Pesquisa afirma que comportamento dos pais influencia no rendimento escolar dos filhos

Educar os filhos não é uma tarefa fácil, é complicado para os pais lidar com o comportamento dos pequenos e muitas vezes com o próprio comportamento. Por essa falta de experiência, os pais erram algumas vezes na hora de aplicar regras e disciplina e influenciam negativamente os filhos, prejudicando seu desenvolvimento escolar.

Arquivo/ Hoje Centro Sul
É por esse motivo que o artigo “Relações entre práticas educativas parentais e rendimento acadêmico em crianças”, elaborado pelas psicólogas Vanessa Aparecida Hecavei, psicóloga clínica, e Caroline Guisantes de Salvo Toni, doutora em Psicologia Clínica e professora da Universidade Estadual Centro-Oeste (Unicentro), foi muito além da pesquisa acadêmica e está ajudando grupos de pais, orientando-os em como educar seus filhos para que os mesmos tenham melhor rendimento escolar e comportamentos adequados.

O estudo foi realizado em 2013, quando Vanessa ainda era acadêmica do curso de psicologia da Unicentro, os resultados foram avaliados e finalizados em 2014.

O objetivo foi analisar a correlação entre estilos parentais e o desempenho acadêmico das crianças. Desta forma, 203 crianças com idade entre oito e onze anos, de ambos os sexos, que cursavam entre 3° e 5° ano de duas escolas municipais de Irati, participaram da pesquisa.

As notas escolares das crianças nas disciplinas de matemática e português foram registradas e os participantes responderam a um Inventário de Estilos Parentais (IEP). “As formas que os pais utilizam para educar seus filhos se chamam práticas educativas parentais, são formas de instruir e educar. Temos sete estilos de práticas parentais, dois positivos e cinco negativos. As positivas transmitem amor, carinho e colaboram para os comportamentos pró-sociais, já as práticas negativas são geradoras de conflito entre os pais e os filhos e desencadeiam estresse, desconfiança, abuso, o que leva a comportamentos anti-sociais”, explica a psicóloga Vanessa.

As práticas positivas são: monitoria positiva (conjunto de práticas que envolvem afeto e atenção dos pais em relação ao filho) e comportamento moral (transmissão de valores). Já as negativas envolvem: abuso físico, disciplina relaxada (quando os pais estabelecem regras e não cumprem), monitoria negativa (supervisão estressante, quando o pai superprotege o filho), negligência (ausência dos pais) e punição inconsistente (quando as regras variam dependendo do humor dos pais).

A partir dessas práticas surgiram muitas pesquisas, por isso as psicólogas decidiram fazer o estudo também em Irati e constataram que a influência é verdadeira. “As crianças com alto rendimento escolar apresentam pais com baixo índice de práticas negativas, da mesma forma que crianças com baixo rendimento apresentam pais com alto índice de práticas negativas”, comenta Vanessa.

A pesquisa também apontou que as mães estão mais presentes nessa fase de desenvolvimento. “As crianças com altas médias relatam sua mãe com um alto nível de acompanhamento, afeto e valores morais”, diz Vanessa. Quanto a participação do pai, as práticas educativas foram relacionadas de forma negativa ao rendimento escolar. “Isso se deve porque eles estão menos presentes, mas não significa que todos os pais agem assim, alguns utilizam das práticas positivas também”, explica a psicóloga.

Reaprendendo a educar
A pesquisa das psicólogas resultou em um grupo de orientação para os pais que buscam aperfeiçoar a forma como educam os filhos. Com encontros semanais, o curso dura dois meses e os pais já conseguem alcançar resultados positivos.

Helen Jaqueline Pereira é mãe de um menino de oito anos, ela já viu algumas melhoras desde que começou o curso.“Tem coisas que não precisa nem mandar e ele já faz sozinho, meu filho é um pouco retraído, não é de conversar, quando a gente saía com ele os outros perguntavam as coisas e ele não respondia, agora ele já responde e quando ele faz isso a gente elogia, coisas mínimas que ele faz a gente sempre elogia e parabeniza”, conta.

Jaqueline afirma que ela e o esposo aprenderam a observar erros e acertos. “Uma coisa que a gente implantou foi 15 minutos dedicados só com o pai e 15 minutos só com a mãe, porque geralmente pai e mãe nunca tem um tempo só para o filho, e ele ama e isso ajudou muito na melhora dele”, diz.
Fabiola Anciutti Marconato, mãe de um menino de nove e outro de três anos, diz que está muito feliz com o resultado que obteve com os dois filhos.

“Meu filho mais velho ficava muito estressado e nós decidimos dar um caderno para que ele anotasse quando ficava irritado, na semana passada ele nem anotou nada”, conta. “Já o pequeno não dormia sozinho, toda noite ele dormia comigo e ficava aquele vai e vem de levar ele na própria cama, aí eu expliquei que ele tinha o quartinho dele junto com o irmão e ele começou a dormir sozinho”, afirma Fabiola.

A psicóloga Vanessa Hecavei conta que durante o trabalho com os pais, no grupo de apoio, diversas orientações são dadas e dúvidas são esclarecidas. “Nesses encontros são discutidas temáticas como regras e limites, como ter um melhor envolvimento com o filho, como ser exemplo para o filho, como saber dar amor e dar limites, entre vários outros temas importantes para o desenvolvimento da criança”, explica a psicóloga Vanessa.

Ana Paula Schreider/Hoje Centro Sul