O meio ambiente e o reconhecimento à contribuição do agricultor

Mesmo que demorando além do desejado, o governo brasileiro começa a reconhecer publicamente a contribuição do agricultor para a preservação dos recursos naturais.
Até por depender do clima do clima mais do que ninguém, já que seu negócio é a reprodução e multiplicação controlada de vegetais e animais, o produtor rural é o maior interessado na proteção à natureza.
Para nossa satisfação, a própria ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, veio se somar à nossa causa ao afirmar em evento sobre a água realizado em São Paulo, que nascentes e rios estão muito mais preservados no campo do que nas cidades.
No encontro, realizado no início do mês de novembro, a ministra destacou que no campo quem está próximo das fontes de água e delas depende para sobreviver, como é o caso do agricultor, preserva mais e melhor o recurso natural do que as populações urbanas.
Com a afirmação pública, a ministra começou a corrigir injustiças feitas aos agricultores brasileiros, acusados de desmatadores por ongs internacionais e ambientalistas radicais, durantes os longos anos de debates sobre o novo Código Florestal do País.
No evento da capital paulista, a ministra Izabella fez questão de ressaltar o papel dos produtores rurais brasileiros na preservação dos mananciais de água, desde as nascentes até os rios de maior porte.
Para isso, disse textualmente que o "Brasil é o único país onde há a obrigação legal de manter áreas de preservação permanente (APPs), além de matas ciliares, com a finalidade de preservar a água", ao se referir às exigências do Código Florestal.
Não bastasse isso, ela acrescentou que "os produtores rurais brasileiros estão recuperando as fontes de água, independentemente da nova legislação", reconhecendo formalmente que se o País hoje possui florestas, rios e lagos para proteger, é porque vinham sendo mantidos pelos agricultores.
No caso específico de matas e mananciais localizados dentro de propriedades rurais, vale destacar que foram preservados, muitas vezes, em áreas que poderiam estar sendo cultivadas, gerando receitas aos produtores, mas mesmo assim foram mantidos durante décadas, sem incentivos do poder público.
Nossas esperanças de que ainda se fará justiça ao homem do campo, cresceram com a manifestação da ministra, ao informar que o próximo passo do governo brasileiro será fazer com que os agricultores sejam reconhecidos por essa contribuição diferenciada para a preservação do meio ambiente, em relação aos colegas de outros países ou concorrentes internacionais na disputa por mercados para os alimentos e matérias-primas industriais.
Tanto que também fez questão de destacar que o fator de competitividade que o produtor brasileiro irá ganhar nos próximos 20 anos estará na "adicionalidade positiva", através do reconhecimento à sua contribuição para o bem-estar de todo o planeta.
A ministra ainda foi além, para a nossa agradável surpresa, ao ressaltar que mesmo entre sociedade brasileira, a externalidade positiva da agropecuária nacional não é ainda reconhecida e valorizada como deveria.
Mesmo cobrindo dois terços da superfície do planeta, a água potável representa apenas 0,007% deste volume e precisa ser preservada, sob pena de colocar em risco a sobrevivência da vida na Terra.
Por isso, o aumento da população, da renda e da poluição são desafios de governantes, agricultores e sociedade, especialmente em países em desenvolvimento.



Dilceu Sperafico


Publicado na edição 651, 27 de dezembro de 2012.