Coluna: Filosofia de Botequim


Com mais de botequim que de filosofia




Por Adailton Machado*
Quem nunca ouviu a frase “O Brasil é o país do futuro!”? Curiosamente a frase vem de um escritor austríaco, Stefan Zweig, radicado em Petrópolis-RJ nos idos dos anos 40. Mas como ser o país do futuro quando não se consegue viver plenamente em sociedade nas nossas próprias cidades, em nossa realidade local?
Tome-se por exemplo a cidade de Irati, que viveu os ciclos da madeira, batata e cebola, projetando um futuro de glória há 50 anos atrás. O que há hoje dessa “glória”? E por que sempre buscamos “heróis”, “salvadores da pátria” em quem possamos atribuir as conquistas?
Quando criança, o ser humano acredita em heróis e ao crescer parece que a descrença toma conta e deixa a oportunidade que cada dia nos traz em sermos “salvadores”. A concepção de pai-herói (incluindo nesse conceito também as mães super-heroínas) é um pouco disso. Quem em uma infância tradicional conservadora não teve a seu pai e/ou mãe como herói(s)? E sabe por que são heróis? Porque são pessoas que lutam, trabalham, tudo fazem com o objetivo de construir algo para um pequeno mundo que vale a pena para eles – a família.
A família nada mais é que a unidade coletiva mais simples (e perfeita, inclusive por suas imperfeições), a nossa comunidade em casa. Não à toa, o Brasil é constituído tendo a família como base da sociedade. Como pode uma casa ser construída sem sua base, sem sua fundação. Mutatis mutandis...
A noção de herói como trabalhadores construindo algo (similar a obra de uma casa) é a mesma que se precisa empregar também em âmbito externo, fora do seio familiar. A família é a base da sociedade, mas uma construção é feita com mais do que só a base. O mesmo esforço para que a família seja feliz e tenha conforto deve ser aplicado, num segundo estágio, na comunidade local. Assim é que precisamos agir, nas nossas igrejas, nos nossos locais de trabalho, nos clubes, nos bairros. Essas são as paredes para se construir um futuro melhor.
Então, cabe a pergunta: será que a sociedade tem empregado, ao longo do tempo, uma dedicação de herói nas interações sociais? E será que tal fato não possui relação direta em continuarmos a ser sempre “o país do futuro” e esse futuro nunca chegar? Será que a própria sociedade iratiense não possui sua parcela de culpa se a glória vislumbrada há 50 anos não foi ainda alcançada?
Apontar culpados não antecipa um futuro que se deseja, mas reconhecer deficiências e agir para inibi-las pode trazer a um presente que se quer. Enxergar as falhas e agir com consciência social, produzirá bons filhos, famílias estruturadas, comunidades solidárias, cidades desenvolvidas, Estado forte e um país do presente.
Ah! E sabe aquele escritor austríaco que considerou o Brasil como “o país do futuro”? Nem ele acreditava nisso, se não ele não teria se matado alguns meses depois de chegar ao Brasil.
* Adailton Machado é advogado; servidor público federal (fiscal de transportes terrestres) e mestrando em Desenvolvimento Comunitário na Unicentro – Universidade Estadual do Centro-Oeste.

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