Amor e atenção são fundamentais no resgate de adolescentes



Irati – Adolescentes que durante todo o ano frequentaram as oficinas promovidas pelo Programa de Medidas Sócioeducativas, através da Secretaria Municipal de Bem Estar Social de Irati, participaram de um evento de final de ano na última quarta-feira (15). Foram apresentadas as atividades desenvolvidas nas oficinas de capoeira, pintura e beleza da mulher.

As técnicas responsáveis pelo atendimento do Programa de Medidas Sócioeducativas são a psicóloga, Kelly Kusnik, e a assistente social, Gabriele Rezende. A assistente social explica que o programa atende 160 adolescentes, alguns porém, já em processo de desligamento. “Eles não estão mais cumprindo as medidas, mas ainda há o trâmite judicial. Esses adolescentes vêm até a Secretaria contar o que estão fazendo, se estão na escola ainda e nós elaboramos relatórios”, conta Gabriele.

Além das oficinas, os jovens também participaram ao longo do ano de grupos terapêuticos através de uma parceria com a Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro). Segundo a assistente social, para cada adolescente atendido pelo Programa de Medidas Sócioeducativas é traçado um perfil, e a partir disso ele é encaminhado para a oficina que se encaixa melhor.

“A maior parte dos adolescentes que se apresentaram cumprem medidas mais leves, geralmente por briga e até por encaminhamento do Conselho Tutelar por medida de proteção. Muitos têm conflitos em casa, por exemplo, porque o pai é alcoolista. Assim, o Conselho encaminha para nós fazermos o acompanhamento familiar também”, completa Gabriele.

Para a secretária de Bem Estar Social, Maria Helena Orreda, o número pequeno de adolescentes que se apresentaram perante os 160 atendidos, se deve ao fato de muitos já estarem recuperados e outros, que ainda não perceberam a importância do trabalho desenvolvido dentro do Programa. “Estes, ainda não se convenceram o quanto podem crescer através das oficinas e deste apoio que nós estamos dispostos a dar. Não só tecnicamente enquanto equipe de psicologia e de assistência social, mas também na parte afetiva”, observa.

Maria Helena afirma que acaba se criando um vínculo afetivo entre o professor e o aluno. Durante o ano, os adolescentes não receberam apenas conhecimento técnico de capoeira, pintura e de comporta-mento, mas receberam também muito amor, atenção e carinho. “A partir do momento em que o aluno chega na oficina e pode abraçar o instrutor ou o técnico, este adolescente foi valorizado na sua essência. Não foi tratado como um menino ou como uma menina que veio até nós por uma determinação judicial, mas ele foi visto como um ser humano, como um jovem em desenvolvimento que precisa acima de tudo ser amado”, ressalta a secretária.

O trabalho desenvolvido ao longo de 2010 terá prosseguimento no próximo ano e todos os adolescentes que iniciaram as oficinas terão a oportunidade de continuar crescendo. “Que cada um leve daqui esse sentimento de amor verdadeiro e o nosso crédito, este que nós demos durante todo o ano e que vamos continuar durante o próximo. Tenho certeza que vários adolescentes que estão aqui tem um papel muito importante dentro da sociedade e nós acreditamos nisso. Que todos sejam profissionais bem sucedidos, porque não se sabe qual o futuro de cada um, mas nós podemos dar o nosso crédito de confiança e o nosso apoio para aquele que realmente quiser e estiver disposto a fazer sua mudança interior. A transformação tem que começar dentro de nós, para que cada um possa conquistar todos os seus objetivos de vida”, conclui Maria Helena.

Projeto “Arte em Movimento”

As oficinas de capoeira ministradas pelo instrutor do projeto “Arte em Movimento” e graduado Vandamme, Tiago Jotalmar Plockacz Sá, foram realizadas a partir de abril de 2010, na sede do Conselho da Comunidade da Comarca de Irati. O instrutor conta que depois que os meninos são encaminhados pelo Programa de Medidas Sócioeducativas, o primeiro passo é ouvi-los acerca do relacionamento dentro da casa e só então, eles começam a ser inseridos dentro da capoeira.

“Trabalhamos a capoeira mais como filosofia de vida e como cultura do que ela enquanto luta. Buscamos evidenciar a parte folclórica, para que eles possam se expressar através dos movimentos. No próximo ano vamos implantar trabalhos culturais através da capoeira, como oficinas teatrais, composição de músicas de samba e de capoeira, e alguns temas folclóricos do Nordeste ligados a capoeira, que são as puxadas de rede”, acrescenta Sá.

Outros eixos trabalhados são a recuperação da auto-estima e discussões de alguns temas dentro da oficina. O instrutor lembra que em uma das aulas um aluno citou que acreditava que o Zumbi de hoje, seriam os políticos. “Esse aluno acredita que são eles que devem trabalhar por nós e pela sociedade. Então é importante despertar essa consciência social, para assim criar a cidadania junto a eles”, considera.

Sá destaca a doação dos alunos que durante todo o ano participaram das oficinas, mesmo morando em bairros localizados a grande distância do Conselho da Comunidade. “Eles se doaram porque aceitaram a ideia de começarem a mudança por eles. O importante é que eles não esperaram o outro mudar, cada um quis mudar por dentro e com o pensamento: primeiro eu vou mudar a minha vida, assim nós conseguimos mudar a dos outros que chegarem ao projeto”, frisa o instrutor.

Em 2011, o objetivo é fazer com que estes alunos continuem no projeto, mas trabalhando em conjunto com o instrutor. Através de depoimentos vão poder contar para os novos alunos as suas histórias e como o projeto mudou as suas vidas. Outra mudança será a participação de meninas nas aulas de capoeira.

“O trabalho com a mulher na capoeira não exige tanto a questão física, mas por outro lado, podem-se passar movimentos muito mais bonitos porque elas têm mais elasticidade naturalmente. Essa inserção vai permitir que homens e mulheres trabalhem juntos o convívio social, para que possam melhorar em casa e assim estar mostrando para os outros que chegarem no projeto que é possível mudar. As recompensas que eles vão ter são muito boas, não materiais, mas recompensas para a vida deles”, salienta Sá.

O aluno, Rodrigo Soares da Silva, lembra que antes de entrar no projeto saia muito a noite e frequentava locais que hoje já não vai mais. “A capoeira ajudou muito para que eu melhorasse o convívio com a minha família. Tenho agora o incentivo deles para continuar nas aulas”, revela Rodrigo.

Beleza da Mulher e Pintura

As meninas do Programa de Medidas Sócioeducativas participaram das oficinas: Beleza da Mulher e Pintura em Tela. A professora, Roseli Maieski Moreira, trabalhou com estas adolescentes o resgate da auto-estima através de cuidados com a imagem pessoal. Receberam dicas de higiene pessoal, de como tratar e cortar o cabelo e também como pintar as unhas.

Já o trabalho da Oficina de Pintura em Tela era a princípio apenas terapêutico, mas resultou em belos trabalhos e a equipe técnica do Programa decidiu por fazer uma exposição das obras. A professora, Lucy Hamad Cardoso, recorda que no início encontrou certa dificuldade em ministrar as aulas devido à falta de interesse de algumas alunas. “Mas, aos poucos e com jeitinho nós fomos incentivando e elas começaram a gostar da pintura. Estamos nos tornando amigas, porque não trabalhamos como uma sala de aula, é um espaço para pintar, se divertir e aprender. Os trabalhos que elas produziram ficaram maravilhosos. Quando começamos em fevereiro, as meninas não sabiam nem pegar no pincel”, considera a professora.

De acordo com Lucy, muitas alunas têm talento para a pintura e desejam ensinar a pintar se tiverem esta oportunidade. Outras, pretendem comprar as tintas e confeccionar panos de prato para vender. “Elas viram que é um trabalho gostoso e que pode dar um lucrinho. Quero agradecer muito a equipe técnica que me incentivou, e também não poderia esquecer a minha querida amiga, Ivone Bakaus, que deu muita força no começo do trabalho e que infelizmente não está mais aqui para ver o resultado. Ao ver estas meninas hoje, fico muito feliz por poder ter ajudado neste processo”, encerra a professora.

Texto: Marina Lukavy, da Redação

Fotos: Adriana Souza, da Redação

Publicado na edição 550, em 22 de dezembro de 2010