Polícia reconstitui confronto armado que resultou em três mortes

Divergências entre polícia e de um dos envolvidos gerou necessidade de reconstituir a cena e confrontar as versões




[caption id="attachment_23551" align="aligncenter" width="420" caption="Antes de recompor as cenas, policiais ouviram instruções e fizeram a marcação dos pontos onde cada personagem da ação estava no dia"][/caption]

Rebouças - A Polícia Militar de Irati e representantes da Polícia Civil, do setor de Criminalística, reconstituíram na sexta (04) o confronto armado contra uma quadrilha em Rebouças. A reconstituição - fato inédito na cidade - foi realizada para ser anexada ao inquérito policial militar instaurado para apurar as circunstâncias da troca de tiros entre os criminosos e os policiais. Na ocasião, dois membros da quadrilha que foram alvejados faleceram no local, um terceiro morreu no Hospital Darcy Vargas, em Rebouças, e o quarto, atingido na perna, que foi amputada, sobreviveu e permaneceu internado por mais de um mês na Santa Casa de Irati. Hoje ele está sob custódia domiciliar.
De acordo com a Polícia Militar, o caso registrado há cerca de dois meses, em 10 de novembro, surgiu logo após a quadrilha praticar um roubo em Prudentópolis, quando foi levada uma Fiat Strada do proprietário de uma madeireira, além de R$ 2 mil em dinheiro. Além do roubo, a vítima sofreu agressão: os ladrões deram coronhadas de revólver na cabeça do dono da madeireira.




[caption id="attachment_23552" align="alignleft" width="336" caption="A cena foi refeita várias vezes e a reconstituição durou quase cinco horas. A imprensa pôde apenas observar à distância, pois a família pediu privacidade"][/caption]

Ainda conforme a polícia, o veículo furtado fora recuperado na cidade de Palmeira, e o condutor foi preso, na ocasião. O homem delatou onde estariam os demais envolvidos no crime, dizendo que seu paradeiro seria o município de Rebouças, relatando ainda que a quadrilha era integrada por moradores de Rebouças e de Ponta Grossa. Ao deslocar-se para prender os demais integrantes da quadrilha, em Rebouças, houve o confronto que resultou nas mortes e no ferido, numa casa da Rua Armando Costa, no bairro Santo Antônio.
Luiz Eduardo Gualdezi, 24 anos; Rodrigo de Oliveira, 23 anos; e Alessandro Zacheski, de 17 anos, morreram na troca de tiros. Sidnei Bianco Borato, de 22 anos, teve a perna amputada, depois de ser atingido por um disparo. Ele cumpre pena em regime semiaberto.
Durante a reconstituição, a pedido da família proprietária da casa onde se desenrolou a ação, a imprensa não pôde se aproximar, para manter a privacidade. Muitos vizinhos ficaram curiosos e acompanharam de longe a movimentação, na sexta (4). Faixas de isolamento foram colocadas nas duas extremidades da rua para evitar a aproximação e restringir o acesso.
A reconstituição dos fatos levou algumas horas, pois a cena foi reproduzida várias vezes, a fim de confrontar as várias versões do fato. Alunos soldados da PM representaram os integrantes da quadrilha. Os policiais envolvidos no caso não estavam na reconstituição.


Versão da defesa
A defesa de Sidnei apresenta uma versão que contraria o relato dos policiais, levando à necessidade de reconstituição dos fatos, a fim de avaliar a plausibilidade dos relatos. Sidnei afirmou, em interrogatório policial, que na data em questão estava em casa com cinco amigos e que, com a chegada da equipe CHOQUE, permaneciam na casa apenas ele, Rodrigo (Bidinho), Alessandro e Luiz Eduardo (Gordo).
De acordo com ele, quatro ou cinco policiais teriam entrado na casa, dando ordens para que todos se deitassem no chão, e a ordem teria sido acatada, com todos deitando sobre o chão, com as mãos na cabeça. A afirmação contraria a versão da polícia, que alega que eles desacataram a ordem e revidaram com tiros, gerando o confronto armado.
Sidnei acusa a polícia de não ter perguntado nada e disse ainda ter ouvido um dos integrantes da equipe insinuando que fosse plantada uma arma na casa dele a fim de incriminá-lo, pois nem ele nem seus amigos teriam armas em sua posse, defende-se.
O jovem que sobreviveu ao confronto alega que a polícia teria ordenado para que Gordo se levantasse e dispararam três tiros seguidos contra ele, conforme ouviu, pois estava com o rosto voltado para o chão, argumenta Sidnei. No interrogatório, ele acrescentou que ouviu gemidos do amigo e que acredita ter sido o segundo a ser atingido pelos disparos, pois sentiu a perna esquentar, apenas conseguindo cochichar para Rodrigo que haviam atirado em sua perna. O rapaz acusa que um dos policiais teria pisado sobre a perna esquerda dele - a que não foi atingida pelo disparo - e afirma que fechou os olhos para simular que tinha morrido e que logo após teria desmaiado, vindo a acordar rapidamente dentro da ambulância, em frente ao hospital, mas que teria recobrado plenamente a consciência somente 20 dias depois, fato que pode comprometer a legitimidade e veracidade dos fatos apontados em sua versão, cabendo à reconstituição poder confrontar as partes. Ele permaneceu esse tempo internado na UTI da Santa Casa de Irati e ficou 31 dias algemado pela perna, preso a uma cama, sustenta.
No interrogatório, ele disse que, dos rapazes que estavam em sua casa na ocasião, conhecia apenas Rodrigo e Alessandro e que nunca tinha visto Gordo, mas não explicou como ele teria ido parar em sua casa.
A reconstituição simulada dos fatos, a fim de esclarecer as controvérsias entre as versões apresentadas por Sidnei e pela polícia, foi solicitada pela defesa de Sidnei ao 1º tenente Marcelo Ferreira Ribas, do 4º Comando Regional de Polícia Militar (CRPM), em Ponta Grossa, encarregado pelo Inquérito Policial Militar que apura o caso.


 

Texto: Edilson Kernicki, da Redação
Fotos: EK e Guilherme Capello, da Redação


Publicado na edição 653, 09 de janeiro de 2013.