O primeiro Cine Theatro Central foi
inaugurado em 28 de agosto de 1920. Era o orgulho da cidade de Irati. De madeira, mas
com dois andares, camarotes, instalação sanitária, bar e anexos.
Dario Araújo pintava os cartazes nas
gaiotas - carroças pequenas com duas rodas que eram puxadas por um boi - que
vendiam pães e percorriam as ruas da cidade com garotos batendo latas para
chamar a atenção par ao filme do dia.
Valdemar Pohl e Udo Krieger se revezavam
na manivela do projetor Pathe Freres, movido a força manual. Como os filmes
eram mudos com legendas em português, as sessões eram abrilhantadas com música
ao vivo. No piano Essenfelder, a senhora Alice Machuca, a flauta era de Luiz
Meneguello e o violino de Ladislauzinho. Uma legião de músicos animou as
sessões durante esses anos históricos.
Nos intervalos obrigatórios, o bar do
cinema oferecia cafezinho, bebidas, doces e sorvetes. O sorvete era fabricado
pela empresa em sorveterias manuais com gelo da Adriática de Ponta Grossa, que
vinha em caixas de madeira e aguentava semanas no porão do cinema, protegido
por serragem de madeira.
Em 1930, o fundo musical passou a vir de
um Phonografo, com amplificador de válvulas. O aparelho era importado da Alemanha
e causava estupefação pela música que chegava aos limites da cidade. Vinha
gente de toda parte apreciar o fenômeno.
Até então, as sessões de cinema também eram
anunciadas com rojões do Zacarias Fogueteiro. Os foguetes ficaram reservados
para o dia do aniversário do cinema, sendo que a quantidade de rojões era
proporcional aos anos do cinema.
Em 1993, o Cine Theatro Central já
exibia filmes sonoros. O Vitafone era a conjugação de filme com disco. Como
consequência, algumas vezes faltava sincronização entre filme e disco.
Acontecia de o bandido cair antes do tiro do mocinho, ou a mocinha falar com
voz de vilão. A solução do problema veio em 1935, com o Movietone, onde a faixa
sonora era gravada no próprio filme.
Em 1936, o Cine Theatro Central passou a
funcionar em nova sede, de alvenaria, cabine com dois projetores e poltronas
modernas. E em 1948, o Central foi ampliado para 950 lugares.
O grande dia do cinema iratiense era
sempre na sexta-feira santa, quando o filme Paixão de Cristo era exibido em
sessões corridas, desde as primeiras horas do dia até a madrugada. As ruas
ficavam repletas de carrocinhas.
Nesse tempo, o cinema era diversão
predileta do povo e o ponto de encontro da cidade. A sessão das 20h, no
domingo, era um desfile de elegância e o ponto de encontro dos namorados.
O cinema era o lugar de encontros
sociais, culturais, políticos e artísticos da cidade. Ali se realizavam bailes
carnavalescos, colações de grau, comícios políticos, cerimônias cívicas,
consertos musicais, festas e promoções beneficentes.
Frequentemente o Central era cedido sem
qualquer remuneração para arrecadar fundos para o Hospital, Igrejas e
instituições de caridade.
O Cine Theatro Central foi o cinema que
mais permaneceu nas mãos de um único proprietário, João Wasilewski, que
comandou o cinema de 1920 a 1982, totalizando 62 anos.
A televisão trouxe profundas
modificações nos hábitos do povo e o cinema sofreu abalo na sua posição de
importância. João Wasilewski foi uma das poucas pessoas que viveu todo esse
ciclo, dos primórdios ao apogeu, até a atual fase do cinema mundial.
Depois do fechamento do Cine Theatro
Central veio o Cosmos Cine, que iniciou suas atividades em 1987, sendo fechado
em 1993. Seis anos depois, o Vimark Cine foi inaugurado no dia 10 de julho de
1999, tendo como patrono João Wasilewski.
Em 2005, o cinema passou a ser
administrado pela Prefeitura Municipal de Irati e pela Fundação de Apoio ao
Desenvolvimento da Universidade Estadual do Centro-Oeste, passando assim a se
chamar Cine Irati-Unicentro. Atualmente, o espaço funciona como Centro
Cultural.
Fotos: Acervo Museu Municipal de Irati
Texto: Ana Paula Schreider/ Hoje Centro
Sul