O agronegócio brasileiro e o desafio de alimentar nove bilhões de pessoas

O planeta Terra tem imensos desafios pela frente. Entre eles, o de produzir alimentos de qualidade, a preços acessíveis aos consumidores e em quantidade suficiente para atender à toda a população.
Segundo cálculos de especialistas, em 2050, daqui a 38 anos, o planeta terá mais de nove bilhões de habitantes, necessitando de, pelo menos, três refeições diárias. Serão dois bilhões de pessoas ou mais de 10 vezes a população brasileira atual, somados aos atuais sete bilhões.
Não bastasse a preocupação com o volume e diversidade dos alimentos necessários, com a diminuição das reservas de combustível fóssil os biocombustíveis serão cada vez mais requisitados, exigindo aumento considerável da produção.
Com isso, as matérias-primas para a geração de energia renovável irão gradativamente ocupando cada vez maiores áreas agrícolas, reduzindo os espaços hoje destinados à produção de alimentos para a população humana.
Além disso, é preciso considerar o aumento da renda e, conseqüentemente, do poder de consumo de parcelas consideráveis de habitantes de grandes países, como Brasil, China e Índia, o que se refletirá no crescimento proporcional da demanda de diversos tipos de alimentos, com maior exigência de qualidade e sanidade.
Enquanto isso, com a exceção do Brasil, os grandes países não têm mais fronteiras agrícolas ou áreas próprias para a agropecuária disponíveis para a ampliação do cultivo.
No Brasil, mesmo assim, onde a agricultura e a pecuária ocupam pouco mais de 20% do território, a expansão da área de plantio está inviabilizada pela legislação ambiental, considerada a mais rigorosa do planeta, e a opção dos produtores pela preservação dos recursos naturais.
Para atender aos novos e grandes mercados, portanto, o agronegócio brasileiro e mundial dependerá do aumento da produtividade e da consorciação da produção, o que por sua vez, exigirá cada vez maiores investimentos em tecnologia e na formação de novos agricultores.
Esse contexto só aumenta o desafio e as responsabilidades de pesquisadores da área agrícola, que nos últimos 60 anos têm procurado meios de obter recursos do solo de maneira sustentável, respeitando as condições climáticas do planeta e os recursos naturais de cada região.
Graças aos avanços da pesquisa, o agronegócio brasileiro, mesmo enfrentando todo o tipo de obstáculos, garantiu ao País a liderança mundial na oferta de biocombustíveis e alimentos, destacando-se na produção de etanol, soja, carne bovina, de frango e de suínos, café, açúcar, frutas e diversos outros produtos.
Chegou à essa condição preservando mais de 60% de suas florestas originais e mantendo uma das maiores áreas de plantio direto do mundo, com cerca de 25 milhões de hectares.
Além disso, atendendo as demandas específicas do planeta, o agronegócio brasileiro tratou de ampliar o cultivo de determinadas culturas. A soja, que tem amplo mercado na China e na Comunidade Européia, por exemplo, foi a lavoura brasileira que mais cresceu nas últimas três décadas e já atinge 49% da área cultivada com grãos no País.
O seu cultivo, além de remunerar melhor o produtor, com a elevação das cotações no mercado internacional, se tornou também item de exportação de importância fundamental para a balança comercial do País. Graças a esses benefícios, a produção de grãos deve crescer mais de 50% no Brasil até 2030, sem aumento expressivo da área de cultivo.


 

Dilceu Sperafico


Publicado na edição 653, 04 de janeiro de 2013.