Da infância pobre a prefeito de Irati: Conheça a história de Odilon Burgath

No último dia sete, Irati presenciou um novo momento em sua política. Pela primeira vez na história do município, o Partido dos Trabalhadores (PT) venceu uma eleição majoritária. O prefeito eleito, Odilon Burgath, representa a quebra de paradigma e de que o povo iratiense quer, de fato, mudanças na administração municipal. Além de ser o primeiro prefeito de um partido considerado de esquerda, Odilon, como 36 anos, é o mais novo chefe do executivo de Irati.
Apesar da turbulência que foi sua segunda-feira, um dia após a vitória nas urnas, com diversos compromissos e entrevistas, ele gentilmente compareceu à sede do Jornal Hoje Centro Sul para contar sua história, desde sua infância humilde em Inácio Martins, até o dia 7 de outubro de 2012, quando foi eleito prefeito de Irati.

Foi em Inácio que Odilon passou sua infância. No Colégio Estadual Parigot de Souza aprendeu a ler, escrever e desenvolver seu senso crítico. Aos oito anos de idade, um fato curioso (e por que não dizer premonitório) aconteceu na vida do garoto. Durante um desfile municipal, Odilon foi o escolhido de sua escola para carregar a imagem do prefeito de Inácio Martins. Após o fim da parada cívica, o menino olhou para seus pais e disse: “Eu quero ser prefeito”.
“Manifestei esse desejo, às vezes até por brincadeira, mas eu sempre fui líder em sala de aula, sempre coloquei meu nome a disposição para ajudar por onde passei. É claro que quando somos crianças imaginamos a questão de ser prefeito de uma maneira, mas eu agora eu sei da responsabilidade que é ser o chefe do executivo municipal e por coincidência do destino isso acabou acontecendo na minha vida. Deus não dá poderes que não possamos como resolver”, declarou o prefeito eleito.




Odilon Burgath nasceu no dia 15 de fevereiro de 1976 no município de Rebouças. Porém, ainda naquele ano, seus pais mudaram-se para Inácio Martins, graças ao trabalho de seu Jorge Burgath como guarda-chaves da Rede Ferroviária Federal. Sua mãe, Ivanildes, também conhecida como Vanda, era servente de escola. A infância foi humilde, mas sempre com muito amor e ensinamentos de seus pais, como comenta o futuro prefeito.

Sua mãe, dona Vanda, também se lembra do episódio. “Quando tinha oito aninhos ele desfilou com o quadro do prefeito, de terninho e gravata e aquilo foi algo lindo. No domingo, quando eu fui dar um abraço nele, depois da vitória, eu me lembrei daquele momento e me emocionei, pois sabia que ele estava realizando um sonho. Ele sempre falava para os coleguinhas de escola que um dia seria prefeito. Inclusive, quando fui votar, eu me encontrei com um antigo amigo dele que também se lembrou dessa história”, conta.
Dona Vanda também comenta das características de seu filho que o acompanham desde a infância. “Desde o primeiro dia de aula pude perceber o quanto o Odilon era independente. Eu tinha muito dó deixá-lo sozinho na escola, mas ele ficava numa boa. Outra coisa que pude perceber era sua dedicação. Desde quando ele entrou na escola, ele chegava em casa, almoçava e logo em seguida fazia seu dever de casa e isso durou para sempre. Durante o curso de direito foi sofrido, ele chegou a pegar pneumonia por amanhecer estudando”, comenta a mãe de Odilon.
Ainda em Inácio Martins, o garoto Odilon Burgath, manifestou seu primeiro interesse pela política. Ele tinha nove anos quando, o primeiro presidente civil após a ditadura militar, Tancredo Neves faleceu. “Eu me recordo que havia uma esperança muito grande de democracia. Eu não entendia direito o que significava a palavra ‘democracia’, mas sabia que era algo muito bom e muito importante para a vida das pessoas pelo o que ouvia dos pais”, afirma o futuro prefeito de Irati.
Mesmo muito jovem, ele tinha a consciência de que o processo democrático era algo que mudaria para a melhor a vida de todos os brasileiros e um de seus primeiros ídolos foi Tancredo Neves. “Eu me lembro bem que ele adoeceu e no dia 21 de abril daquele ano meu pai me acordou e disse: ‘O Tancredo morreu’. Eu, com meus nove anos de idade, chorei. Foi meu primeiro ato de entendimento de política, pois sabia que aquilo poderia ser ruim”, comenta.
Em 1986, a família se muda para Irati por motivos de saúde. Dona Vanda e seu filho mais novo, Fábio Burgath, sofriam de problemas respiratórios e como Inácio Martins é uma cidade muito fria, a decisão foi vir morar em Irati. Porém, essa transição não foi nada fácil, de acordo com Odilon: “Nossa vinda a Irati foi curiosa, pois chegamos com toda a nossa mudança dentro do vagão do trem, afinal não tínhamos dinheiro para trazer a mobília por uma transportadora ou alugar um caminhão”.
A situação ficou ainda mais complicada quando seu Jorge teve de voltar a Inácio Martins para cobrir uma vaga pendente em sua empresa. “Eu fiquei quase um ano como mãe e pai dos meninos”, conta dona Vanda.
Apesar de todas as dificuldades, Odilon afirma que seu encantamento pela cidade foi imediato. “Foi aqui que vivi o final da minha infância e fiz o Ensino Básico na Escola Municipal Francisco Stroparo”, aponta. Esta escola reserva outra história que demonstra a liderança e senso de dignidade de Odilon desde criança. Dona Vanda conta que na primeira turma em que seu filho estudou, o professor responsável pela sala agradava às crianças vindas de famílias com melhores condições sociais e chegava a humilhar os mais humildes. Já com a noção do que estava acontecendo, o garoto pediu a dona Vanda que conversasse com a diretoria da escola para que ele fosse substituído de sala. “Ele nunca aceitou essas situações”, afirma. Odilon Burgath também estudou na Escola Estadual Nossa Senhora das Graças e no Colégio São Vicente de Paulo.
Formado em três cursos superiores, sua primeira graduação foi em Ciências pela antiga Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Irati (FECLI). Nesse espaço de tempo ele já trabalhava como secretário do Colégio Antônio Xavier da Silveira e posteriormente como funcionário da Unicentro na assessoria de extensão e cultura.

Após a conclusão do curso de Ciências, Odilon fez Matemática na FAFI em União da Vitória. Foi logo no primeiro dia de aula que sua vida tomou um novo rumo. “Eu conheci minha esposa, Andreia. A nossa história é interessante. Nós nos conhecemos no ônibus da universidade, no primeiro dia de aula. Eu enrosquei a espiral do caderno no vestido dela e nós rimos muito daquela situação e a partir disso começamos a ter mais contato e começamos a namorar. Estamos juntos até hoje”, afirma Burgath. Andreia e Odilon estão juntos há 18 anos e têm duas filhas: Ana Letícia de oito anos e Gabriela de cinco.
Aos 22 anos, ele já era formado em Ciências e Matemática e foi a partir disso que iniciou sua carreira como docente. “Lecionei matemática na maioria dos colégios da zona urbana”, afirma. Sua carreira como professor, também rendeu um dos momentos de liderança em sua vida. Percebendo a falta de condições de trabalho e apoio aos docentes iratienses, Odilon fundou o núcleo da APP – Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná em Irati.

O prefeito eleito também foi o fundador da Associação de Moradores do Bairro Alto da Glória. Ele conta que havia um grande problema com a falta de pavimentação no bairro e isso o motivou a montar a associação que reivindicaria por melhorias na localidade.
“A partir disso, conseguimos a pavimentação e hoje o bairro está bem valorizado. Isso foi um dos meus primeiros trabalhos como líder, de fato. Na associação nós sempre estivemos atentos e todas as melhorias que eram possíveis para o bairro Alta da Glória foram feitas enquanto eu era presidente da associação”, orgulha-se Odilon.
Em 2003 Burgath passa no concurso público e torna-se funcionário da Justiça do Trabalho. Foi a partir disso que surgiu o interesse em fazer o curso de Direito, no qual se graduou em 2010. Em 2012, foi aprovado no exame da Ordem dos Advogados do Brasil, mas por ser funcionário público, nunca exerceu a advocacia.
A ideia de sair candidato a prefeito não é algo antigo. “Nós sentimos a necessidade de reestruturar o Partido dos Trabalhadores na cidade. Em um partido com a grandeza do PT faltava eleger vereador e prefeito em Irati”, afirma Odilon.

Desde 2010 começou-se o trabalho de renovação e reestruturação do partido. “Com tudo isso, pela minha liderança e por estar na presidência do partido, meus correligionários apostaram no meu nome e eu recebi essa missão de braços abertos. Trabalhamos arduamente nesses três meses de campanha para chegarmos nesse resultado de vitória”, conta.
No começo da campanha pouco de dizia e se apostava no PT e em Odilon Burgath. Porém, ele conta que começou a perceber uma mudança nesse cenário a partir da metade da campanha. Depois dos debates, das entrevistas e do corpo-a-corpo, os cidadãos iratienses passaram a conhecer e acreditar em seu trabalho.

“Desde o primeiro programa no rádio, primeiro debate, enfim, colocamos a ideia de que Irati precisava de mudanças, de um novo momento, de uma nova gestão sem antigas amarras políticas e nós sentimos que o povo iratiense foi receptivo a essa idéia, pois era isso o que todo mundo queria, mesmo que essas pessoas fossem manifestando aos poucos. Cada vez mais o índice de pessoas indecisas foi caindo e a nossa candidatura foi ganhando esse espaço”, conclui Odilon.
Emocionada, dona Vanda fala sobre seus filhos Odilon e Fábio. “O Odilon é uma pessoa humilde, dedicada, muito competente e também muito exigente, pois ele puxou ao pai e á mãe. Meu dois filhos são abençoados, nunca me deram trabalho, nunca beberam, nunca fumaram, são meninos maravilhosos. Eu só tenho a agradecer a Deus pelos meus meninos, pois eu fui abençoada”.

No final da entrevista, Odilon Burgath foi questionado quais motivos fariam dele um bom prefeito. Eis a resposta:
Eu serei um bom prefeito para Irati, pois sei bem o quão importante é escutar o povo e buscar uma solução para as suas necessidades. Assim sempre fiz em minha vida profissional, enquanto fui funcionário de escola, professor e hoje, conciliando patrão e empregado na justiça do trabalho. Com essa experiência de sentir o problema e não medir esforços para que uma solução aconteça, quero e vou colocar a disposição da população, a partir do dia 1º de Janeiro. Eu sei de todas as potencialidades que Irati tem, seja na parte de nossa natureza que é tão bonita, na parte cultural, social, ou seja, nós temos apenas que fornecer os meios e eu serei uma ferramenta, junto com o Renato, para isso. Vamos buscar todo o apoio do governo do estado, já nos próximos dias quero conversar com o governador, mostrar que embora não sejamos da mesma sigla partidária, o estado tem que investir em Irati. Vamos buscar todo o apoio do governo federal, pois teremos uma Secretaria do Planejamento bastante autônoma, quer possa buscar os convênios nos mais diferentes ministérios, pois muitas vezes existe a verba a ser repassada, mas ela está parada por falta de apresentar bons projetos.
Serei um bom prefeito, pois tenho vontade de fazer a diferença para esta cidade que é pólo de uma região, por isso, tem que ser exemplo de desenvolvimento econômico e principalmente na qualidade de vida das pessoas. Que haja um desenvolvimento social, que o IDH suba de médio para elevado. É claro que isso é um projeto de médio a longo prazo, mas com a vontade e ideia que temos e com o apoio da população de Irati, eu sei que vamos fazer um governo de grandes resultados.
A mensagem que passo à população iratiense é de otimismo. Todos podem confiar em um projeto com novas pessoas, num projeto no qual teremos o orçamento participativo, discutindo com cada comunidade as prioridades a serem contempladas. Acima de tudo, digo que a esperança venceu o medo em Irati. O medo da mudança, o medo de interromper laços do passado que não proporcionaram que nossa cidade crescesse. Esses próximos quatro anos serão de muito trabalho, de braços dados com a comunidade.

Texto: Guilherme Capello, da Redação
Fotos: Arquivo pessoal de Odilon Burgath

Publicado na edição 640, 10 de setembro de 2012.