Mulheres agricultoras dão exemplo de força de vontade

Em 08 de março é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Para marcar a data e homenagear as mulheres, o Jornal Hoje Centro Sul traz exemplos de agricultoras da localidade de Arroio Grande, situada nas proximidades da PR-364.

Kaio Ribeiro

@Kaio Ribeiro
Muitas das lavouras da comunidade são mantidas por mulheres, enquanto os homens trabalham nas cidades próximas, sobretudo,  Irati e Inácio Martins.


“Sou mãe de família, agricultora, agroecologista, e trabalho em uma cozinha fazendo panificação,” assim se apresenta Tereza de Lima dos Santos, moradora do Arroio Grande.

A agricultora ressalta que é preciso valorizar o seu trabalho, afinal, é da agricultura familiar que provém grande quantidade de alimentos consumidos nas mesas dos cidadãos paranaenses. Além disso, Tereza dos Santos trabalha com técnicas agroecológicas, em que toda a produção é feita sem o uso de agroquímicos. “Eu acho que não é muito valorizado, pra mim é um orgulho ser agricultora agroecológica, porque tem pessoas que olham e dizem você trabalha na roça, tem que ir pra cidade, mas pra mim, eu nasci e me criei trabalhando na roça, é um orgulho produzir o alimento e saber o que eu estou comendo, o que eu plantei, e é tão gratificante, tão gostoso, estou há dez anos só produzindo alimento agroecológico,” diz.
Segundo Tereza dos Santos há aproximadamente trinta mulheres cuidando de lavouras  agroecológicas ou convencionais na comunidade.

@Kaio Ribeiro
Na propriedade de Tereza são produzidas frutas, feijão, arroz, batatinha e cebola. O trabalho não é fácil, porém as mulheres da comunidade se ajudam em mutirões.  “Eu trabalho hoje pra vizinha, amanhã a vizinha vai trabalhar pra gente, tudo sem veneno, na enxada, em forma de mutirão, trabalhando muito, as mulheres se ajudando,” explica.

Tereza dos Santos também explica que é um privilégio dar uma entrevista representando as mulheres agricultoras do Arroio Grande. “Me sinto feliz por falar em nome das outras mulheres aqui da comunidade, que são guerreiras, batalhadoras, gostam do que fazem, vão a luta, até tenho fotos de um mutirão ano passado das mulheres na roça, com as enxadas, acho que é interessante,” conta a agricultora.
Maria Aparecida dos Santos é parceira de Tereza nos trabalhos no campo e na panificação. Para ela, a lavoura é sua raiz. “Meus pais eram agricultores, eu sou agricultora, e to vivendo aqui, minha raiz está aqui,” comenta.

Sobre a agroecologia, Maria dos Santos concorda que é um trabalho difícil, mas compensa o resultado. “É sofrida a luta da gente, por outro lado é um prazer enorme você saber que o que está consumindo ali está te fazendo o bem, mas precisamos de mais apoio,” conta.
Como mulher, ela espera mais valorização da sociedade. “De uma época pra cá as mulheres estão sendo mais valorizadas, mas ainda é pouco para as mulheres agricultoras. Tem que ter mais apoio pra facilitar, porque o serviço já é pesado, não chegamos no nosso objetivo ainda,” explica.

Dificuldades 
Tereza do Santos e Maria dos Santos participam do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) Estadual, fornecendo pães e bolachas à escolas do município de Irati. Ano passado produziam, em conjunto com mais três mulheres, 200 kg de pão e 6 kg de bolacha. Esse ano, no entanto, enfrentam dificuldades, só continuando viável a produção de bolachas, pois o preço do pão, segundo Tereza, está muito baixo.
A partir da Associação dos Grupos de Agricultura Ecológica São Francisco de Assis (ASSIS), Tereza e as outras mulheres também produzem alimentos que são vendidos para as escolas. Mas existem dificuldades nas vendas, em função do transporte. Ano passado, conta Tereza, muitas vezes tiraram dinheiro do próprio bolso para manter o fornecimento. Além do custo do transporte ser alto, nem sempre a qualidade é boa, o que pode prejudicar os alimentos, ou seja, do caminho da roça de Tereza até as escolas, os alimentos sofrem diversos danos que acabam tornando-os impróprios para o consumo.

Projeto 
O técnico assessor em agroecologia contratado pela Assis, Ari Gomes, explica que o transporte é uma demanda antiga das famílias, e que havia dificuldades em acessar o poder público para resolver tal questão.

  “O transporte é uma demanda que já ocorre há bastante tempo, o que vinha sendo reivindicado para as famílias,” diz, explicando que para elas é difícil cuidar de todo o processo. “É bastante dificultoso pras famílias participar de todo o processo de produção, político e logístico, então elas estão mais focadas na produção, na base, na propriedade, e pra elas é difícil de perder uma parte do tempo articulando esse tipo de coisa,” conta Ari Gomes. No entanto, na última sexta-feira (28), as agricultoras, juntamente com os técnicos da Assis, puderam entregar diretamente para o secretário da agricultura de Irati, Cláudio Ramos, um projeto de transporte para viabilizar a entrega dos alimentos produzidos pela comunidade Arroio Grande. A expectativa é que o município auxilie com o transporte, para que haja uma margem de lucro real para as famílias.