Jornadas de Agroecologia: projeto popular para a agricultura ocorrerá em Irati

Em preparação para o evento, que acontece no mês de junho, Seminário reúne diversas organizações para a discussão de políticas públicas sobre agrobiodiversidade

Priscila Monnerat
Irati sediará um dos eventos mais relevantes sobre agroecologia do país: a Jornada de Agroecologia. Em sua 14ª edição, a Jornada acontecerá nos dias 24 a 27 de junho, tendo a participação massiva de agricultores, estudantes, técnicos, pesquisadores e educadores de instituições de assistência técnica, pesquisa e ensino, organizações não governamentais e movimentos sociais do campo e da cidade a nível estadual e nacional. O público médio do evento costuma ser de 4 mil pessoas.
Além de ser um espaço de politização do debate sobre a agroecologia, é também um momento de troca de experiências, de alimentos agroecológicos e de fortalecimento na construção de um projeto popular e soberano para a agricultura. Jakeline Pivato, da equipe de coordenação da Jornada aponta que “o evento leva o nome de Jornada porque é contínuo e permanente, os conhecimentos apreendidos não se limitam aos dias que o encontro acontece, mas são levados para o cotidiano dos participantes, dos agricultores principalmente, onde são aplicados, e apresentados os resultados e descobertas no ano seguinte.”

A primeira Jornada de Agroecologia ocorreu em 2002, em Ponta Grossa, e de lá pra cá já esteve presente em cidades como Cascavel, Francisco Beltrão, Londrina e Maringá, sempre com o lema: Cuidando da Terra, Cultivando Biodiversidade, Colhendo Soberania Alimentar – Terra Livre de Transgênicos e sem Agrotóxicos. Muitos dos movimentos sociais do campo e as ONG´s envolvidas promovem, desde a década de 80, a luta pela terra, pela reforma agrária e pela agroecologia, tornando o evento um forte espaço de discussão e fortalecimento de programas de governo e políticas públicas, como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), que visam melhoras nas condições de vida e produção dos agricultores familiares e camponeses.

Preparação para a Jornada: debates necessários
Nos últimos dias 07 e 08 de maio ocorreu um seminário de preparação para a Jornada “O manejo sustentado da agrobiodiversidade - Experiências no Paraná”, na sede da Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA), Assentamento Contestado, Lapa, Paraná. Com o objetivo de debater políticas públicas, identificar experiências de manejo no estado, promover o intercâmbio de informações entre organizações camponesas, de assessoria e instituições públicas, e aprofundar o debate quanto à conformação de uma rede de biodiversidade/agrobiodiversidade/sementes, o seminário contou com a presença de diversos grupos e organizações, entre elas a Terra de Direitos (Organização de Direitos Humanos), o Centro Paranaense de Referência em Agroecologia (CPRA), Associação Brasileira de Amparo à Infância (ABAI), Projeto Flora (Cultivando Agrobiodiversidade), Rede Ecovida de Agroecologia, Coletivo Triunfo, Projeto Entre Rios, Cáritas Brasileira, Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia – Colombo (AOPA), Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural (ASSESSOAR), entre outros.

Os projetos de lei e legislações sobre biodiversidade e agrobiodiversidade tiveram destaque nas discussões.

André Dallagnol, assessor jurídico da Terra de Direitos, fez um alerta para a tramitação do Projeto de Lei de “Acesso e Repartição de Benefícios” (PLC) 02/2015, que regulamenta o acesso ao patrimônio genético de plantas e animais nativos do Brasil e os conhecimentos tradicionais a eles associados. O PL que legaliza a biopirataria e apropriação dos conhecimentos populares tomando-os como mercadoria foi aprovado em regime de urgência, só faltando agora a sanção presidencial.
Outro ponto também discutido foi o fim da rotulagem dos transgênicos, e aprovação de variedades de milho e soja transgênicas resistentes ao herbicida 2,4-D. José Maria Tardin, integrante da coordenação da ELAA, afirma a necessidade de debater e denunciar os perigos dos agrotóxicos e transgênicos.

“A derrubada da lei de obrigatoriedade da rotulagem dos produtos que contém transgênicos impede as pessoas ao direito de saber o que está se comprando para comer e beber,” afirma Tardin, diante do fim da rotulagem de alimentos dessa procedência.

Conhecido também como “agente laranja”, dissecante usado em guerras como a do Vietnam, o herbicida 2,4-D causa diversos males à saúde. “Banido em vários países por seus efeitos mortais sobre humanos, animais e a biodiversidade, [o 2,4-D foi aprovado] para substituir o glifosato, que é outro agrotóxico que provoca câncer, mutação genética e esterilidade masculina, mas que já não dá conta de eliminar muitas plantas indesejáveis que nascem nas lavouras de soja e milho,” explica Tardin.

Daí a importância da Jornada de Agroecologia como palco para denúncias e combate às investidas dos modelos de agricultura essencialmente mercadológicos, que vêem na terra e na produção de alimentos grandes oportunidades de lucro, somente. Aliás, esse modelo nocivo à natureza remonta à déc. de 50 no Brasil, quando o Estado tutelado por grandes transnacionais produtoras de tecnologias predatórias do meio ambiente instalaram um “processo modernizador” da agricultura, com a desculpa de minimizar os problemas de fome e miséria no país. Foi a chamada “Revolução Verde”. Vê-se hoje que o prometido não aconteceu, e, além disso, o fato é que a maior parte da produção de alimentos continua na esfera da agricultura familiar e camponesa (cerca de 70%), e não nos grandes latifúndios.

Saiba Mais:
Sobre o PLC 02/2015 em: http://terradedireitos.org.br/2015/04/09/projeto-de-lei-que-regulamente-uso-da-biodiversidade-brasileira-tem-texto-base-aprovado-no-senado/
Sobre agrotóxicos: http://www.contraosagrotoxicos.org/

 Kaio Miotti