Insegurança na hora de começar a ir para escola

Crianças pequenas têm dificuldade para se adaptar à quebra de vínculo com a família e virem para a escola


Centro Sul - A escola tem cerca de 30 alunos novos, que estão tendo seu primeiro contato com pessoas estranhas ao seu convívio e que estão pela primeira vez vivendo uma rotina na qual seus pais não estão presentes 24 horas. Geralmente, são esses os alunos que “dão mais trabalho” no início do ano letivo, pois, segundo a orientadora pedagógica do ensino infantil do SESI, Thais Ferras Gnatkoski, é uma diferença muito brusca daquilo em que a criança está acostumada. “É uma quebra do vínculo com a família para virem a escola”, afirma.


Tanto o ambiente quanto as pessoas são estranhas àquela criança. Ela está saindo de sua casa, onde já está acostumada com a presença dos pais, de seus brinquedos e sua rotina para começar a vivenciar uma nova realidade. “Até a criança criar esse vínculo com a escola, até ela se acostumar com a professora e criar uma confiança em tudo isso, é um caminho longo. Algumas conseguem se adaptar mais rápido, mas também tem aquelas que demoram um pouco mais”, explica a pedagoga. Outro fator que a criança precisa se acostumar é com o fato de que os pais vão voltar para buscá-las, pois algumas se desesperam ao pensar que ficará naquele lugar estranho para sempre. “Para a maioria das crianças o período para se acostumar com a escola é de cerca de oito dias”, comenta Thais.


Em alguns casos, esse tempo é ainda maior. “Teve um caso de um menino que demorou um mês até ficar tranquilo na escola. Ele criou um vínculo muito grande com o professor de Educação Física, então foi com este professore que conseguimos fazer a adaptação”, afirma.


Porém, também têm aquelas crianças não conseguem se acostumar com determinada escola. Thaís explica que mesmo mudando de sala e de professoras, alguns alunos simplesmente não se adaptam à escola. Quando isso acontece, os pais são recomendados a tentar matricular o filho em outra instituição de ensino. “Às vezes o pai vem, gosta da escola, mas a criança não”, aponta a pedagoga.


Usando como exemplo a escola na qual trabalha, a pedagoga diz que lá acontece um período de adaptação para os novos alunos. Durante cerca de uma semana eles cumprem apenas meio período para que se sintam mais confortáveis e se acostumem ao ritmo.


Apesar das crianças que estão recém começando a vida escolar serem as que têm  maior dificuldade em se adaptar, também há aqueles que mesmo em seu segundo ou terceiro ano, ainda sofrem nos primeiros dias de aula. “A maioria deles choram por conta da troca de professoras. Eles já estão acostumados àquela professora que esteve com eles durante um ano todo e essa quebra também pode ser difícil”, argumenta Thais.


A pedagoga também comenta de algumas crianças que sofrem de maneira inversa: elas ficam muito felizes nos primeiros dias, mas acabam por “cair na realidade” em seguida. “Eles se encantam com o fato de ser tudo novo. Todos os dias eles têm uma descoberta diferente, mas quando eles param e veem que já não há mais nada de novo eles pensam: ‘nossa, que lugar é esse?’. E daí começam a chorar”, explica. Por isso, ela comenta que, no geral, o período de adaptação para essas crianças é de aproximadamente 15 dias.


Quem também sofre com essa situação são os pais. Isso porque, muitos que têm filhos nessa idade – entre 3 e 5 anos – ainda não têm outros filhos e isso acaba os afetando por perder aquela convivência. “Muitas vezes nós temos que fazer a adaptação com os pais”, diz a pedagoga. Segundo ela, há diversos casos em que as crianças ficam tranquilas na sala de aula, mas os pais ficam na porta, ou não querem deixar os filhos sozinhos. “A orientação que nós damos é que quando o pai sente que a criança está segura, que dê tchau e vá embora, pois se ele demonstrar que está nervoso, a criança vai sentir essa insegurança”, diz.


Essa insegurança não acomete Marcos Gilberto Denkwiski, pai de Daniela, de 3 anos. A garota estava indo pela primeira vez indo para a escola, mas não parecia nervosa. O pai comenta que a irmã mais velha já está indo para o 3º ano e isso faz com que a caçula se sinta mais confiante em seu primeiro dia de aula. “É normal que os mais novos queriam seguir os passos dos mais velhos. Então ela esta animada”, conta. Ele ainda afirma que, como pai, se sente bem em deixar Daniela na escola, pois confia e sabe que é o melhor para a criança. “Ela está em boas mãos”, garante Denkwiski.


A professora Juliana Bastos, mãe de Davi Speck de 4 anos, comenta que o filho estava animado para o inicio das aulas, pois sentia falta dos amigos. No entanto, assim como a maioria das crianças dessa idade, ele ficou decepcionado com a mudança de professora. “Eles esperam que seja a mesma. Mas ele se adapta bem”, afirma a mãe. Ela garante que para ela não é difícil ter que deixar o filho na escola, pois, como professora, sabe que isso faz parte da rotina. “Eu também já estava com saudade disso. Para mim não é difícil”, diz.


Luan Mota de 5 anos também falava para seu pai Clovis Mota que sentia falta dos amigos. O menino estava tão animado com a volta às aulas que nem queria que o pai entrasse com ele na escola. “Ele queria que eu o deixasse no portão”, comenta Clovis. Ele, no entanto, afirma que se pudesse ficar com o filho seria melhor. Ainda assim, confia na escola e sabe que isso é o melhor para o filho.


Já Walter Henrique Pires não estava assim tão seguro. De acordo com a mãe, Ângela Pires, Walter chorava muito, pois não queria voltar às aulas. “Mas são só nos primeiros dias. Depois ele se acostuma”, afirma a mãe. Ela conta que fica com o “coração apertado” por deixar o filho chorando. Porém, sabe que isso é temporário.


Texto e fotos: Guilherme Capello, da Redação


Publicado na edição 659, 20 de fevereiro de 2013.