Agricultores contam como é o processo de produção do fumo




Para a maioria dos produtores de fumo da região Centro Sul do Paraná, os dias de janeiro são dedicados à colheita da produção. No interior do município de Rio Azul, a situação não é diferente. Ao chegar à propriedade da família Prestupa, na tarde de sexta-feira (23), surpreendemos os familiares, que estavam reunidos na lavoura de fumo, dando continuidade à colheita, iniciada dias antes.

Fomos recepcionados por uma senhora, que logo contou ser a esposa do dono da propriedade. “Pai, filhos, venham aqui, a moça do jornal quer falar com vocês”, gritava ela, longe dos familiares e do trator carregado de folhas de fumo. “Começamos a colheita no início dessa semana. Esses pés que plantamos, na verdade, aguentariam até março, mas estamos com medo das chuvas. Ultimamente, tem caído muita pedra aqui. Meu esposo já perdeu parte da produção por causa disso”, me contava ela, aguardando a chegada da família.
Minutos depois, todos os familiares deixaram a lavoura e se reuniram na varanda da casa. E apesar do forte sol e do calor daquele dia, a entrevista foi regada ao bom e velho chimarrão.

Aloísio Prestupa, o dono da propriedade, nos contou que cinco pessoas da família estão envolvidas no processo da colheita - além dele, os filhos e noras.

Quando perguntei sobre o processo de produção e o envolvimento dos familiares, Aloísio foi enfático: todos se ajudam. “Aqui fazemos agricultura familiar mesmo, todos sabem fazer um pouquinho de tudo. O ano todo é dedicado à preparação e produção do fumo”, disse.

Ele também fez questão de destacar a união e a boa convivência familiar em relação ao cultivo do fumo. “No total, temos 2,5 alqueires da família. Cada um tem o seu pedaço de terra e a família inteira ajuda em todos os processos. Vamos fazendo um rodízio. Por exemplo, essa semana plantamos na propriedade de um filho, na próxima é na minha e assim por diante. No final, a renda de cada um é referente à produção do seu pedaço de terra. Aí, cada um escolhe para onde quer vender. Esse ano, por exemplo, já vendemos a produção para empresas de Rio Azul, Irati e até de Santa Catarina”, relata.

Paulo César Prestupa, um dos filhos de Aloísio, explica que a vida no campo não é fácil e requer disciplina. “Acordamos às 6h, tomamos café e vamos para a lavoura. Trabalhamos até a hora do almoço, depois descansamos e retornamos. Assim vamos até às 18h, porque não dá pra ficar o dia todo, senão não aguenta o dia seguinte. E quando a colheita começa, todos os dias são assim, não dá pra parar”.

De pai para filho

Trabalhando com a produção de fumo há 45 anos, seu Aloísio conta orgulhoso que começou a aprender sobre o processo com 15 anos de idade e pode repassar seus conhecimentos para os filhos. Odair José Prestupa, filho do seu Aloísio, diz que, ao contrário do pai, não lembra quando começou a se envolver na produção do fumo. “Ih, eu estou trabalhando com isso desde que me conheço por gente, comecei criança. É claro que, não iniciamos mexendo com agrotóxico e nem com as tarefas mais pesadas, mas já ajudávamos na preparação da terra e nas coisas mais simples”.

Odair também mostra o que aprendeu com o pai ao falar sobre o processo de produção do fumo. “Passamos por vários estágios durante a produção, como a semeadura no canteiro, o plantio, a carpida, a quebrança de flor, desbrotança e a colheita ou, como nós falamos, a rapança”. Segundo Odair, aprender sobre a produção foi importante, pois a principal fonte de renda da família vem da venda do fumo. “O dinheiro para sustentar nossa família vem, principalmente, do fumo. Imaginou se eu não soubesse fazer nada pra ajudar? Se eu, com 15 anos, não soubesse nem fazer uma boneca [amarração de fumo tipo Burley], tinha que largar mão e fazer outra coisa”.

Além do fumo

Apesar da produção do fumo em Rio Azul ser a segunda maior do Paraná, Aloísio Prestupa explica que a mão de obra está escassa. “Está difícil encontrar gente para trabalhar na colheita do fumo. A maioria das pessoas está procurando sair dessa atividade e começar outra coisa, por causa da contaminação com agrotóxicos. Tem pessoas que até tentaram cultivar o fumo orgânico, sem o agrotóxico, mas exige o dobro do cuidado e, no final das contas, não compensa”.

Paulo César Prestupa conta que a família também possui outras atividades no campo para garantir o alimento e complementar a renda. “Temos outras atividades sim, porque viver só do fumo não dá. Apesar do fumo ser uma atividade segura, em relação à comercialização, já não é tão rentável quanto antes. Sem contar nos imprevistos, quando dá uma chuva de granizo e perdemos tudo, por exemplo. Apesar de termos seguro, ele não paga o valor total da produção. Eu até quero tentar começar com a plantação de soja daqui a alguns anos”, ressalta. Aloísio Prestupa também destaca que a diversificação das atividades é grande. “Aqui em casa só compramos trigo e arroz, porque o resto nós produzimos ou trocamos os produtos que cultivamos com os vizinhos. A maioria é produção crioula, sem agrotóxico”.

Diversificação

Atualmente, o município de Rio Azul está realizando o cadastro de famílias interessadas em diversificar o cultivo do fumo. O técnico extensionista Edmarilson Rodrigues Pinto explica que o programa surgiu por conta do processo de centralização e exclusão dos pequenos agricultores. “O que nós temos observado é um processo de centralização da produção e exclusão dos pequenos agricultores, isto é, a produção do fumo está cada vez mais começando a se assemelhar às grandes culturas, como a soja. Eles estão buscando produzir mais com menos pessoas”. Segundo Edmarilson, caso o processo acelere, muitos agricultores familiares de Rio Azul e região terão problemas em breve. “Nós desejamos que, se isso acontecer, aconteça daqui a muitos anos. Porém, não é a tendência que se apresenta hoje. Grande parte dos pequenos agricultores da região vive do fumo. Se esse processo acelerar, logo eles perderão o produto que garante a renda da família. E aí, como a situação vai ficar?”, questiona.

Ele conta que, atualmente, 15 técnicos extensionistas estão realizando o cadastro das famílias interessadas em participar do projeto. Ele ressalta que o objetivo do programa é garantir a comercialização de novas culturas. “Estamos realizando diagnósticos nas comunidades e plantações dos agricultores cadastrados, tentando identificar o que mais eles sabem cultivar e se é possível desenvolver a cultura na propriedade. Nosso principal objetivo é garantir a comercialização dessas culturas, pois se houver comercialização, a diversificação vai acontecer naturalmente. Estamos felizes, pois o retorno tem sido bom e o apoio bem grande”, completa. Edmarilson ainda ressalta que o programa espera atingir 1.200 famílias na região.


Kyene Becker/ Hoje Centro Sul