"É preciso ter sangue forte, pois nessa profissão a gente vê de tudo"


Profissão: Repórter Policial

Tadeu Stefaniak
Muitos autores de livros didáticos de jornalismo afirmam que por lidar com crime e criminosos, muitas vezes de alta periculosidade, o Jornalismo Policial é uma especialização de alto risco para os profissionais, principalmente os repórteres que vão às ruas e se expõem aos criminosos. Além dos próprios bandidos, o jornalista desta área pode sofrer ainda retaliações ou ameaças de policiais corruptos.



Tadeu Stefaniak, 57 anos, atua na elaboração de reportagens policiais para a Rádio Najuá de Irati e conta como é o dia-a-dia na profissão.  “Para mim, é repassar as informações, que acontecem em Irati e toda sua região, com maiores números de detalhes possíveis, porque o ouvinte quer saber tudo: quem, como, onde, quando, o quê e por quê aconteceu determinado fato. Muitas vezes eles querem que a gente dê nomes aos ‘bois’, mas por várias circunstâncias nem sempre é possível”.

Como já trabalhou em emissoras de rádios de várias cidades, garante que carrega uma bagagem vasta e carrega muitas histórias e lembranças, e claro, algumas ruins e outras boas. Um dos fatos que relembra é já ter sofrido ameaças devido a sua profissão. “Não foi em Irati que aconteceu, até porque aqui nunca aconteceu isso, foi em outra cidade, e faz muitos anos. A emissora que eu trabalhava na época, há muitos anos, era de um político, que  já tinha sido prefeito da cidade. Daí, era ele quem me passava as matérias para eu comentar no ar, falando mal do atual prefeito e criticando a gestão dele. Foi aí então, que surgiram as ameaças pelo telefone, que eram frequentes. Mas, graças a Deus, nada de ruim aconteceu comigo e nem com minha família. Porém, quem trabalha no ramo sabe que sempre haverá esse risco”, expõe.

Tadeu entrevista o Major Taborda
Tadeu revela que não tem medo de trabalhar com o jornalismo policial porque está sempre à procura da informação verdadeira. “Eu apuro os fatos e não falo nada que não seja verdade. Todo dia quando chego à rádio, minutos antes de eu entrar no ar, recebo e-mails da Polícia Militar com relatórios, e também tenho o costume de visitar aproximadamente 15 sites confiáveis de notícias para levar ao meu público a melhor informação e com qualidade”, explica.

Ele também comenta a diferença do Jornalismo Policial em relações as outras linhas editoriais. “No Jornalismo Policial devemos ter sangue frio para cobrir os acidentes, assassinatos, brigas... E também outro ponto diferente que eu acho, é que, por exemplo, quando um casal briga, e o fato aconteceu hoje à tarde, provavelmente eu daria a informação no dia seguinte, só que durante todo esse intervalo de tempo, o casal que brigou foi para a delegacia e vai responder por seu ato, é claro, porém, corro o risco deles já terem feito as pazes... E daí você vai dar o nome na rádio no outro dia, é uma coisa complicada, e é aí que pode haver ameaças e brigas contra o repórter, perante a situação. É bem complicado, mesmo. Vivemos com riscos, mas como necessito do meu emprego para sobreviver, preciso trabalhar, então estou aí na luta. Amo o que faço, tenho dedicação no trabalho e sinceramente acredito que é preciso ter sangue forte, pois nessa profissão a gente vê de tudo”.

Segundo Tadeu, algumas pessoas criticam seu trabalho, porque, muitas vezes, acaba expondo nomes e famílias. Porém o repórter destaca que só divulga quando é permitido. “Se a gente pudesse divulgar mais do que a gente pode, seria bom. Por exemplo, aconteceu um roubo, e a pessoa presa é meu vizinho. E eu divulguei isso. Mas, muitas vezes eu não posso divulgar o nome deles, porém, tem vezes que sim. E se eu não divulgar, os outros vizinhos não vão saber quem é. As vezes as pessoas estão residindo próximas de ladrões, assassinos, traficantes, pedófilos e nem sabem. E quando não posso divulgar nomes, isso pode ser prejudicial a todos, que não vão estar conscientes das coisas. E quando for pra divulgar nomes, e eu puder fazer isso, eu vou divulgar sim, até porque isso serve como alerta para as pessoas. Então eu acho que isso podia mudar, e que a gente poderia ir mais a fundo na divulgação das notícias”, enfatiza.

Para finalizar, Tadeu conta que antigamente a divulgação de nomes e de informações eram mais frequentes e, por isso, já enfrentou muitos problemas. “Tiveram muitas pessoas que tentaram interpelar, tanto eu, quanto a emissora. Solicitavam as gravações para que fossemos interpelados judicialmente. Hoje, trabalhando na Rádio Najuá, não estou enfrentando problemas quanto a isso, era mais no passado mesmo” finaliza.

Polícia e imprensa
Com 17 anos de serviços prestados à Polícia Militar do Paraná, a 2º Tenente Gisleia Aparecida Ferreira tem como uma das suas principais funções atualmente,  ser Oficial de Comunicação Social da 8ª CIPM.

 Gisleia Aparecida Ferreira
Conforme Gisleia, o Jornalismo Policial é aquele que informa à população sobre segurança pública. Pode ser na área da Polícia Militar, Polícia Civil ou Científica.“É pela maneira informativa à população que o Jornalismo Policial é importante. Por exemplo, informamos para não andarem sozinhos após certa hora, em determinados locais. Outro exemplo, informamos características de golpistas (estelionatários) e também como agem. As pessoas devem ouvir esta notícia e internalizá-la, como forma de não serem vítimas. Agora, eu discordo do Jornalismo Policial sensacionalista. Aquele que humilha tanto a vítima quanto o detido, que faz brincadeiras de mau gosto com as ocorrências e que quer chamar a atenção apenas pensando em ibope. Temos que ter todo cuidado do mundo ao revelar uma tragédia à população, pois podem ter familiares que ainda não sabem do ocorrido e vir a ter o contato primeiro pela mídia, e de maneira exploratória e insensível. Com a ascensão da mídia virtual, por meio das redes sociais ou páginas da imprensa, as notícias chegam on-line. Aí é que está a questão ética do jornalista. Pesar bem prós e contras antes da publicação”, observa.

Gisleia mostra ter muitos contatos com a imprensa regional e estadual. Ela diz que elabora relatório diário de ocorrências e envia aos órgãos cadastrados para divulgação. Também, quando surge ocorrência relevante, ou alguma notícia institucional, faz uma nota para a imprensa.


“As entrevistas dos policiais, todas têm que passar pelo setor de Comunicação Social para aprovação. Temos um cuidado especial em não divulgar nomes, apelidos, endereços, que identifiquem presos ou vítimas. É uma política da Polícia Militar do Paraná, em que todos os Batalhões também seguem este protocolo. Em alguns casos, não divulgamos imagens e identificações dos detidos, observando o princípio da presunção da inocência, pois, ao final do processo ele pode ser considerado inocente, e daí não temos como corrigir a divulgação passada e a exposição negativa ao público. Em alguns casos específicos,  com criteriosa análise, resolvemos de divulgar algum dado identificativo, pois é possível que o autor tenha cometido outros delitos e precisa desta identificação para que possíveis vítimas o reconheçam. Mas são exceções. As notas de imprensa que assino, na maioria das vezes são publicadas como as envio. E por elas sou responsável. Porém, se quem a recebeu, resolve de modificá-la, aí a responsabilidade passa para esta pessoa. Se houver uma ação judicial por dano à imagem, quem modificou a nota é quem vai responder ao processo”, explica.

Jorge Luiz Wolker
Segundo Gisleia, a Polícia Militar na região se dá muito bem com a imprensa. “Conhecemos a grande maioria dos repórteres policiais pessoalmente, e sabemos das suas qualidades. Só temos a agradecer a parceria com a imprensa escrita, falada, digital, e dizer que estamos sempre à disposição para tirar dúvidas, para repassar informações. Agradecemos a maneira amigável com que somos tratados, e dizer que os consideramos nossos parceiros, pois jamais tivemos situações desagradáveis envolvendo jornalistas e policiais na nossa região”, finaliza.

O delegado da 41ª Delegacia Regional de Polícia Civil de Irati, Jorge Luiz Wolker, acredita que o Jornalismo Policial é muito importante, porque é a oportunidade de mostrar para todos,informações e detalhes sobre o perigo na vida social, alertando a todos que estiverem recebendo as informações. “Eu sempre vi o trabalho da mídia como senado muito interessante para as pessoas. E na minha opinião, não vejo perigo em  trabalhar como jornalista dessa área, pois o trabalho da polícia é bem mais perigoso”.

Texto: Thaís Siqueira/Hoje Centro Sul
Fotos: Thaís Siqueira/Hoje Centro Sul e arquivo Hoje Centro Sul