Pequenos agricultores têm acesso à tecnologia para produzir feijão

Tardes de campo realizadas na região avaliaram a aplicação de recursos tecnológicos em pequenas propriedades nesta safra




[caption id="attachment_24025" align="aligncenter" width="420" caption="Os produtores compararam a diferença entre a plantação em que foi aplicado o Power Seed Plus, à esquerda, e onde não foi aplicado, à direita"][/caption]

Centro Sul - Quatro tardes de campo realizadas em Unidades Experimentais do Programa Centro-Sul de Feijão e Milho, entre os dias 15 e 18 de janeiro, avaliaram os resultados do emprego de tecnologia agrícola na produção de feijão por pequenos agricultores que trabalham, essencialmente, com a cultura de subsistência ou com comércio de pequena escala. As tardes de campo foram realizadas em Guamiranga; na localidade de Assungui (Fernandes Pinheiro); Iratizinho, no complexo da Água Mineral - interior de Irati e na localidade de Ribeirão de Cima, em Teixeira Soares.
Um dos agricultores que participou das tardes de campo realizadas pela Emater e IAPAR, com parceria com empresas como Syngenta e Forquímica, foi José Pires da Silva, da localidade de Iratizinho, na zona rural de Irati. Na propriedade dele foi plantado feijão tuiuiu - uma cultivar de feijão preto - e, após a colheita, as sementes seriam compartilhadas com o seu grupo de vizinhança. As sementes plantadas são desenvolvidas pelo IAPAR. São as sementes básica e, depois da colheita, são sementes certificadas, ou seja, de potencial melhorado.
José Pires da Silva conta que começou a participar das reuniões do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e, dentro dele, surgiu a oportunidade de trabalhar com o projeto Centro-Sul de Feijão e Milho. Ele conta que o programa vem estimulando os pequenos agricultores - 90% deles trabalha com plantação de fumo - a diversificar a produção. "Precisamos de mais incentivos dos governos estadual e federal para vir mais um secador, pois para a comunidade interessa produzir sementes, mas nós não temos beneficiamento do produto", comenta.
O agricultor ressalta que já vinha plantando feijão há algum tempo, mas que, inicialmente, produzia apenas para consumo próprio. Com os conhecimentos adquiridos no programa e com a aplicação de tecnologia agrícola, ele já pretende estender a área plantada para poder comercializar o feijão.
Segundo ele, as instruções recebidas das empresas parceiras do programa quanto à aplicação correta dos produtos - herbicidas, fungicidas, fertilizantes, entre outros - é muito importante, pois antes não sabiam o que era necessário aplicar e agora já conhecem o manuseio correto dos produtos. Desde o início da participação no programa, ele já observa uma melhora grande tanto na produtividade quanto na qualidade da plantação.
Contudo, ele afirma que ainda é preciso aprender a driblar dificuldades como as enfrentadas neste ano em virtude do clima rigoroso durante a safra: inicialmente com estiagem e depois com chuvas excessivas, o que é prejudicial ao cultivo. Outra dificuldade enfrentada pelo pequeno agricultor diz respeito a financiamento para maquinário, pois pretendia comprar um pulverizador e não conseguiu a liberação. Agora ele trocou de banco e já pretende investir num pulverizador para a próxima safra. Na atual, que está em fase de colheita, ele precisou recorrer à tração animal para percorrer a lavoura fazendo a pulverização com os produtos.
O coordenador regional de grãos da Emater, Altair Ganz, comentou a semana de atividades nessas Unidades Experimentais. Em Guamiranga, com a presença de 30 agricultores familiares na propriedade de Arno Bonete, atual secretário de agricultura daquele município, houve a primeira das tardes de campo. Nesse local existe uma vitrine de feijão, onde foram plantadas oito cultivares de feijão da Embrapa e do IAPAR e mais uma de milho, com seis cultivares. O intuito é lançar esse material no mercado. "A vitrine é uma amostra de produto para os agricultores verificarem o potencial da planta sob o aspecto econômico e o porte da planta", descreve.
Lá, foram realizadas quatro baterias, da mesma forma que foram dispostas nas demais propriedades nos dias seguintes: a Syngenta, falando do portfólio de produtos; a Forquímica apresentando seu trabalho com os produtos chamados adjuvantes, que fazem a diferença no resultado final da lavoura pela potencialização que os produtos fazem nas aplicações fúngicas ou nas aplicações nas próprias lavouras. "Melhora a qualidade desse produto na distribuição dele, na planta, especialmente na área foliar. O que faz com que se obtenha uma planta mais imune às doenças e pragas também", explica Ganz.
O IAPAR apresentou tanto cultivares de feijão preto quanto de carioca e, na avaliação de Ganz, os resultados foram muito bons, com rendimentos acima da média regional, pelo esmero que o produtor do campo faz para desenvolver esse trabalho. Ele explicou durante as baterias em Iratizinho que o feijão carioca não é recomendado para essa região, pelas condições de umidade observadas: elas resultam em coloração não uniforme - com sementes ora mais claras, ora mais escuras - o que compromete sua comercialização, pois o preço cai pela metade.
O Emater explanou nessas baterias a respeito do manejo do solo, mostrando aos produtores que as plantas para que tenham um bom desenvolvimento precisam de espaço. "Como o solo é composto por água, ar, mineral e matéria orgânica, essa composição, quanto mais ajustada, maior o resultado dessa planta para que ela possa buscar nutrientes. Então nós mostramos num perfil de solo havia um impedimento onde as raízes sofrem para buscar água e alimento. Esse impedimento, no próprio solo, normalmente é causado pelo excesso do uso de máquinas pesadas, como as grades e as próprias plantadeiras, em solo que não está com uma boa cobertura de massa", exemplifica. O trabalho pretendia mostrar ao agricultor que ele pode melhor a eficácia de suas lavouras, dedicando atenção especial aos solos, antes mesmo dele receber o plantio das sementes.
Em Fernandes Pinheiro, além desse trabalho, a Emater abordou o estande - a população de plantas de uma determinada área. Ganz explica que o agricultor, ao regular sua máquina, já estima a quantidade de semente que vai cair por metro linear e a distância entre linhas. "Muitas vezes ele deixa de fazer uma boa regulagem e não coloca à disposição da semente os instrumentos para isso, como o preparo da semeadeira, o tipo de disco", expõe. Se a semente não for de boa qualidade, os resultados são desastrosos a ponto de poder comprometer plantas vizinhas, diminuindo a produtividade. A idéia do estande é mostrar que o trabalho bem aplicado pode maximizar a produção - e o rendimento.
Ganz destaca que a presença do agricultor em Fernandes Pinheiro foi expressiva: 79 produtores, além de técnicos e até vereadores daquele município. "Foi muito positivo pela presença dos agricultores e pela ansiedade em buscar conhecimento para aplicar em suas propriedades", avalia.
Em Irati, na localidade de Iratizinho, a prioridade é retomar a diversificação das plantações que, há 30 anos, eram essencialmente de feijão e milho e, posteriormente, substituídas pelo fumo e, em menor escala, pela soja. "O trabalho na região da Água Mineral é justamente para retomar o trabalho com feijão tecnificado e utilizar como uma fonte alternativa de renda, porque os produtores sabem e conhecem a cultura. Estão habituados com isso. Mas logicamente que, para que eles voltem a produzir feijão, é preciso que haja a colheita mecanizada, sementes de melhor potencial genético de produção", ressaltou.
Nessa localidade, participaram cerca de 25 produtores, e as baterias foram dinamizadas de forma concentrada. Os engenheiros agrônomos enfatizaram, entre outras coisas, que ainda é preciso driblar os problemas meteorológicos que afetam a produção. Também foi comentado que hoje já se atribui maior valor de mercado ao feijão. Em contraposição, também se exige maior qualidade. Para tanto, foram passadas algumas instruções quanto ao controle de ervas daninhas, pragas e doenças, em particular a traquinose, que pode representar perdas de até 100% se atingir a lavoura.
Em Iratizinho, os técnicos e agrônomos verificaram que o solo apresenta alguns problemas e precisa ser melhora para ampliar seu potencial produtivo, em especial em termos da cobertura do solo, pois ele ainda está muito exposto.
Segundo Ganz, existem graus de tecnologia diferentes em cada município envolvido no projeto. "Alguns avançaram mais e outros menos. Nós tratamos até de uma forma diferenciada a aplicação de tecnologia, apesar de ser um padrão tecnológico, mas temos que tomar o cuidado para que o grupo de vizinhança, o entorno, não sofra muito esse impacto de partir de uma parca tecnologia para uma elevada, que aí foge do próprio alcance deles", comenta. Ele avaliou que em algumas comunidades será necessário recuperar alguns danos já ocasionados no ambiente e no solo e que, em contrapartida, há outras unidades com alta produtividade.
De acordo com ele, as diferenças se observam porque, apesar de as tecnologias serem as mesmas, os processos de aplicação são um pouco diferenciados, haja vista a limitação de alguns. "Por exemplo, o caso de comunidades que trabalham mais com tração animal. O próprio maquinário deles não tem aquela eficiência de uma mecanização mais elevada", esclarece.


 

Texto e fotos: Edilson Kernicki, da Redação


Publicado na edição 655, 24 de janeiro de 2013.