(Des)conectados: Mais da metade da população não utiliza redes sociais




A falsa premissa de que hoje em dia todos vivem conectados pode levar a crer que através das redes sociais é possível informar a população dos acontecimentos que marcam uma região, uma cidade ou um bairro. Entretanto, pesquisas atuais revelam que no Brasil menos da metade da população utiliza as redes sociais (47% dos brasileiros) e que a confiabilidade das informações neste meio é tida como duvidosa por 71% da população.
Apesar da supervalorização das mídias sociais por alguns segmentos, essa não é a realidade da maioria, especialmente dos moradores das localidades da área rural que, nos municípios da região Centro Sul, representam parcela populacional significativa. Valdineia Cevalde mora em Gonçalves Júnior, interior de Irati, e deu um exemplo de como, muitas vezes, as notícias relevantes divulgadas em redes sociais não chegam a mais da metade da população.
A Prefeitura Municipal de Irati publicou no Facebook um pronunciamento oficial do prefeito Odilon Burgath sobre a polêmica da multa que o município supostamente pagaria pela realização do 27º Rodeio Crioulo de Integração de Irati, realizado em julho deste ano. “A única coisa que eu ouvi lá no rodeio, do pessoal que estava acampando lá, é que a prefeitura teria que pagar R$ 20 mil por dia senão o rodeio parava, não vi nenhum comentário do prefeito na internet”, explicou Valdineia.
Marilsa Lemichka mora na localidade de Linha B de Gonçalves Júnior e diz que a internet na região é muito ruim. “As notícias a gente fica sabendo pelo rádio e pelo jornal, porque a internet [rural] só pega de vez em quando”, comenta a moradora.
Segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2011, apenas 41,9% do total de residências do estado do Paraná estão conectadas à internet. Lembrando que estar conectado, não significa utilizar as redes sociais.
Ainda segundo Pnad, o Paraná também está entre os três estados com maior número de pessoas que não utilizam a internet por não acharem necessário ou porque não querem, sendo esse percentual representado por 26,6% da população paranaense.
É o caso do servidor público federal, funcionário de carreira do Tribunal Regional do Trabalho e presidente do Samuara Clube de Campo, Fernando Cristiano Wisnieswski. Ele não sente necessidade em utilizar as redes sociais. “Eu uso o celular e o email, através deles consigo receber todas as informações e contatar as pessoas que preciso, esses recursos suprem minhas necessidade e não sinto falta de estar conectado às redes sociais [Facebook]”, explica.
Fernando ainda comenta que a pressão da família e dos amigos é grande para que ele se conecte as redes. “Eu não sinto vontade de ter rede social, para me informar eu costumo ler jornal, revista e também entro em site de notícias”. O servidor acredita que as redes sociais mais desinformam as pessoas do que as mantém informadas. “É um volume muito grande de informações que são jogadas nas redes sociais todos os dias, acho que isso atrapalha, distrai e tira a atenção de outras atividades mais importantes”, diz.
A estudante de 15 anos, Rafaela Gadens, acredita que as redes sociais são uma exposição desnecessária da vida das pessoas. “Eu só tenho whatsapp, mas é só porque hoje em dia até médico você marca por ali, mas se fosse possível nem isso eu teria. Meus amigos insistem, porque sempre falam das coisas que compartilham e eu fico por fora, mas não sinto nenhuma falta disso”, comenta a estudante.
O prefeito de Teixeira Soares Ivanor Muller também não faz parte das redes sociais.  Ele afirma que o povo do interior não fica desassistido e conta que sempre está recebendo informações sobre o que acontece no município. “No meu caso fica complicado ter Facebook. Mesmo assim, nós sempre estamos divulgando as atividades através do jornal que vai para as escolas, através da rádio, porque são os meios que o povo mais tem acesso nas cidades do interior”, explica.
Pesquisas
Apesar das redes sociais terem se tornado o grande alvo do marketing digital, dos meios de comunicação e até mesmo de órgãos oficiais, como prefeituras e suas secretarias, neste ano, a agência de marketing social We are Social divulgou o relatório Digital, Social e Mobile de 2015 que mostra as estatísticas completas do uso da internet em 2014 e aponta que menos da metade da população brasileira utiliza as redes sociais.
O estudo tem uma parte inteira dedicada à internet no Brasil, que é o terceiro país no mundo em que as pessoas passam mais tempo na internet, ficando atrás apenas das Filipinas e Tailândia.  Dos 204 milhões de habitantes do Brasil 54% são usuários ativos da internet e 47% utilizam as redes sociais. A estimativa supera a média mundial, que aponta 29% da população em mídias sociais.
Entretanto, uma pesquisa mais detalhada sobre os meios de comunicação no nosso país revela que as mídias tradicionais (televisão, rádio e jornal impresso) são preferidas do público para obtenção de informações com credibilidade.
A Pesquisa Brasileira de Mídia (PBM) 2015, realizada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, ocorreu entre os dias 5 e 22 de novembro de 2014, por meio de entrevistas domiciliares pessoais face a face, quando 300 entrevistadores aplicaram 85 perguntas a 18.312 pessoas maiores de 16 anos, em 848 municípios brasileiros.
A televisão segue como meio de comunicação predominante no Brasil, seguido do rádio, internet e jornal impresso. Entretanto, os jornais continuam sendo os veículos mais confiáveis quando o assunto é adquirir informação. Já as redes sociais, sites e blogs são considerados os menos confiáveis.
APBM apontou que o percentual de paranaenses que utilizam a internet diariamente é 42% e o número dos que nunca a utilizam é de 45%. Quando questionados sobre as razões pelas quais usufruem a internet, 67% responderam que usam como entretenimento, mas também para saber das notícias. Já 43% responderam que não usam a internet por falta de interesse.
Quanto ao jornal impresso, 58% dos entrevistados confiam muito ou sempre nas notícias veiculadas por esse meio. Em relação às novas mídias, reina a desconfiança. 71% dos entrevistados disserem confiar pouco ou nada nas notícias veiculadas nas redes sociais, 69%  não acreditam pouco nos blogs e  67% nos sites.


Ana Paula Shereider/Hoje Centro Sul