Casa fresquinha mesmo no verão

A utilização inteligente de materiais e a instalação dos ambientes internos de uma residência em posição estratégica não geram apenas bons resultados estéticos, mas ajudam a evitar a visita de um hospede indesejado no verão: o calor. O arquiteto radicado no Rio de Janeiro Paulo Gomes, cujo trabalho se caracteriza pela conexão entre o tradicional e o contemporâneo, explica que adequar a arquitetura ao ambiente é fundamental para otimizar o projeto, amenizando os efeitos das altas temperaturas da estação mais quente do ano.

Para isso, o trabalho deve começar ainda no início do projeto, antes mesmo de se levantar a primeira parede. “Com a topografia em mãos, já podemos pensar em posicionar a residência de forma a aproveitarmos melhor, por exemplo, a direção dos ventos dominantes ou sua altura em relação ao terreno”, aponta o arquiteto, acrescentando que edificações construídas acima do solo, além de evitar a umidade, permitem a circulação eficiente do ar.

Há alguns espaços que Paulo Gomes considera extensões naturais da sua arquitetura e que contribuem para abrandar o clima. É o caso das varandas, que, além de ser um elemento estético elegante, traz zonas de sombras com ventilação permanente. ”Outro recurso que utilizo em meus projetos são os jardins internos, ou impluvium, com presença de elementos naturais, plantas e água, que induzirão o movimento do ar no interior da casa, passando sensação de frescor e descontração”, detalha o arquiteto.

A altura dos tetos ou mesmo a ausência deles (telha vã) somadas a pisos e paredes cerâmicos ou de pedra e mais esquadrias dispostas inteligentemente pelos ambientes completam as características para se obter um ambiente termicamente agradável. Ainda que todas essas características já sejam suficientes, o arquiteto vai além. “Adicionando uma proposta paisagística ao projeto, o jardim ora produzirá uma grande sombra em região mais exposta ao sol, ora direcionará fluxos de ventos para o ambiente interno”, completa Paulo Gomes.

A RESIDÊNCIA ANTICALOR

Confira mais dicas do arquiteto Paulo Gomes

TOPOGRAFIA - O indicado é construir a residência em local mais alto, posicionando a residência de forma a aproveitar os ventos dominantes.

VARANDAS - Além de valorizarem esteticamente o exterior da edificação, trazem zonas de sombras com ventos permanentes.

JARDIM INTERNO - O jardim de inverno dotado de algum plano de água e tratamento paisagístico induz o movimento do ar, aumentando a sensação de frescor. 

TETOS ALTOS I - Valorizam o ambiente e favorecem a ascensão do ar quente, criando uma região de temperaturas mais amenas nas áreas mais próximas aos pisos.

TETOS ALTOS II - Ainda no caso dos tetos altos ou telhas vã (ausência de forro), é possível aplicar detalhes que funcionem como exaustores fazendo a retirada e troca do ar quente ou saturado, através de, por exemplo, o lanternim. Também é possível fazer aberturas nas empenas laterais e protegendo-as com tela, o que permite a renovação do ar.

TELHADO - mantas de isolamento e placas de isopor com pelo menos 7 centímetros de espessura posicionadas entre telhas e forro são práticas e eficazes. Originalmente, o telhado em sistema de telha vã faz a troca de calor naturalmente através dos espaços intertelhas, mas com o incômodo de permitir a entrada de resíduos indesejáveis.

CERÂMICAS - Em pisos e revestimentos, associadas aos cobogós – elementos cerâmicos vazados capazes de separar ambientes sem obstruir a movimentação do ar –, são boas para o controle da temperatura.

PEDRAS - Da mesma forma que a cerâmica, as pedras, seja sob a forma de paredes definindo ambientes, seja sob a forma de pisos em placas de granito ou mármore, trazem frescor ao ambiente.

MADEIRA – É muito bem-vinda para pisos, pois é um bom isolante térmico. Ela provoca agradáveis sensações para uso interno e traz beleza ao ambiente em suas muitas opções.

PAREDES - É indicado que as paredes de cerâmica, chamadas de alvenarias, tenham a maior espessura possível, além de serem pintadas em tons claros, evitando assim a absorção de calor. Para situações mais complicadas, prefira as argamassas antitérmicas disponíveis no mercado.

ESQUADRIAS - A disposição estratégica das esquadrias, provocando a ventilação cruzada nos ambientes, deve ser complementada com um desenho igualmente inteligente, que permita ventilação e iluminação proporcionais às áreas onde atuam. As esquadrias das cozinhas merecem atenção especial, já que mesmo com toda tecnologia antitérmica dos equipamentos, o calor produzido nesse ambiente pode se propagar por outros espaços.

PAISAGISMO - O projeto paisagístico aliado ao arquitetônico contribui com a redução da temperatura na medida em que favorece o fluxo de ventos e a criação de áreas de grande sombra, que pode ser aumentada com uso de pérgulas – estruturas em madeira, ferro, bambu ou concreto que dão suporte a trepadeiras e vegetação aérea.

Texto: Waldo Soares