Jornal da Massa completa quatro anos discutindo a política paranaense na TV

O programa é acalorado pelas opiniões divergentes de seus participantes: os jornalistas Paulo Martins e Ruth Bolognese, o advogado Ogier Buck e o âncora Denian Couto. Em entrevista ao Hoje _DNA0141 (3)Centro Sul, Couto afirma que a diferença de ideais políticos faz com que o programa tenha sentido. “Não teria porque termos apresentadores com a mesma opinião”, comenta.
O jornal tem viés político e os apresentadores não escondem suas opiniões, pelo contrário, as expõem para fomentar o debate e para que os telespectadores possam formar a sua própria opinião sobre a política paranaense. Essa é a premissa do Jornal da Massa, que completou quatro anos no último dia 10.
O programa é exibido pela Rede Massa, de segunda a sexta, das 7 às 7h30 da manhã para todo o Paraná, e  até as 8h00 para Curitiba e região metropolitana.  Na região Centro Sul, os telespectadores recebem nesta meia hora de diferença um programa gerado em Francisco Beltrão, com notícias nada condizentes com a realidade regional. A exibição do Jornal da Massa na íntegra para os municípios do Centro Sul seria mais aprazível e coerente.
O programa

O Jornal da Massa foi concebido pelos diretores da Rede Massa com a finalidade de suprir uma lacuna aberta na televisão paranaense: a opinião sobre política. Denian Couto afirma que até hoje não se faz nenhum programa no mesmo estilo no Estado. “Essa formatação com quatro pessoas de pensamentos diferentes foi escolhida para propiciar um melhor debate”, explicou.
Couto já apresentava um programa no mesmo horário pela Rede Massa. Aliás, o programa tinha até o mesmo nome, mas era um jornal informativo comum. “Eu já tinha intimidade com o horário das sete da manhã, um público consolidado e fui chamado para ser âncora desse novo projeto e aceitei na hora”, diz o apresentador.
Já em ralação à escolha dos outros comentaristas, Couto fala que a experiência e conhecimento foram fundamentais, mas ainda mais importante é o fato de todos terem opiniões diferentes sobre a política e a economia. Segundo ele, a Rede Massa teve o cuidado de escolher pessoas que tivessem opiniões divergentes para que o programa pudesse surtir o efeito desejado.
O fato dos comentaristas “dificilmente concordarem” sobre os temas é, para Couto, um fator preponderante para que o telespectador possa formar a sua própria opinião. Segundo ele, é muito comum que as pessoas concordem com os comentaristas de acordo com o tema. “Às vezes alguém se identifica com o meu ponto de vista em relação a um assunto e em outro concorde com o Paulo, por exemplo. As pessoas juntam as idéias para formar sua própria opinião”, aponta Couto.
Quem já assistiu o Jornal da Massa, sabe que muitas vezes os comentaristas entram em combates filosóficos e em alguns momentos até brigam no ar por conta de suas visões políticas. Quando questionado sobre a mediação desta situação, Couto garante que não tem dificuldade principalmente por todos eles serem amigos. De acordo com o ancora, aquela briga que acontece no ar acaba quando o programa termina. “Nós sabemos que ninguém é dono da razão e respeitamos os nossos colegas. Nós sermos ideologicamente diferentes não quer dizer que somos inimigos”, afirma.
Há algum tempo, por um período de apenas uma semana, o Jornal da Massa tentou voltar com o formato de jornal informativo. Porém, a idéia não agradou e logo o programa voltou ao seu formato de opinião. Denian Couto diz que a emissora achava que o formato opinativo poderia estar “esgotado”. “O telespectador queria o programa como ele era. Foi importante isso ter acontecido, pois nos deu um novo fôlego e hoje há a compreensão de que o jornal é absolutamente consolidado na televisão do Paraná”, diz o âncora. Os números apontam que, de fato, o programa tem grande audiência no Estado. No oeste, por exemplo, o Jornal da Massa é líder absoluto no horário e nas outras regiões do Paraná é o segundo colocado.
As desavenças com figuras políticas do estado são comuns, segundo Couto. Isso, porém, não desagrada ao apresentador, pois demonstra que o programa está cumprindo seu papel. Ele diz saber que o trabalho está sendo bem feito quando todos os lados reclamam. Apesar disso, atualmente não corre nenhum processo contra o programa. Couto diz que várias representações foram apresentadas contra o Jornal da Massa, mas todas consideradas improcedentes pela Justiça. Para ele, os políticos do Paraná se acostumaram ao formato do programa. “Até porque a crítica que a gente faz não é pessoal. Quem assume um cargo público tem que estar aberto a críticas”, diz.

Esquerda

_DNA0032Ruth Bolognese é contraponto da esquerda no programa. Aliás, ela confirma que tem uma vivência maior com a esquerda tradicional e que sua participação traz um “olhar mais direto e lúcido sobre os assuntos”. A comentarista diz que o programa é muito importante para que as pessoas aprendam a expor sua opinião sem medo. “Hoje as pessoas têm receio de apontar suas visões por medo de estarem erradas”, aponta.
Ela ainda conta que, para ela, um dos momentos mais polêmicos do programa foi quando seu colega Ogier Buck fez elogios ao militarismo brasileiro. “Eu exagerei com ele, mas eu vivi a ditadura e acabei perdendo a cabeça. Mas não me arrependo”, brinca.

 

 

Direita

_DNA0063Já Paulo Martins confirma que é quem traz a visão política de direita ao programa. O jornalista define essa linha de pensamento como um conservadorismo nas tradições, mas com um ideal de liberalismo econômico. “É uma linha de pensamento que é importante para fazer a tensão democrática, pois existe uma massa que pensa assim, mas que não se vê representada na mídia”, afirma.
Para ele, um dos temas mais polêmicos discutidos no programa é a redução da maioridade penal. “Isso mexe com todo mundo e a sociedade dá claros sinais que isso precisa ser revisto”, afirma.

 

Experiência

_DNA0040Por fim, Ogier Buck comenta que sua participação traz uma visão experiente ao Jornal da Massa. O advogado já           trabalhou em campanhas presidenciais, campanhas para o governo do Paraná e sempre atuou como comunicador. “Eu tenho muita vivência na área política e eu contribuo para trazer essa visão mais experiente ao programa”, afirma.
Buck diz que o momento que o mais incomodou enquanto comentarista do programa foi durante as eleições para prefeito de Curitiba. Segundo ele, o atual prefeito, então candidato, Gustavo Freut entrou com liminar impedindo que os comentaristas do Jornal da Massa dessem suas opiniões. Logo em seguida, porém, houve determinação derrubando a liminar. “Me senti censurado”, finaliza.

 

Texto: Guilherme Capello e Ciro Ivatiuk
Fotos: Divulgação