COLUNA: Saúde Mental & Psicanálise - Dezembro de 2020
Saúde mental no isolamento
Quando apareceram as notícias de que a pandemia do coronavírus havia chegado ao Brasil, rapidamente as redes sociais se encheram de opiniões e conversas sobre o tema. Algumas pessoas não sabiam muito bem o que pensar. Outras tinham uma opinião mais formada. Quando se trata de fatos de tamanha proporção, precisamos de um tempo para assimilar o que acontece.
Com o passar dos meses, fomos nos adaptando à situação e aos cuidados necessários frente à pandemia. As realidades das pessoas são as mais diversas: há quem continue trabalhando fora de casa, há quem trabalhe de forma remota, há quem esteja estudando à distância. Há aqueles que acabam saindo mais, e aqueles que ficam em pleno isolamento. Sendo assim, as formas de se pensar em saúde mental na pandemia são muitas, visto que, levando em conta as diversas formas de se viver, saúde pode significar algo diferente para cada pessoa. Mas, alguns pontos relacionados ao isolamento na pandemia têm aparecido com bastante frequência nas redes sociais e nas falas das pessoas:
Cobrança por produtividade - Muitos relatam dificuldade em produzir durante a quarentena, seja por uma exigência de outros ou de si mesmo. Muitas pessoas passaram a ter mais trabalho para ser feito devido às condições do isolamento. Porém, não há só uma exigência de produtividade em relação ao trabalho, mas também ao lazer, ao estudo, à leitura, às mais diversas atividades. Outras pessoas, com a tendência de isolamento, passaram a ter mais tempo livre, e, por conta disso, deparar-se com as cobranças sobre como utilizar esse tempo. Mas, simultaneamente, aparece também a falta de vontade de realizar as atividades.
Tempo ocioso - Parece haver uma desvalorização do tempo ocioso. Quando as pessoas possuem um tempo livre, muitas vezes relatam a incapacidade de se utilizar do tempo para simplesmente pensar, fantasiar ou descansar, uma vez que aparece a cobrança de produtividade o tempo todo. O tempo ocioso, porém, também serve para que possamos elaborar as situações, pensar sobre nossa vida e sobre o que temos escolhido fazer com ela. Não deixa de ser um tempo de produção, em termos psíquicos.
Deparar-se consigo mesmo - O que pode acontecer, então, é que as pessoas acabam por ter que se deparar com elas mesmas, e com questões sobre as quais talvez não estivessem pensando antes, pela falta de tempo. Muitos têm se questionado sobre as escolhas que fizeram durante a vida, e que continuam fazendo. Inclusive, os psicólogos e psicanalistas têm relatado uma maior procura por seus serviços em razão dessa situação.
Convivência familiar - Uma das situações que tem trazido dificuldade para as pessoas é a convivência familiar. Por conta do isolamento, muitas pessoas passaram a conviver um tempo maior com suas famílias, o que acaba gerando conflitos, ainda mais levando em conta o contexto da pandemia. A relação com aqueles de quem gostamos ou amamos não deixa de ser difícil.
O que fazer? Frente a essas situações, a análise ou a terapia são caminhos possíveis para se lidar com o sofrimento causado pela pandemia. Na análise, existe a oportunidade de que as pessoas se questionem sobre a forma com a qual se posicionam frente ao mundo e frente aos outros, de falar sobre o sofrimento e de realizar mudanças a partir disso. Mas, a saída que cada um vai dar para suas questões é particular, uma vez que é apenas o sujeito que pode falar por si, e saber sobre si.
Paula Benato
CRP: 08/26034
Graduação em Psicologia pela UNICENTRO
Especialização em Saúde Mental e Psicanálise pela PUC-PR
Percurso em Psicanálise
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