Um catolicismo maduro em Irati

Em meio a inúmeras denominações cristãs que surgem dia após dia, a igreja Católica Apostólica Romana – ou simplesmente Católica – resiste ao desgaste do tempo e da mudança de gerações. A doutrina foi trazida para o Brasil pelos portugueses, mais especificamente pelos 680_religiãojesuítas da Companhia de Jesus. Esses missionários ajudaram a difundir a mensagem religiosa para grande parte do território nacional. Não é para menos que muitas cidades do país tenham crescido “em volta” de catedrais e igrejas.
Segundo o último censo de 2010, 64,6% da população brasileira se autodenomina católica – o que representa uma queda de 9,2% em relação ao censo de 2000.
Apesar da queda, o padre Élcio José Gutervil, da paróquia Nossa Senhora da Luz, acredita que o católico contemporâneo está mais maduro em suas crenças, independente da idade. Segundo o padre, o jovem cristão, por exemplo, “é aconselhado a não ser alheio ao mundo e as coisas que nele acontecem. Ele tem que estar junto com os outros jovens no seu dia-a-dia. Dessa forma eles vão criando amizades e, ao mesmo tempo, respeitando a ideologia do outro”, comenta. O padre afirma que vê este perfil não só nos membros de sua paróquia, mas no jovem católico de Irati. De acordo com ele, essa maneira de lidar e aconselhar essa faixa etária os torna mais engajados no serviço fora da igreja. “Um exemplo bom que temos são os jovens que criaram um grupo de estudo bíblico e oração: o Grupo de Oração Universitário (GOU)”, diz.
Com jovens mais presentes na vida da igreja, os questio-namentos quanto a alguns pontos – como o tradicionalismo, por exemplo – são mais frequentes, diz o padre. Porém, esse conflito é saudável e bom, na medida em que os mais novos dialogam com os mais antigos e cheguem num consenso sobre esses pontos, afirma o padre Élcio. Ainda sobre esses jovens, ele conta que a atuação desses moços e moças vem de fora da para dentro da igreja. “Nós recebemos a visita de uma voluntária que é aluna de psicologia da Unicentro toda segunda-feira. Ela nos ajuda na pastoral da pessoa idosa, dando orientação e motivação para os idosos”, completa.

Promessa motiva a busca de objetivos
Apesar de tantas mudanças e rostos “novos” dentro das igrejas, alguns hábitos do catolicismo ainda perduram, passados de geração à geração. É o caso da promessa, por exemplo. “A promessa é uma graça de Deus que eu quero buscar. Por exemplo, eu estou doente. Se Deus me curar, eu vou fazer uma viagem para Palestina do Norte. Isso é bem comum”, conta o padre. O ato de prometer algo, segundo o padre, é extremamente saudável pelo fato de motivar as pessoas à buscarem um objetivo específico. “Se alguém faz uma promessa para conseguir um emprego, a pessoa não vai ficar parada. Ela vai atrás do emprego”, exemplifica. Quando questionado se o padre já havia ouvido alguma promessa absurda, ele conta que, uma vez, teve contato com a história de uma mãe que havia feito uma promessa para que seu filho crescesse com saúde. Para isso, ela se comprometeu a não permitir que o menino cortasse o cabelo. “São raras esses casos, mas acontecem”, conta.

Devoção aos santos
Além da promessa, algo muito forte no catolicismo é a devoção aos santos. “Eu me assemelho em tal santo. Sendo assim, eu rezo também para esse santo”, diz. De acordo com o padre, a devoção ocorre quando um fiel se identifica com a vida de um santo. Em Irati, a Nossa Senhora das Graças é uma das santas que possuem mais devotos, segundo padre Élcio.

Fiéis discutem questões sociais
O católico da região também é ativo socialmente, segundo o padre. Ele conta que, internamente – em grupos de leitura bíblia e oração – os fiéis geralmente discutem e tem opinião formada quanto às questões sociais como, por exemplo, o voto consciente. “A entrada do Papa Francisco e seu posi-cionamento sobre assuntos polêmicos ajudou muito nessas discussões”, completa. Além disso, a atuação de cristãos é cada vez maior em diversos setores sociais. Só no Congresso Nacional, são 73 represen-tantes de religiões cristãs. Na educação municipal, vários professores trazem a discussão religiosa para dentro das salas de aula, de acordo com o padre.

Comércio e evangelização
O comércio também é uma das áreas onde os católicos atuam. Carla Grochoviski trabalha há 20 anos no ramo de artigos católicos na região. A  vendedora conta que, antes de vender qualquer artigo, a premissa é falar da palavra de Deus. “As pessoas entram na loja e, às vezes, nem sabe o motivo. Nessa hora, deixo de ser vendedora e viro uma espécie de conselheira. A prioridade é evangelizar”, afirma. De acordo com ela, na maioria das vezes os clientes buscam conselhos e não produtos. “Eu prefiro que o cliente saia daqui sem nenhum produto, mas com a mensagem da palavra de Deus com ele”, completa Carla. A vendedora reconhece a fé do iratiense como ponto forte do catolicismo no município. “É um povo muito fervoroso e solidário”, completa.

Cristãos críticos
O padre Élcio acredita que, atualmente, estão surgindo cristãos mais maduros, críticos e ativos socialmente. Essa crença pode ser exemplificada pelo posicionamento da fiel Cleonice Aparecida Pedroso. Ela frequenta a igreja católica há aproximadamente 30 anos e é devota de Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Sua opinião sobre a igreja católica é objetiva. “Eu acredito que o catolicismo poderia falar mais de Deus e dos evangelhos”, afirma a mulher. Segundo ela, não existe uma abertura suficientemente grande dos padres em relação a alguns pontos principais da Bíblia.

Caminhada até a Santa
A população católica em Irati é predominante e o apego à religiosidade é um dos traços marcantes na região. Para comemorar os 106 anos de Irati, um momento de fé e emoção reuniu fiéis aos pés de Nossa Senhora das Graças, na segunda-feira (15).  Aconteceu uma caminhada desde a Matriz São Miguel até a Colina Nossa Senhora das Graças, onde um missa em ação de graças foi celebrada pelo aniversário da cidade. Aproximadamente 300 pessoas acompanharam a cerimônia.


Texto: Lucas Waricoda
Fotos: Letícia Torres