Leandro Ditzel: A Metáfora do Mundo Cão

A Metrópole dos Cães é o título do livro de Leandro Ditzel, uma grande metáfora. A pequena metáfora tem a dimensão de uma frase. Uma grande metáfora tem a dimensão de uma obra. P. ex, Dom Quixote de La Mancha, de Miguel Cervantes. A aventura de Quixote e Sancho Pança, o perdido tempo da cavalaria, o sonho de amor e outro da ilha, eis a metáfora imortal. Como em Cervantes, a metáfora de Leandro tem a dimensão do livro inteiro. E o que é uma metáfora? É descrever uma idéia ou a realidade através de alegorias, com cenas irreais, mágicas, mas que retratam o espírito e a alma de um momento; a fantasia que encanta. É o que alcança Leandro Ditzel em A Metrópole dos Cães. Ele analisa a destruição ambiental, o consumismo, a tragédia da alimentação inadequada, (o Brasil tem 66% de obesos), o desmatamento, o fogo nas florestas, o lixo abundante, o aquecimento global, etc. Os personagens do livro são cachorros e passarinhos, eles fazem o discurso do comportamento humano em sua alienação predatória, em sua irracionalidade capitalista, o capitalismo selvagem sem racionalidade, o lucro é o deus único, a oração do sucesso, o vale tudo pelo ouro.
Na Caninolândia, a cidade onde a maioria dos habitantes são cães, o prefeito é um cachorro de nome Urso, bom administrador e muito honesto, com elevado ibope, vive confinado em seu gabinete no Palácio dos Cachorros e, após o expediente, diante da TV Cão; a primeira dama, de nome Suzy, uma cadelinha de dar água na boca da cachorrada, miss várias vezes, dona de uma academia de ginástica, mas consumista, gastadora incontrolável. Suzy faz ginástica, esbelta, cuida de sua alimentação, todavia, vive nas lojas e shoppins, seu esporte favorito, o consumismo sem limites, a psicose da compra compulsória.
Existe na fábula da Metrópole dos Cães a figura do Barrigudão, um cão cruel que causa grandes problemas à sociedade e ao ambiente. Pois ele só pensa em comer esganifadamente, ter lucro fácil, derrubando com seu trator, o pouco das florestas que ainda restam, sem se preocupar com os animais que vivem lá. Mas um dia a cidade de Caninolândia começou a receber novos moradores procedentes da passarolândia, que chegam com suas esposas e filhos em busca de uma vida melhor numa cidade em próspero desenvolvimento. Na cidade havia uma universidade, a Unicão, onde lecionava o cão Hipólito, filho do prefeito.
O livro se divide em seis capítulos. No prefácio. A cidade e seus moradores; 1. O encontro; 2. Algo estranho com o clima; 3. O passeio pela natureza, a grande expedição; 4. A mudança de atitude; 5. O castigo de Barrigudão; 6. O artigo de Pingo, o grande conselho. Pingo é um intelectual que escreve uma carta com alguns bons conselhos. E começa dizendo que todos querem se desenvolver. Assim como todos os países querem crescer, uns mais do que outros, não importando o que fazem de bem ou de mal para alcançar a vanguarda. Para tanto passam por cima de tudo de todos, inclusive a própria natureza. Devastam, queimam e poluem. Mas chegou a hora em que cada um deve fazer a lição de casa. (...)
Claro, claro, irmão devoto. A Metrópole dos Cães, editado pela ALL Print, SP, 111 páginas, capa de Mirta Bombardelli, autoria de Leandro Ditzel, atual secretário da saúde do Município, merece ser lido e relido por crianças, jovens e adultos, inclusive em família, após o jantar ou aos domingos após a missa ou o culto, no anseio do fortalecimento coletivo, em busca da consciência perdida. Essa obra já está sendo utilizada em escolas superiores em alguns estados brasileiros, menos no Paraná onde os talentos são invisíveis. E deveria ser utilizado em todas as escolas, em todos os níveis, onde a preocupação com a formação cidadã seja ação real e permanente. Somos todos responsáveis pelos danos ao ambiente, a mudança de comportamento é urgente, diz Leandro. O livro é um apelo singelo à vida humana com qualidade e preservação da Terra com respeito e amor.


 


José Maria Orreda


Publicado na edição 659, 20 de fevereiro de 2013.