Confronto

Talvez pela primeira vez na história recente da cidade de Rebouças tenha ocorrido a reconstituição de uma cena que resultou em morte, originada do confronto armado entre policiais e uma quadrilha. Aliás, a recomposição do cenário - perdão pelo pleonasmo - confronta até mesmo a ideia de que teria havido um confronto. Ou seja, são postas frente a frente duas versões contraditórias. Por um lado, o sobrevivente diz que não reagiu à ação policial. Já a polícia, defende que revidou os tiros dados pelos bandidos a fim de proteger a sua integridade física.
A reconstituição é um recurso de investigação que, de alguns anos para cá, tem sido considerado como peça-chave na elucidação de vários casos policiais. Exemplos já considerados clássicos da nossa história policial recente, em âmbito nacional, são o assassinato do casal von Richtoffen e a morte da menina Isabela Nardoni. As reconstituições de ambos os fatos foram determinantes para que as peças do quebra-cabeça se encaixassem e se permitisse afirmar com absoluta certeza o envolvimento de todos os personagens daqueles cenários nos dois crimes.
O jornalismo também trabalha com a ideia de confronto, ao contrapor afirmações, dados e fatos. Um dos pilares da veracidade jornalística é a afamada "lei das três fontes", que afirma que tudo aquilo que três diferentes fontes, sem ligação entre si, disserem e coincidir, é verdade, todo o resto é versão.
Na elucidação de casos que resultam em morte - sejam os mortes culpados ou inocentes, e não nos compete julgar, existe justiça para se ocupar disso - versões não bastam, é preciso correr atrás de uma verdade.
Recompor um cenário trágico, como foi o caso testemunhado em Rebouças, acaba sendo, de certa forma, traumático para todos: para a família dos mortos, para quem precisa de defender de uma acusação, para quem sobreviveu, para quem possui qualquer grau de envolvimento na ação. É trabalhoso, envolve detalhes, considera diversos pontos de vista, mistura e embaralha o que é verídico do que é versão. Mas é a busca pela verdade que move tudo isso.



Publicado na edição 653, 09 de janeiro de 2013.