Répi niu íar, Merislava

Na voltinha depois da comilança nas noite quente, quando os mormaço dá de comê o cansaço i tudo fica mais pesado, mais devagar, mais priguicento; uns olhar mais de atenção pras coisa que insiste em acontecê sem a vontade de quem essas coisa vai mexê na vida. Uma rua cheia de mato cas casa de jardim feio, cheios de mato i de garrafa de plástico vazia i de bosta de gato i de cachorro i de gente. Cas parede isburacada i suja, de cerca, quando tinha, caídas. Um véio agachado, fumando paiêro, como se não existisse mundo, nem pessoas, nem o piá que corria atráis da bola desgovernada. Ele, o piá, cuma barriga tão istufada que decerto as lambriga tavam fazendo os reveião lá, já fazia uns treis ano. Na poquidão da miséria, uma mocinha de vistidinho florido, bem curtinho, saía correndo dum portão pindurado por um pedaço de rédia de cavalo, discalça, sendo siguida por um gigantão sem camisa, também discalço, que era siguido por uma otra menos mocinha de saia istampada de jibóia inrolada nas perna dum tuiuiú. Essa, trazia uma vassora na mão i gritava umas palavra que não se comprendia muito bem mais que dava pra sabê se tratá de alguma coisa de fila i de luta. Na isquina em que tudo isso acontecia um cachorro guaipeca, de certo sarnento; de certo purguento;  de certo perebento; co rabo irguido i fazendo uma força danada como se quizésse virá um camelo. Um pé de cove se istendia do lado duma casa que tinha uma gaiola cum macaquinho de brinquedo. Na ponta do pé de cove um laço de fita de presente de natal. Uma loca, saída não se sabe da onde, apareceu gritando coisas que faziam todas as pessoa arregalá o zóio. Dizia de ladrão i de bandido i da gelera que vai matá as pessoa qundo derretê. O véio agachado continuava fumando o paiêro i uma barata tonta carregando um tatu bola veio quebrá as normalidade das coisa porque a música que saía das antena dela ensurdava todo mundo. A música istorava as oreia das pessoa i falava só coisa feia. I vinha i gritava. I vinha i gritava mais. I vinha de novo i gritava mais ainda. De repente uma musiquinha mais conhecida começô a saí da antena da barata: adeus ano véio, feliz ano novo, que tudo se realize...

-      Alô, seu Robis? Carecia de isperá tanto assim pra me telefoná?

-      Bom dia amiga, bom dia irmã...

-      De novo não, seu Robis. Já não chega daquela veiz que o desafinamento foi maior que o encantamento i deu no que deu?

-      Como vai minha amigona.

-      Amigona? Só porque ficamo tanto tempo sem se vê já se distanciô de tal manera que virei amigona tua?

-      E isso não é bom?

-      Claro que não. Amigona é coisa de quem não consegue dizê simplesmente amiga. Daí as coisa saírem i tarem desse jeito.

-      Da minha parte, amiguinha, amiga ou amigona, é da maior sinceridade. A senhora sabe disso. A propósito, além de interromper o pesadelo, aproveito para convidá-la para um almoço. Temos que celebrar esse final de ano que foi tão espetacular.

-      O final de ano?

-      O ano todo!

-      Você achô mesmo ou tá de gozação pro meu lado.

-      Achei nnão. Tenho certeza. 2010 foi grande e iluminado em todos os momento.

-      Dê um exemplo de iluminação.

-      Do quê?

-      Um exemplo pra justificá as afirmação.

-      Um não. Posso citar um montão de exemplos.

-      Pode ser só um mesmo.

-      Não, faço questão de falar de um montão. A senhora vem almoçar comigo e, na prosa eu falo.

-      Tamo combinado.

-      De qualquer maneira, na repetição do que lhe disse no ano passado, vamos que não dê certo da sua vinda, já lhe desejo que 2011 seja o melhor ano do resto na sua vida. Até que chegue 2012, que será mlehor ainda; 2013, que será melhor ainda... e assim por diante. Ok?

-      Zzzzzzz.....!!!!!zzzzzzzzz....!!!!!

-      Dona Merislawa? Dona Merislawa?... Não é que a danada dormiu mesmo?

Robson Miguel Camargo

Publicado na edição 551, em 29 de dezembro de 2010