Futebol americano atrai fãs do esporte na região Centro Sul do Paraná

Unicentro Knights, time iratiense de futebol americano, obteve sua primeira vitória no Campeonato Paranaense de 2015. Dirigentes e jogadores explicam as dificuldades da prática da modalidade e contam sobre as expectativas para esse ano

Kickoff, touchdown, field goal, quarterback, wide-receivers… Você pode nunca ter ouvido falar sobre esses termos, mas, provavelmente, já deve ter visto tudo isso em alguma jogada da National Football League (NFL) ou do Super Bowl na televisão. Entender as posições e jogadas do futebol americano pode parecer tarefa difícil, porém, a popularização do esporte no Brasil e na região Centro Sul do Paraná promete atrair mais apaixonados pela modalidade.


@Reinaldo Júnior/Hoje Centro Sul
 O futebol americano, na forma como conhecemos hoje, surgiu em 1867, em um desafio entre universidades americanas. Bastante popular nos Estados Unidos, atingindo audiências históricas na televisão, o esporte começa a ganhar espaço no Brasil e a conquistar cada vez mais adeptos da modalidade.

Em terras tupiniquins, o futebol americano começou a ser organizado nos anos 2000. Porém, no início, o esporte era praticado de forma amadora, sem os equipamentos de proteção necessários. Foi só em 2009 que ocorreu o primeiro campeonato nacional da modalidade com todos os equipamentos obrigatórios. Desde então, diversas organizações e equipes foram criadas. No país, a organização máxima do esporte é a Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA), que foi fundada em 2013.

 



Paraná

No Brasil, o futebol americano teve início no Paraná. O Estado possui o atual campeão brasileiro da modalidade, o Coritiba Crocodiles, que também foi o campeão de todas as edições do Campeonato Paranaense de Futebol Americano realizadas até o momento.
Em 2015, o Campeonato Paranaense iniciou sua 7ª edição e conta com a participação de oito equipes. Entre elas, está o clube de Irati, o Unicentro Knights, que participa pela segunda vez do torneio.

Futebol americano em Irati

O Unicentro Knights, uma parceria entre a Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR - campus Ponta Grossa) e Prefeitura Municipal de Irati, surgiu no início de 2014, através de um projeto de extensão do curso de Educação Física da Unicentro.

O presidente do Unicentro Knights, José Luis de Lima Okonoski, explica que, apesar da sede da equipe ficar em Irati, o clube conta com jogadores de várias cidades. “Nós temos uma equipe bem mesclada. Temos jogadores de Pato Branco, Marmeleiro, Francisco Beltrão, Dois Vizinhos, Ponta Grossa, Guarapuava, além de Irati. Esperamos que, com esse reforço, possamos formar uma equipe mais competitiva do que ano passado”, diz.

José conta que, por conta da distância entre os jogadores, existe uma grande dificuldade para realizar os treinos. “Durante a semana, cada um faz o seu físico. Nos finais de semana, o pessoal se reúne nas suas cidades e treinam entre eles. Nós só conseguimos realizar o treino geral uma vez por mês, pois é muito caro e cansativo viajar todo final de semana pra treinar”.

Atualmente, o clube possui 55 jogadores. Em 2014, entretanto, o Unicentro Knights já chegou a contar com 70 atletas. O presidente da equipe destaca que, apesar do número parecer grande, a quantidade de jogadores ainda é pequena. “Nos times profissionais dos Estados Unidos, em cada partida, eles levam de 80 a 100 jogadores pro campo. A rotatividade precisa ser grande, pois é um jogo muito cansativo”. Cada equipe joga com 11 atletas e não há limite para o número de substituições. Além disso, a cada paralisação do árbitro, o cronômetro da partida também para, por isso, alguns jogos chegam a ter até 5 horas de duração.

Em 2014, a equipe participou pela primeira vez do Campeonato Paranaense da modalidade e não venceu nenhuma partida. “Como éramos uma equipe nova, já esperávamos que fôssemos ser o saco de pancadas. Terminamos em último, mas ganhamos experiência para esse ano”, destaca o presidente do clube.

Para 2015, José espera obter melhores resultados, principalmente após a primeira vitória da história da equipe no último dia 15, contra o Norte Paraná, pelo placar de 21 a 12, no Campeonato Paranaense. “Ficamos muito felizes pelo resultado e eu quero e espero chegar entre os 4 primeiros no final do torneio”.

Ainda para 2015, o presidente do Unicentro Knights explica que pretende buscar mais recursos para a modalidade. “Nossa intenção é criar uma base para a equipe. Vamos encaminhar um projeto ao Ministério do Esporte, solicitando a Lei de Incentivo ao Esporte, para iniciar um projeto de futebol flag nas escolas. O futebol flag não tem contato físico e é a base para o futebol americano. Ainda queremos fechar outra parceria com uma igreja de Ponta Grossa, que trabalha com dependentes químicos, para que possamos ajudá-los e eles possam participar da equipe”.

Amor ao esporte

O jogador do Unicentro Knights e presidente do Sudoeste Red Feet, Ricardo Roger Schaukoski, é morador de Dois Vizinhos e, fora do campo, trabalha como técnico de informática. Segundo ele, viver do esporte no Brasil é uma tarefa complicada. “Eu não conheço ninguém no país que viva só do futebol americano. Apesar de termos uma organização que chega muito perto do profissional, a modalidade aqui ainda é amadora”, afirma.

Ele ainda destaca que conciliar trabalho, treinos e jogos acaba se tornando uma situação delicada. “Nós ficamos cansados durante a semana, mas temos que treinar durante o final de semana. Futebol americano é treino, então, se você não se dedicar, não joga. Conciliar tudo isso é muito difícil, pois não temos muito tempo e, além disso, não recebemos pra jogar. O mais difícil ainda é fazer com que a família entenda. Não é fácil. Eu só faço isso por amor ao esporte”, ressalta.
Ricardo explica que o investimento para praticar a modalidade é alto, por isso, muitas pessoas acaba desistindo dos treinos. “Cada atleta precisa desembolsar cerca de R$1.500,00 para comprar os equipamentos obrigatórios. É um valor bem alto. Muitas pessoas gostam do esporte e até querem praticar, mas ao saber do investimento, acabam desistindo da ideia”.

O center do Unicentro Knights acompanha o futebol americano há 7 anos e joga há 4. Para ele, o esporte se tornou apaixonante. “Eu sempre pratiquei atividades físicas e sempre gostei muito de esportes de contato. Uma vez, assisti uma partida de futebol americano na televisão e gostei. Vi, pesquisei e me apaixonei. A partir do momento que você começa a entender o jogo, ele se torna um esporte apaixonante”.

Ricardo ainda ressalta que, apesar de parecer um jogo violento, o futebol americano utiliza muito a estratégia. “É um jogo de guerra, onde você precisa conquistar território. Você usa a força, mas você precisa ter técnica pra, ao utilizar a força, não machucar você e nem o seu adversário. O jogo utiliza muitas variações e te dá muitas possibilidades, então, você precisa pensar bastante durante a partida”, explica.

Para o futuro, ele espera que a modalidade receba maior apoio e investimento. “Temos atletas muito bons. Creio que o Paraná continuará sendo referência para o país. Espero que o esporte se profissionalize e receba maior incentivo das autoridades”, completa.

Quebra-cabeça


Uma equipe de futebol americano conta com três times: os defensores, os atacantes e os especialistas, responsáveis por efetuar chutes e executar jogadas específicas. Por conta disso, o número de técnicos também é maior, podendo chegar até a 14 ou 15, em casos onde cada posição tenha um coordenador. 
O Unicentro Knights conta com três técnicos no elenco: o coordenador do time de especialistas, o coordenador do ataque e o coordenador da defesa, que nesse caso, também é o head coach, responsável pela organização de todas as jogadas.

O head coach e coordenador da defesa do Unicentro Knights, Michel Antunes de Oliveira, acompanha o futebol americano desde 1992 e, há 5 anos, trabalha como técnico. Ele explica que, assim como os jogadores, executa a função de treinador como hobby. “Eu trabalho há 19 anos na área de tecnologia. Moro em Curitiba e todo final de semana venho pra Irati, pra poder treinar a equipe. Eu não tenho remuneração pra trabalhar como técnico, mas, se tivesse, não pensaria duas vezes em trocar de profissão, pois é isso que eu gosto de fazer”, relata.

Michel conta que iniciou sua carreira como treinador em Dois Vizinhos e o reconhecimento do seu trabalho é a maior motivação pra prosseguir no esporte. “Eu joguei durante dois anos, porém, joguei muito pouco, sempre ficava mais no banco de reservas. Por conta disso, aprendi muito com os técnicos e, quando mudei pra Dois Vizinhos, tive a oportunidade de montar uma equipe. Hoje em dia, eu ajudo quem precisa, dando clínicas e dicas. Ter o trabalho reconhecido é o que me deixa mais feliz. É algo viciante, não dá vontade de largar”.

O head coach ainda explica que seu principal papel dentro da equipe é o de motivação. “A principal função não é nem tanto técnico, mas o de motivador, é aquele que dá o último discurso pro time, é o estrategista do time. O esporte exige muita disciplina e, como eles não recebem pra jogar, às vezes, o cansaço pode desanimar. Então, você precisa tirar a vontade de dentro deles. Para que o time funcione, todos precisam jogar juntos, sem exceção”.

Torcida

Viviane Okonoski e Daisy Renata Pabis, além de esposas de jogadores da equipe, também são torcedoras do clube. Viviane conta que começou a se interessar pelo esporte, após começar a acompanhar os jogos na televisão. “No domingo à noite, perdi o controle da TV, então, passei a assistir os jogos com ele. No início, não entendia nada, mas, depois, fui aprendendo e hoje gosto bastante”.

Daisy explica que o primeiro jogo que acompanhou o marido teve 5 horas de duração. “O primeiro jogo que eu assisti dele foi em Palmeira. Durou 5 horas e eu não via a hora de terminar. Eu sempre achava que já estava acabando e nunca terminava. Como não entendia nada, foi bem chato. Hoje em dia, depois que comecei a entender as regras e as jogadas, sempre acompanho quando posso, porque é um jogo bem interessante”.

Daisy ainda ressalta que a torcida é importante para a motivação dos atletas e conta que chega até a receber até broncas do marido. “Ele sempre me disse que não se sente motivado quando tem pouca torcida ou quando as pessoas que vão não torcem. Ele sempre reclama quando estou lá e não puxo a torcida. Então, isso é algo muito importante pra eles”.
Viviane destaca que, apesar das contusões, apoia o marido a continuar praticando a modalidade. “É o que eles gosta de fazer, não tem jeito. Dá vontade de matar ele quando ele chega machucado, mas eu apoio. Ele gosta muito quando eu venho nos jogos e torço por ele”, finaliza.

Texto: Kyene Becker/Hoje Centro Sul