Profissionais de saúde são capacitados para diagnosticar leptospirose e hantavirose

Região tem os maiores índices de incidência e morte por essas doenças. Em dezembro, três mortes foram registradas em Rio Azul, Inácio Martins e Guamiranga


Centro Sul - Profissionais de saúde de toda a região de abrangência da 4ª Regional de Saúde, com sede em Irati, receberam treinamento para diagnosticar e prevenir os casos de leptospirose e hantavirose. O evento aconteceu na sede da Amcespar (Associação dos Municípios da Região Centro-Sul do Paraná), na tarde de quarta-feira (22). A bióloga Gisele Guimarães Rubio e o médico Enéas Cordeiro Souza Filho falaram sobre as formas de contaminação e situações de risco, além de diagnóstico e tratamento.

A capacitação foi necessária devido ao fato de três mortes por essas doenças terem sido registradas nos municípios da 4ª Regional em dezembro de 2012, embora a causa das mortes tenha sido confirmada apenas em 2013. Dois óbitos foram causados por hantavirose, sendo um em Inácio Martins e o segundo em Rio Azul. No município de Guamiranga houve registro de morte por leptospirose. Dados apresentados no evento mostram que a região é a de maior ocorrência de óbitos no estado.

A letalidade da hantavirose no Paraná foi de 62,5% em 2012. Na 4ª Regional, este índice chega a 31%. A região Sul tem o maior número de casos no país. Enquanto a região Centro-Sul do Paraná é a que tem maior número de casos registrados historicamente. “O que é muito preocupante”, alerta a bióloga. Como agravante, o período de primavera e verão são aqueles nos quais há aumento de incidência destas doenças.

Os profissionais de Irati compareceram em maior número ao evento. De acordo com o secretário de Saúde, Leandro Ditzel, todos os médicos do PSF (Programa Saúde da Família) foram convocados, bem como os agentes de saúde e um técnico de enfermagem de cada posto médico, além dos secretários municipais de Meio Ambiente e Agricultura. “Todos precisam estar aptos a realizar o diagnóstico correto. Os médicos precisam ser sensibilizados para este diagnóstico precoce e os secretários de outras áreas devem saber de que forma podem interferir para minimizarmos os casos”, observou Ditzel.

As duas doenças são transmitidas por roedores. A bióloga enfatiza que se deve prestar atenção nos quatro As que permitem a sobrevivência destes animais. “Alimento, água, abrigo e acesso. Se você não tirar isso, o animal vai se estabelecer e o risco de contaminação é maior”, frisa.

Leptospirose

A doença é causada por uma bactéria chamada Leptospira, presente na urina de ratos e outros animais (bois, porcos e cães também podem adoecer e transmitir a leptospirose ao homem). Ela geralmente é transmitida durante as enchentes, quando urina dos ratos, presente nos esgotos e bueiros mistura-se à enxurrada e à lama. Qualquer pessoa que tiver contato com a água ou lama pode infectar-se.

As leptospiras penetram no corpo pela pele, principalmente por arranhões ou ferimentos. O contato com esgotos, lagoas e rios também podem propiciar a infecção. Veterinários e tratadores de animais podem adquirir a doença pelo contato com a urina, sangue, tecidos e órgãos de animais infectados.

Os principais sintomas são: febre, dor de cabeça, dores pelo corpo - principalmente nas panturrilhas (batata-da-perna). Pode também ocorrer vômitos, diarréia e tosse. Nas formas graves, geralmente aparece icterícia (pele e olhos amarelos) e há a necessidade de internação hospitalar.

A prevenção inclui medidas ligadas ao meio ambiente, a exemplo de obras de saneamento básico (abastecimento de água, lixo e esgoto), melhorias nas habitações humanas e o controle de roedores. Também deve-se evitar o contato com água ou lama de enchentes e impedir que crianças nadem ou brinquem nessas águas. Pessoas que trabalham na limpeza de lama, entulhos e desentupimento de esgoto devem usar botas e luvas de borracha (ou sacos plásticos duplos amarrados nas mãos e nos pés). A água sanitária (hipoclorito de sódio a 2,5%) mata as leptospiras e deve ser utilizada para desinfetar reservatórios de água na proporção de um litro de água sanitária para cada 1.000 litros de água do reservatório. Para locais e objetos que entraram em contato com água ou lama contaminada deve-se diluir um copo de água sanitária em um balde de 20 litros de água.
Para combater os ratos é necessário o acondicionamento e destino adequado do lixo, armazenamento apropriado de alimentos, desinfecção e vedação de caixas d’água, vedação de frestas e aberturas em portas e paredes.

Hantavirose

A hantavirose é provocada por vírus eliminados nas fezes, urina e saliva de roedores silvestres. Na maior parte dos casos, a transmissão para o homem se dá em ambientes fechados, pela inalação de partículas suspensas na poeira, provenientes das secreções e excretas dos hospedeiros, que funcionam como reservatórios do vírus. Ela pode também ocorrer pelo contato direto com esse material infectado ou através de ferimentos na pele, assim como pela ingestão de água ou alimentos contaminados. Embora menos frequente, mordeduras desses animais são outra forma possível de contágio.

Os sintomas mais comuns no início da doença são febre, tosse seca, dor no corpo, náuseas,

diarréia, dor de cabeça, vômitos, dor abdominal, dor torácica, suor e vertigem. Pode evoluir

para falta de ar intensa, insuficiência respiratória aguda grave e choque circulatório.

Caso o paciente identifique os sintomas da leptospirose ou hantavirose, o médico deve ser procurado. “A população deve procurar o serviço médico, pois a febre é sempre sinal de que há algo errado. O paciente não tem obrigação de saber diferenciar os sintomas”, diz o médico Enéas Cordeiro Souza Filho, frisando que o serviço de saúde deve estar preparado para atender e diagnosticar os pacientes.