O artista iratiense tem mais de 2500 obras espalhadas pelo mundo
[caption id="attachment_25068" align="aligncenter" width="500" caption="Zeca Araújo é quem cuida de espaço dedicado a seu pai"]
Irati - Muitas vezes, as pessoas não dão valor para aquilo que lhe é corriqueiro. Por isso, pouco se fala de tantos artistas de renome nacional e até internacional que têm Irati como seu berço. Artistas como Denise Stoklos, Olga Zeni, Foed Chamma, Primo Araújo. Este, personagem desta matéria, tem mais de 2500 obras espalhadas por todo o mundo, inclusive no Vaticano. Introspectivo, talentoso e iratiense. Talvez estas sejam as palavras que melhor descrevem este pintor que faleceu em 1999 aos 97 anos.
Dario Araújo, mais conhecido como Primo Araújo, foi coletor federal (auditor federal, de acordo com a nova nomenclatura), mas sempre teve "o dom do desenho", como diz seu próprio filho, José Carlos Araújo, o Zeca.
A arte entrou na vida de Primo quando o então jovem coletor federal entrou para o curso de Alfaiataria na Escola de Artífices, em Curitiba. A partir disso, o artista descobriu seu talento para a pintura e nunca mais parou de desenhar, pintar, esboçar, riscar e delinear. Existem vários exemplos de seu talento. Um deles é o fato de que o iratiense foi quem, no ano de 1917, fez um dos primeiros cenários do Teatro Guaíra, na capital paranaense.
Em Irati, Primo começou seu trabalho artístico com pinturas a óleo. "Ele fazia desenhos para as escolas, clubes, aniversários e também fazia representações da cidade de Irati", conta Zeca.
Primo Araújo fez diversas telas e desenhos das ruas iratienses no início do século XX, sendo ele um dos responsáveis pela história visual do município em uma época em que câmeras fotográficas eram artigos raros. "Meu pai deixou diversas obras sobre a Irati Antiga, do interior, das ruas, dos locais de pinhais", aponta Zeca Araújo.
Em 1927 o Jornal Espalha Brasa, que foi o precursor dos meios de comunicação em Irati, começou a exercer suas atividades, ainda que de forma artesanal. Naquela época em que nem se pensava em computador, os jornais eram impressos por prensa, ou seja, eram necessários tipos, para as letras, e xilogravura, para as imagens. Lourival Teixeira, o Vico, era quem fazia esses tipos e Primo Araújo por muitos anos foi o responsável pelas imagens. "Ele fazia os entalhes com canivete em pedaços de madeira. Dessa forma ele criava caricaturas, imagens de cenas que estavam sendo contadas no jornal, ele ilustrava o jornal", explica seu filho, Zeca Araújo.
Com o passar do tempo, Primo foi mudando sua técnica de óleo sobre tela por conta de uma alergia que tinha ao óleo. Por isso, o artista começou a usar tintas a base de água. Quando o isopor chegou a Irati, ele passou a usar uma técnica de alto-relevo. "Esculpia o isopor e depois o pintava dando os tons de cada elemento da pintura", afirma Zeca.
Ele conta que sua madrasta, Iratila Araújo, catalogou aproximadamente 2500 quadros de Primo. Pessoas de todo o Brasil vinham a Irati para encomendar seus quadros, tanto que chegou uma época que ele parou de pegar encomendas visto que sua agenda já estava comprometida em três anos. Zeca afirma que todos os políticos importantes do Paraná que passaram por Irati nas décadas de 1970 e 1980 são detentores de quadros do Primo Araújo, pois a prefeitura do município os dava como presentes a estas autoridades. "Paulo Pimentel, José Richa, Osmar Dias, entre muitos outros têm quadros do meu pai", diz.
Ele ainda afirma que até o Vaticano tem um quadro assinado por Primo. Isto porque um cardeal brasileiro veio até Irati na década de 1960 e ganhou um dos quadros do artista. "Ele gostou tanto que disse que ia levar o quadro para o papa Paulo VI", garante Zeca.
[caption id="attachment_25069" align="alignright" width="420" caption="Primo era chamado de "Nossa Kodak" por representar imagens quando máquina fotográfica era artigo raro"]
O espaço
No meio do ano de 2012, Zeca Araújo já havia conversado com o responsável pelo Clube do Comércio, Virgílio Trevisan, para que pudesse disponibilizar uma sala que servisse de homenagem ao artista Primo Araújo. "O Virgílio sempre teve a intenção de criar um centro cultural neste espaço, mas durante muito tempo isso ficou só no papel. Quando eu saí da Casa da Cultura e voltei para o Clube do Comércio, utilizei uma sala para disponibilizar o acesso a algumas obras do Primo Araújo", afirma Zeca.
No entanto, a quantidade de quadros e desenhos disponíveis no espaço não representam nem 2% de todo o acervo do pintor. Para que se possa apresentar ao público mais telas de Primo, Zeca e Virgílio pretendem realizar uma exposição de algumas de suas obras para todo o público. "Além disso, queremos realizar palestras sobre sua vida, suas técnicas e também sobre outros artistas Iratienses", diz Zeca. Ele explica que a exposição deve acontecer no mês de julho, em comemoração ao aniversario de Irati.
Como o início do trabalho de Primo em Irati foi com a Xilogravura, Zeca diz que pretende ministrar aulas sobre essa técnica com intuito de homenagear seu pai e também fornecer esse conhecimento aos iratienses. "Quero reunir grupos de crianças, adolescentes e adultos para fazerem essas aulas", comenta.
Exposição
A última exposição das obras de Primo Araújo aconteceu no Salão Nobre da prefeitura no ano de 2002, quando ele faria cem anos, se estivesse vivo. Na ocasião foram expostas cerca de 60 telas e desenhos de sua autoria.
Zeca afirma que para este ano pretende trazer cerca de 40 obras para a exposição. Segundo ele, muitas telas de seu pai estão espalhadas por Irati e algumas delas são de material que poderia estragar com facilidade, por isso, há alguma dificuldade de consegui-las para exposição por conta da resistência dos portadores em disponibilizarem as telas. "Eu tenho cerca de 200, então quero apresentar algumas delas, mas seria bom expor as telas que pertencem a outras pessoas", conta Zeca.
Texto: Guilherme Capello, da Redação
publicado na edição 660, 27 de fevereiro de 2013.