Rio Azul completa 92 anos comemorando seu crescimento econômico

Rio Azul – A vida de uma pessoa que mora no interior é simples, pacata e discreta. Em Rio Azul que completa nesta quarta-feira, dia 14 de julho, 92 anos de Emancipação Política, não é diferente. A maioria da população passa boa parte do tempo se dedicando ao trabalho na agricultura, principal fonte de renda das famílias das mais de 30 comunidades, que formam o município de 13.154 habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em 2007.
A rotina dessas pessoas é quase sempre a mesma. Levantar lá por seis horas da manhã, tomar café e, em seguida, partir para mais um dia de trabalho em sua lavoura. Mas antes é hora de alimentar os animais, como porcos e galinhas, tirar o leite das vacas, soltar os cavalos e éguas para pastar e dar uma olhada em toda sua criação, inclusive os domésticos, como gatos e cachorros, não se esquecendo de ligar o radinho de pilha, para ouvir as primeiras notícias do dia, saber qual a previsão do tempo, que dia é melhor plantar, colher ou semear os produtos agrícolas ou ouvir sua música preferida, enquanto prepara a sua cuia de chimarrão, para, em seguida, iniciar mais um dia de luta.
Suas mãos e pés calejados, seus corpos cansados, suas expressões e semblantes sérios escondem histórias interessantes, retratos de um dia-a-dia bastante árduo, em que, muitas vezes, a enxada é a principal amiga. Mesmo assim, todas essas pessoas são felizes, não reclamam da vida que têm, e, muitas vezes, não trocam o sossego do campo pela vida agitada da cidade ou de um município maior. Principalmente porque o modo de vida simples e os costumes trazidos pelos primeiros habitantes foram alterados radicalmente. As diversas transformações podem ser percebidas essencialmente com a evolução da tecnologia, que mudou a vida das pessoas mesmo em uma cidade pequena, com uma população que vive basicamente do meio rural.
Conversando com qualquer cidadão rio-azulense, hoje em dia, percebe-se a felicidade de um povo que sofreu, lutou, mas que começa a colher os frutos de sua organização. Para que uma árvore dê frutos, é necessário que ela se desenvolva completamente. Com Rio Azul não foi diferente. Como toda cidade do interior, foi se desenvolvendo de forma tímida. Aos poucos, a população que vivia só do extrativismo, principalmente, com a venda de erva-mate e madeira, começou seu progresso.
A evolução da agricultura, com o cultivo de batata, milho, feijão e outros produtos, fez com que a esperança de ter um futuro melhor, voltasse a ser um sonho possível e real para os rio-azulenses. Com o passar dos anos, as instalações foram melhorando. Há alguns anos, por exemplo, não existia água encanada, não havia como investir em bens materiais como a compra de veículos, eletrodomésticos, entre outros produtos, porque as famílias eram numerosas e o pouco que ganhavam tinha que ser destinado à alimentação.
Hoje em dia, a mesa das pessoas é farta e alimento não falta. Além disso, a população tem direito a luz elétrica, tratamento de água e esgoto. Foram construídos asfalto e calçamentos, a educação evoluiu com a construção de colégios e as indústrias foram se estabelecendo, dando melhores condições financeiras e gerando emprego. “Houve um crescimento no comércio, quase não se viam lojas e mercados na cidade, agora, em cada esquina, há um estabelecimento desses. O número de casas também aumentou radicalmente. Os agricultores, quase todos, têm seus carros, antes eram carroças e a agricultura deixou de ser tração animal e passou a ser tudo com máquinas e tratores. Então, nesse aspecto, teve desenvolvimento”, conta o historiador do município e atual secretário administrativo da prefeitura de Rio Azul, Ceslau Wzorek.
Prova dessa transformação é que mesmo as pessoas mais humildes, possuem automóveis, modernos equipamentos como tratores, implementos agrícolas, equipamentos de proteção, que substituíram, em muitas situações, o trabalho manual realizado antigamente, que dificultava ainda mais a vida desses trabalhadores rurais. Além disso, boa parte da população possui estabilidade financeira, para viver em paz e aconchego com suas famílias.
Mas essa situação só começou a mudar a partir da década de 1990, quando Rio Azul teve seu maior salto econômico já verificado desde sua emancipação política. Segundo Ceslau, a instalação da Schreiber (empresa alimentícia que fabrica queijos, em 2000) e de várias indústrias madeireiras, nos últimos 20 anos, foram alguns dos motivos que trouxeram desenvolvimento ao município. “O crescimento econômico de Rio Azul aconteceu com o desenvolvimento da agricultura, principalmente quando os produtores rurais começaram a plantar fumo. Além disso, a implantação de indústrias madeireiras, a instalação da Schreiber e do Parque da Pedreira movimentaram todo o município, com isso houve uma expansão do comércio e do setor de prestação de serviços. Então todos esses fatores, aliados a circulação de pessoas que vieram trabalhar nestas empresas fizeram com que o setor econômico se estabelecesse e crescesse gradativamente”, revela Ceslau.
Já na opinião do diretor artístico e comercial da rádio Thalento FM de Rio Azul, Alonso Félix, a empresa Schreiber foi importante na área de marketing do município, pois a cidade passou a ser conhecida em todo o Brasil por meio da exportação de queijo, para várias lojas do Mc Donalds de todo o país.
Cultivo de fumo eleva nível financeiro da população
De acordo com os produtores rurais, outro fator que gerou riqueza e que proporcionou melhores condições de vida as pessoas foi o cultivo de fumo, que começou de maneira tímida a ser plantado, em 1958, pelas famílias Wyrytycki, Rymsza, Kruk e Zem que foram os primeiros produtores incentivados pela empresa Souza Cruz. “De início, as companhias financiavam a construção da estufa e o agricultor pagava com o lucro da safra e, hoje, o nível econômico das pessoas melhorou bastante principalmente, por causa do cultivo do fumo. Então isso trouxe riqueza e gerou um aumento no comércio. Também houve o desenvolvimento com a construção de asfalto em várias ruas da cidade”, relata Ceslau.
Hoje, a venda de fumo é a principal fonte de renda dos produtores rurais, 80% da população faz o plantio e há várias companhias especializadas que trabalham, ensinando os principais procedimentos de semeadura, plantio, colheita, secagem, estocagem e transporte, dando toda a assistência ao fumicultor.  “O fumo fez sucesso porque a única perda de tempo é fazer a estufa. Não há a necessidade de uma grande quantidade de terreno para a produção. Em um pequeno pedaço de terra uma família pode sobreviver. O único risco é a desvantagem de ter de trabalhar com produtos químicos usados para que as lavouras não sejam afetadas por alguma praga, que causam perigos à saúde das pessoas”, afirma Ceslau.
Mesmo o cultivo de fumo sendo a grande fonte de renda do município, na opinião do tabelião e ex-prefeito de Rio Azul, Mário Pietroski, a população precisa de apoio do poder público para investir em outros tipos de lavouras, para que os agricultores não comecem a deixar o meio rural, temerosos que suas plantações não ofereçam lucro. “Hoje nós precisamos muito da diversificação da agricultura. O poder público criando a estrutura para implantar diversos produtos e analisar o qual tem a aceitação maior, mercado e garantias. Porque em minha opinião, o fumo atingiu o seu limite e a tendência é haver um decréscimo”, explica Pietroski.
População sente falta de hábitos culturais comuns em décadas passadas
Mesmo com todos os pontos positivos e a importância da evolução da cidade, algumas pessoas sentem saudade da vida que levavam há alguns anos. “A cada dez anos tem mudado tudo, não há como acompanhar mais, nós queremos que volte sempre aos tempos antigos, mas não é assim, e cada vez está melhor, não dá para dizer que piorou. Antes tinha que só guardar dinheiro, agora você investe, tem mais conforto nas casas, tem água encanada, mesmo assim, as pessoas não são felizes, porque não sabem aproveitar esses privilégios”, reflete a agricultora aposentada, Josefa Romanhuk.
Não há dúvida para a população de que as mudanças são benéficas e trazem mais conforto e bem-estar às pessoas. Mas, na visão de algumas delas, a tecnologia tem deixado as pessoas mais alienadas, sem tempo para gestos simples como uma boa conversa. O bate-papo e as rodas de chimarrão, tão comuns entre vizinhos, parentes e amigos, perderam espaço para a televisão, que se transformou na grande fonte de entretenimento da população. Muitos apontam a falta de tempo e a correria do dia-a-dia como o grande vilão da história. Já as pessoas mais velhas preferem se lembrar de como era o mundo, há alguns anos, quando a vida simples e pacata tornava as pessoas mais felizes do que a agitação de hoje.
Segundo Ceslau, todas essas transformações mudaram a vida das pessoas nos últimos anos, a evolução da tecnologia tornou o ser humano mais preguiçoso e excluiu os principais hábitos culturais da população mundial. “Hoje não existe outro hábito cultural, é só televisão. Antigamente, tinha-se o costume de ir à casa do vizinho tomar um chimarrão, bater papo. Antes, as pessoas mais velhas trabalhavam o dia inteiro e, então, no final da tarde, diziam: ‘Vou tomar um chimarrão na casa do compadre’. Hoje essa geração mais nova, não tem mais interesse em conversa, eles são mais ligados à TV”, conclui Ceslau.
Rio-azulenses apontam agricultura e lazer como setores a serem investidos
Pensando no futuro, alguns rio-azulenses entendem que deve ser feito um processo de reestruturação de alguns setores, principalmente a agricultura, para que as pessoas possam usar a terra de várias maneiras para subsistência, de maneira racional e sem extravagância de espaço. “Eu comento com agricultores que devido à geografia de determinados terrenos não é possível o cultivo de algumas plantações. Por isso aconselho a plantar algumas espécies madeireiras, porque daqui a alguns anos seus filhos, netos ou bisnetos, vão aproveitar aquela madeira. Com isso, não estamos apenas protegendo o meio ambiente, mas também preparando o futuro”, analisa Pietroski.
Já na visão de outras pessoas os governantes de Rio Azul precisam começar a olhar para alguns setores que foram deixados em segundo plano. “Cada prefeito procura fazer dentro do possível, algo melhor que o outro. Mas já temos uma boa infra-estrutura e desenvolvimento, o que nos falta é investir um pouco mais no campo do lazer, notamos que não temos um clube, para que a juventude possa passar dias alegres junto de seus amigos e familiares”, sugere o professor, Osdival Pallu.
Texto: Rodrigo Zub
Publicado na edição 527, em 14 de julho de 2010