A equipe
multidisciplinar da Santa Casa de Irati trabalha para oferecer mais informações
aos pais dos bebês, tranquilizando-os, o que tem resultados diretos na
recuperação dos recém-nascidos
As Unidades
de Terapia Intensiva (UTI´s) costumam ser lugares muito frios, em que os
familiares dos pacientes não se sentem à vontade, nem conseguem ter acesso a
informações esclarecedoras sobre o estado de seus entes queridos. Na Santa Casa de Irati, a realidade não era
diferente, até que a equipe multidisciplinar da UTI Neonatal e da Pediatria
concluiu que era preciso fazer algo, um trabalho voltado para a humanização,
que integrasse equipe do hospital e família em prol da saúde dos bebês.
Segundo a
pediatra homeopata intensivista Neonatal da Santa Casa de Irati, Márcia
Cristina Martins, na UTI era como se houvesse uma separação entre os técnicos e
as famílias, o que era preciso acabar. “Nós não estamos separados, todos
estamos cuidando da criança, tanto a família quanto a equipe. Então essa
humanização é uma coisa muito importante, principalmente para o paciente,
porque o bebê sente que todos estão trabalhando juntos em prol dele”, explica
Márcia.
Márcia conta
que a UTI Neonatal e a Pediatria tinham problemas com relação ao convívio com
os pais. “Recebíamos queixas sobre a administração, sobre a falta de repasse de
informações, mas nós até repassávamos as informações só que não de uma forma
sistemática. Não havia uma regularidade no repasse das informações aos pais e
isso gerava certo desconforto”, relata.
Para mudar
esse quadro e estreitar os laços entre equipe médica e família, foi feita a
proposta de reuniões semanais, sempre às terças-feiras, com os funcionários. A
iniciativa trouxe resultados positivos. “A gente tinha uma visão muito
interessante de como o outro profissional estava enxergando o caso de cada
paciente”, conta Márcia.
Foram nessas
reuniões que surgiu a ideia de realizar encontros também com os pais,
acrescentando, além da visão técnica, uma visão mais afetiva sobre cada caso.
A assistente
social, Ana Claudia Andrade, explica que as reuniões com os pais acontecem
sempre nas quintas-feiras. “É nesse momento que eles tiram todas as dúvidas,
porque o ambiente da UTI é novo para os pais. Então, às vezes não é nada, mas
um aparelhinho apita e a mãe se desespera achando que é uma grande coisa, por
isso fazemos as reuniões, assim os pais ficam mais tranquilos e podem passar
essa tranquilidade para o bebê”, comenta Ana.
Ana ressalta
que os encontros tentam suavizar a permanência das mães e familiares no
Hospital, tornando o momento mais agradável e tranquilo, o que favorece a
recuperação do bebê e diminui o tempo de permanência do mesmo na UTI.
Também há
casos em que a mãe não pode acompanhar o bebê, para amenizar a preocupação, a
equipe da UTI Neonatal e da Pediatria se dirige até a mãe para mantê-la
tranquila. “Nós tivemos um caso de um parto onde o bebê foi para a UTI Neonatal
e a mãe para a UTI Adulto. No dia da reunião com os pais, nós fizemos a reunião
e depois toda a equipe se dirigiu até a mãe para explicar a situação do bebê”,
lembra a assistente social.
Salete Vieira
de Melo é a enfermeira coordenadora da UTI Neonatal e afirma que há uma
participação e uma integração muito grande entre todos. “A gente até chora
junto e as reuniões nunca falham, se é um dia meio apurado a gente muda o
horário, mas nunca deixa de fazer e se atrasa um pouquinho os pais já vem
perguntar. Todos já estão adaptados a essa rotina”, comenta a enfermeira.
Eledir Alves
Ferreira é do município de Candói e está com a filha internada na UTI Neonatal
da Santa casa de Irati há dois meses. “É claro que estou com saudade de casa e
dos meus outros filhos, mas até cheguei a acostumar aqui, não é um clima pesado
de hospital, eu converso com os outros pais com a equipe e isso é ótimo para
todos”, conta.
Enquanto a
filha está na UTI esperando ganhar mais peso para poder ir para casa, Eledir
fica na Casa de Apoio e afirma que lá também é muito bem tratada. “Eu acho que
nunca vi em outro lugar uma equipe que cuida tão bem dos pacientes. A minha
filha é muito bem cuidada e nas reuniões com os pais eles explicam tudo o que o
bebê tem e o que é preciso fazer”, ressalta Eledir.
A enfermeira
Salete ressalta que a reunião é tão importante para os pais quanto para a
equipe. “Como nós nos revezamos e não estamos aqui o tempo todo, essa reunião é
muito importante, pois todos ficamos a par da situação de cada paciente”, comenta.
Para a médica
Márcia, a iniciativa tem sido uma ótima experiência. “Foi bom tanto para a
equipe, que não vê mais a mãe como alguém que traz críticas, e bom para a
família que não nos vê mais como alguém que chega e invade seu filho. Nós
pudemos ampliar a nossa visão sobre o outro e é um trabalho que realmente nos
dá muito prazer. É uma experiência que deveria ser feita em todo lugar”,
conclui Márcia.
Equipe multidisciplinar
A equipe
multidisciplinar da UTI Neonatal e da Pediatria da Santa Casa de Irati é
formada por médico, enfermeiros, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, farmacêutico,
nutricionista, psicólogo e assistente social. Ao todo a equipe é composta por
nove pessoas, além das técnicas de enfermagem.
Como exemplo
do trabalho de humanização realizado pela equipe multidisciplinar da UTI
Neonatal e da Pediatria da Santa Casa de Irati, na última sexta-feira, 21, uma
mãe que está com o bebê internado há seis meses recebeu, junto com seus
familiares, uma bela surpresa.
Por não poder
se afastar de seu bebê, Solange Aparecida do Rocio tem muita dificuldade em
conviver com a família que reside em Imbituva, principalmente com o filho de sete
anos, Matheus.
Solange vai
para casa a cada 15 dias, onde permanece por apenas um ou dois dias. “É muito
difícil lidar com a separação, quando estou no hospital penso no Matheus que
sempre pergunta por telefone quando eu volto para casa com o irmãozinho, e se
estou lá, fico pensando no Miguel aqui, ligado nos aparelhos”, desabafa a mãe.
O bebê de
Solange, Miguel, passou 28 dias na UTI Neonatal da Santa Casa de Irati, foi
transferido para o Hospital Pequeno Príncipe em Curitiba, onde passou dois
meses, e desde então está internado na Pediatria da Santa Casa de Irati.
São seis
meses de luta, longe da família. Miguel não consegue sair do respirador devido
a uma insuficiência respiratória, mas o caso do bebê ainda não tem um
diagnóstico. “Isso é o que torna tudo mais difícil, pois eu não sei quanto tempo
essa minha história vai durar” relata Solange.
Pensando em
oferecer alguns momentos de alegria para a família, o grupo de humanização da
Santa Casa de Irati decidiu fazer uma festa surpresa para o filho mais velho de
Solange, que completou sete anos no dia 21 de agosto.
Na data, a
equipe do hospital buscou o Matheus em Imbituva, junto com seu pai e a
madrinha, para que o menino pudesse visitar o irmão caçula. Mal sabia o Matheus
que na Pediatria estava preparada uma sala com balões, docinhos, salgadinhos,
refrigerante e bolo, tudo para que ele pudesse comemorar seus sete anos em
família.
“Eu fiquei
muito feliz e agradecida quando soube da festa que a equipe estava preparando
para o Matheus”, disse Solange. “A equipe médica aqui da Santa Casa é muito boa,
o apoio deles é muito importante. Se não fosse a fé que eu tenho e se Deus não
tivesse colocado tantas pessoas boas aqui, eu não teria aguentado”, diz a mãe,
emocionada.
"O ambiente
da UTI é novo para os pais. Então, às vezes não é nada, mas um aparelhinho
apita e a mãe se desespera achando que é uma grande coisa, por isso fazemos as
reuniões, assim os pais ficam mais tranquilos e podem passar essa tranquilidade
par ao bebê”, conta a assistente social
Ana Claudia.
Texto e
fotos: Ana Paula Schreider