Casas vazias no Jardim das Américas intrigam a população

Moradores acreditam que quem realmente precisa de uma casa própria já deixou de pagar aluguel e mudou para o Jardim das Américas. Aqueles que estão na fila do setor de habitação estão indignados com o fato de ainda existirem de 15 a 20 imóveis desocupados

Um mês após terem sido entregues aos beneficiários, algumas casas do Jardim das Américas - conjunto habitacional com 310 casas construído através do Programa Minha Casa, Minha Vida - ainda estão vazias. As pessoas que estão na fila do programa, à espera da casa própria, questionam o fato e procuraram o jornal para expor a situação.

@Silmara Andrade/Hoje Centro Sul
Faz cinco anos que Jauri Cardoso está cadastrado no Programa Minha Casa, Minha Vida e acha injusto que alguns mutuários ainda não tenham se mudado para o conjunto. “Quem precisa mesmo não vai esperar um prazo, não vai abandonar a casa e de vez em quando ir dar uma olhada, muitos estão esperando pela casinha que o pessoal não está morando”.

Exatamente no dia em que completou um mês da entrega das moradias, em 27 de março, a equipe do Hoje Centro Sul foi verificar a ocupação das residências do Jardim das Américas e observou pelo menos cinco casas vazias, mas, segundo moradores, são aproximadamente vinte casas. “Eles colocam as cortinas pra dizer que estão morando, teve gente que já trocou de casa aqui ou trocou pelas do Conjunto Joaquim Zarpellon. Eu acho que tem muita coisa que está errada, mas é claro que têm muitas famílias que pegaram a casa porque precisam mesmo”, relata a moradora Ana*.
Ao lado da casa de outra moradora, Adriane*, uma residência está vazia. Segundo ela, uma mulher apareceu em um dia com duas crianças, limpou o imóvel e não voltou mais.

Os próprios moradores do Jardim das Américas estão indignados com a situação. “A gente vê que quem precisa mesmo, no dia em que pegou a chave já fez a mudança, veja eu pagava R$450,00 de aluguel, agora a prestação da casa é de R$36,00, com certeza tem bastante gente na fila que precisa desse benefício também”, diz Ana.

Segundo a secretária de Assistência Social de Irati, Karen Seidel, na última visita realizada, quinze residências ainda se encontravam vazias. “Nós entramos em contato com os beneficiados e eles afirmaram que ainda não tinham mudado, porque o prazo de 30 dias ainda não havia expirado”, relata.

A Secretaria de Assistência Social é responsável por acompanhar a adaptação das famílias no novo conjunto. O órgão oferece atividades como cursos e reuniões para integrar os habitantes do Jardim das Américas.

Fiscalização
O papel de fiscalização de irregularidades no local é feito pela Agência de Habitação (Agehab) da Caixa Econômica Federal de Ponta Grossa. Quando a assistência social verifica algum problema, como o caso das casas vazias, comunica o Agehab. Caso alguma irregularidade for constatada, o beneficiário está passível a perda do imóvel.

Agehab averiguará imóveis vazios
Segundo informações do Setor de Habitação da agência da Caixa Econômica Federal de Irati, os proprietários de casas do Jardim das Américas que ainda não ocuparam os imóveis serão notificados e a Agehab procurará saber quais os motivos deles ainda não terem se instalado nas novas residências. Inúmeros fatores podem impedir que uma família consiga mudar: problemas financeiros ou familiares, questões de emprego -  caso o local de trabalho seja longe do conjunto e a pessoa precise encontrar outro serviço mais próximo para então fazer a mudança -, dentre outras questões.
Sobre o prazo de 30 dias para mudança, a Agehab explica que essa medida não é obrigatória, mas sim, uma orientação que consta no contrato. As residências vazias e irregularidades comentadas por moradores do Jardim das Américas ainda precisam ser analisadas pela Agência de Habitação da Caixa Econômica Federal de Ponta Grossa . Por hora, nenhuma das denúncias está confirmada.

Cartão Minha Casa Melhor
O programa Minha Casa, Minha Vida em parceria com a Caixa Econômica Federal lançou em 2013 o programa Minha Casa Melhor. O benefício oferece crédito subsidiado de até R$ 5 mil para a compra de móveis e eletrodomésticos, a juros de 5% ao ano e prazo de pagamento em 48 meses.
Entretanto, em fevereiro de 2015, o programa foi suspenso para readequações. A Agência de Habitação explica que em condições normais o recebimento do cartão leva de 3 a 4 meses, pois é preciso pagar três prestações da casa sem atrasos. Entretanto, para os moradores do Jardim das Américas, segundo o Setor de Habitação da Caixa Econômica Federal de Irati, ainda não há previsão para o recebimento do cartão.

Responsáveis pelo setor frisam que o benefício está apenas suspenso, não foi cancelado. Todos os beneficiados do Minha Casa, Minha Vida  deverão receber o cartão Minha Casa Melhor, mas não há data definida para que isso ocorra. Moradores reclamam da situação. “Para você ter uma ideia, teve pessoas que deixaram os móveis na outra casa e se mudaram sem nada na fiúza do cartão. É uma pena, porque tem gente que está dormindo no chão, contando com a chegada do cartão”, lamenta Ana, moradora do Jardim das Américas.

* Os moradores preferiram ter suas identidades preservadas

Ana Paula Schreider/Hoje Centro Sul