Colégio elaborou o seu regulamento interno prestando atenção aos aparelhos eletrônicos. “Se não houvesse regras, o uso seria indevido e os alunos não prestariam atenção nas aulas. Sabemos que é um recurso excelente, porém, o adolescente não tem maturidade para saber a hora certa de usar. É um grande desafio para a educação encontrar um meio de tornar as aulas mais interessantes com todo o apoio tecnológico que existe. Porém, é preciso ter foco e objetivo ao trabalhar”, finaliza.

Alguns colégios desabafaram para o Jornal Hoje Centro Sul que existe muitos casos de pais que nunca aparecem na escola, nem para pegarem o boletim escolar, mas quando são avisados para retirarem o telefone, prontamente aparecem. Os professores e coordenadores alertam os pais para conversarem mais com os filhos quanto ao assunto, pois sem esse apoio dificulta na melhora dessa questão.

Retenção do celular por 15 dias

O assunto é muito discutido dentro das escolas e ainda é uma grande polêmica, é o que afirma Telma Staniszewski, diretora do Colégio Estadual São Mateus - Ensino Fundamental, Médio, Profissional e Normal, da cidade de São Mateus do Sul. Segundo ela, há cerca de um ano, após reunião com os pais, discussão e votação, foi criado no Colégio um regimento interno, para que seja proibido o uso de celular em sala de aula. “Aqui, se o professor pegar o aluno usando sem autorização, ele pega o celular e encaminha para a direção. Lá nós temos uma gaveta grande com chave, onde os celulares permanecem retidos durante 15 dias. Após o prazo, somente o pai ou a mãe podem retirar. Se ocorrer pela segunda vez, permanece retido por 30 dias. Felizmente tivemos uma redução de 90% de celulares retidos e também da reclamação dos professores, após esse regimento”, explica.
Telma diz que a lei ter entrado em vigor foi uma conquista, pois infelizmente os alunos não sabem usar o celular como ferramenta de aprendizagem durante as aulas. “Eles ficam usando durante as explicações, ouvindo música, acessando algumas redes sociais, tirando fotos dos colegas ou até mesmo de professores. Já aconteceram situações de exposição, como por exemplo, estarem assistindo uma aula e postarem nas redes sociais falando mal da aula do professor, expondo-o de forma mal educada”, conta.

Segundo Telma, há muita reclamação por parte dos professores quanto a isso. “Eu fico louca, querem que eu vá a todas as salas pegar os celulares dos alunos”, desabafa. Ela conta que sempre orienta aos alunos que, se realmente sabem que precisam atender uma chamada urgente, o certo é avisar o professor e deixar no modo silencioso.

Telma diz que com o regimento interno, os casos de celulares diminuíram bastante e com a lei que entrou em vigor, acredita que há grandes chances de diminuir ainda mais. “Percebi que quando eles souberam que virou lei, ficaram mais receosos”, completa.
O Colégio São Mateus conta com ajuda da Patrulha Escolar da Polícia Militar, que visita o Colégio e orienta os alunos. Segundo Telma, algumas das orientações dizem respeito a quando os alunos podem ou não utilizarem o celular.
Entre o lado positivo e negativo do uso de celular em sala de aula, prevalece o bom senso do aluno em saber o momento e a ocasião certa de utilizar o mesmo em sala de aula.

Por Thaís Siqueira