Após grave acidente, casal dá exemplo de amor e fé

Um acidente na estrada entre Itajaí (SC) e São Mateus do Sul (PR) mudou a vida de Eduardo e Jocilian, casados há dois anos e quatro meses. Em meio ao drama, eles contam como estão reorganizando o cotidiano com amor, companheirismo e fé - imprescindíveis para a superação

Texto: Thaís Siqueira
Fotos: Arquivo Pessoal

Uma viagem que era para ser tranquila se tornou um pesadelo de quase um mês. No dia 30 de abril de 2014, o casal Eduardo Camillo e Jocilian Lens de Matos Camillo, ambos com 27 anos de idade, sofreram um grave acidente de trânsito quando viajavam de Itajaí (SC), cidade onde moravam, para visitarem parentes e amigos em São Mateus do Sul (PR).
A são-mateuense Jocilian relata que no momento do acidente chovia muito. Eles estavam de moto e era Eduardo quem a pilotava. Por volta da meia noite, quando passavam por Rio Negrinho (SC), um carro deixou a pista contrária e, em alta velocidade, colidiu frontalmente contra a moto. 
Por conta do acidente, Jocilian sofreu ferimentos leves, alguns hematomas pelo corpo e um corte profundo no joelho esquerdo. “Mas posso dizer que saí ilesa comparado ao tamanho do acidente”, comenta.
Já Eduardo teve uma fratura exposta na perna esquerda, da canela até o meio da coxa que acabou rompendo a artéria femoral, perdendo muito sangue. “Nós caímos, eu desmaiei e o motorista não parou. Por minutos o Eduardo não morreu no local”, emocionada relembra Jocilian. 
O casal foi socorrido pelo corpo de bombeiros e levados até o Hospital de Rio Negrinho. Quando chegaram ao hospital, imediatamente a equipe de plantão fez um raio-x da perna de Eduardo e o médico decidiu realizar a amputação. Quando entraram na sala de cirurgia, resolveram não amputar porque Eduardo estava mexendo o pé.
No dia 02 de junho, conseguiram uma vaga no Hospital Evangélico em Curitiba (PR), para que fosse realizada uma cirurgia de reconstrução. Porém, quando os médicos fizeram as primeiras intervenções cirúrgicas na perna de Eduardo, perceberam que havia muito tecido necrosado. Iniciaram, então, um tratamento com vários antibióticos pesados, o não adiantou. A bactéria já havia tomado conta da perna e foi preciso fazer a amputação.
Eduardo conta que entrou na sala de cirurgia com esperança de não precisar amputar. “Quando acordei da anestesia no momento que eles estavam serrando o osso. Eles me apagaram de novo, e quando acordei já estava sem perna. No primeiro momento foi desesperador. Achei que minha vida tinha acabado, me culpei demais pelo que tinha acontecido, chorei muito”, diz.
Mas quando a Jocilian e sua família entraram para lhe visitar no quarto após a cirurgia, conversaram muito e ele acabou aceitando que a remoção da perna foi o melhor, pois não havia outra opção. “Era a perna ou a minha vida. E se eu pudesse ficar com a perna, com a gravidade das fraturas, eu poderia passar o resto da minha vida andando de muletas, arrastando a perna, com dores absurdas. Hoje eu tenho a opção de usar uma prótese e ter uma vida normal”, comenta Eduardo. 
Após a amputação, todos achavam que estava tudo resolvido, mas não estava. Jocilian conta que foi uma batalha pela vida, pois a bactéria do tecido necrosado estava no organismo, e o tratamento se tornou mais intenso. A cada dois dias ele ia para o centro cirúrgico para que fosse feita nova incisão e raspagem do tecido morto, até que conseguiram conter a necrose.
Eduardo ficou 21 dias internado, tomando morfina e anestesias que deixaram seu organismo debilitado, chegando a perder 20 quilos. “Mas graças a Deus, nós conseguimos vencer a todas essas dificuldades e hoje ele está bem, com muita vida pela frente, saudável e feliz”, relata Jocilian.
O amor é a base de tudo
 Logo após o acidente Eduardo explica como o amor e cuidado um pelo outro aumentou: “No começo, a Jocilian precisava praticamente me carregar pra todo lado. Trocando meus curativos, me dando banho, remédio e comida nas horas certas. Ela tem sido a principal força para mim. Ela tem estado comigo e compartilhado todos os momentos, bons e ruins. É ela quem me incentiva, ela quem me faz rir, ela quem me faz continuar sonhando e, segundo ela, tudo isso em troca dos meus sorrisos. O amor, cuidado e proteção da minha esposa está sendo fundamental para a minha recuperação. É só com muito amor que a gente conseguiu passar por tudo isso”, diz.
Jocilian revela que a sensação de perder alguém que ama, é muito dolorosa. “O Edu quase morreu no local do acidente, e, depois, com a bactéria no hospital, eu quase perdi ele de novo. Muitas vezes ele precisa me pedir pra relaxar um pouco, porque fico perguntando se ele está bem toda hora. É muito bom ter ele de volta em casa. Ele tem me surpreendido a cada dia, com a fé e vontade de viver. É o meu super marido”, muito feliz finaliza.

A fé em Deus também foi essencial
Além do amor, carinho, dedicação, companheirismo e cuidado um pelo outro, o casal sempre teve confiança e fé em Deus. Segundo eles, foi isso que ajudou na superação de tudo. “Sempre tivemos o costume de fazer uma oração antes de sair de casa, pedindo proteção a Deus. Temos a certeza de que ele está no controle das nossas vidas, e tudo o que acontece é para o nosso bem”, diz Jocilian.
Ela destaca que é fácil dizer que ama um Deus que não deixa nada de "mal" acontecer. "Mas quando as coisas não saem como planejamos, a primeira reação é questionar a Deus. É nesse momento que nós mostramos o nosso amor. É confiar, sabendo que, mesmo nos momentos difíceis, Ele fez o melhor por nós. E o melhor, nem sempre é o que nós queremos. Só Deus sabe o que é melhor pra nós. Quando o Edu estava em cirurgia pra decidir sobre a amputação, a situação era a seguinte: se a bactéria estivesse controlada, eles salvariam a perna dele, se não, seria feita a amputação. Naquele momento nossas famílias e amigos se uniram em oração pedindo a Deus, não que salvasse a perna dele, mas que fizesse o melhor pra ele. Nós não imaginávamos passar por isso um dia, ninguém imagina. Mas essa experiência nos fez ver o quão frágeis nós somos e como Deus nos ama e isso fortaleceu muito a nossa fé. Ficar bem é uma escolha. O que está feito, já está feito. Nós podemos escolher entre passar pelos problemas chorando ou sorrindo. Os problemas não mudam. O que muda é a nossa maneira de enfrentá-los", expõe Jocilian.
Mudanças após o acidente
Atualmente o casal está residindo na cidade de Curitiba (PR), em função do tratamento de Eduardo. O jovem encontra-se em fase de recuperação. “Minha vida mudou por completo. Tudo tem funcionado como um teste de paciência. A vontade é de sair andando, trabalhar, tomar banho sozinho, não é fácil ficar parado. Mas, estamos aguardando a completa cicatrização e, se Deus quiser, vamos levantar o dinheiro para darmos início ao tratamento com a prótese, e em breve estarei andando novamente”, finaliza Eduardo.
A maior dificuldade, segundo Eduardo, é com a locomoção. Em algumas situações precisa fazer o uso de cadeira de rodas e muletas, e com isso percebeu a dificuldade que muitas pessoas têm diariamente. “É muito difícil e demorado sair de casa, rampas de acesso a calçada são irregulares, preconceito de muitas pessoas que te olham diferente por você não ser normal”, revela.

Eduardo relembra que um dia em um supermercado renomado, tentou passar na fila preferencial, foi mal atendido, e para piorar a cadeira de rodas não passava no meio dos caixas. “Eu tive que dar a volta em todos os caixas (mais ou menos uns 100 metros), e voltar pela frente deles para chegar até onde estava minha esposa com as compras. Um constrangimento que ninguém quer passar”, enfatiza.