Após reconhecimento como esporte, poker cresce na região

Desde 2012, o poker Texas hold’em, uma modalidade de jogo de cartas, é reconhecido pelo Ministério dos Esportes do Brasil como uma atividade esportiva, entrando na categoria de esportes da mente, como o xadrez. Com essa legalização da modalidade, o esporte começou a crescer exponencialmente no Brasil e a região do Centro Sul do Paraná tem acompanhando esse crescimento.

O primeiro contato dos novos jogadores com poker costuma  ocorrer da mesma forma: através da internet. Isso acontece pela facilidade de acesso e esperança de ganhos. A inserção de softwares do jogo no país há vários anos, com plataformas em português, é  um dos fatores que contribuiu para isso.  “Meus amigos me falaram do poker online e eu fui ver como funcionava, logo aprendi as regras e comecei a jogar seguidamente”, relata Jonh Martins, jogador que vê como um grande ponto positivo poder jogar sem investir dinheiro e mesmo assim concorrer a premiações.


@Sergio Popo/Hoje Centro Sul
Na região
Com esse primeiro contato através da internet e, principalmente, após a regulamentação, o jogo começou a ter mais adeptos e a migrar para os jogos ao vivo. Nisso, começaram a surgir clubes e home games (clubes de acesso restrito) na região. Foi através deles que o reboucense Lucas Krol, que se descreve como profissional do poker, conheceu o esporte e logo começou a se envolver. “Fui jogar um dia para aprender e de cara já curti, então nunca mais parei de jogar e conhecer mais o esporte”, conta Krol, que hoje em dia até organiza home games para seus amigos, além de participar de torneios na região.
Vinicius Marcello

A maioria desses torneios que Lucas participa é em Irati. O maior deles realizado recentemente foi em uma grande casa noturna da cidade e a premiação ultrapassou os seis mil reais. Vinicius Marcello foi o organizador da primeira edição e considera o esporte já uma realidade na região. “Nos últimos dois anos tem crescido muito, principalmente porque quebrou aquele paradigma de que é um esporte só para ricos, não, todos podem jogar. O torneio foi uma prova desse sucesso, tivemos 48 jogadores de toda a região aqui”, explica Vinicius, que espera mais jogadores ainda no próximo campeonato, a ser realizado dia 1 de maio.



Discriminação
Apesar do aumento do número de adeptos ao poker, os jogadores enxergam que o esporte ainda é discriminado. “Quem não conhece o esporte, acha que é um jogo de azar como se fosse o truco ou qualquer outro carteado, mas é bem diferente. São vários os casos que presenciei de pessoas mudando de opinião quando conhecem a fundo o jogo”, relata Jonh Martins. Lucas Krol acrescenta que por viver de poker o preconceito é ainda maior, “as pessoas me falam que isso não é emprego de verdade, que é coisa de desocupado, mas não é assim, é preciso bastante esforço e dedicação para lucrar com o poker”.


Divulgação
Clube de Poker

A cidade de União da Vitória já conta com um clube próprio para a prática esportiva, o Clube River Poker surgiu graças ao crescimento dos jogos caseiros. “Joguei poker profissionalmente na internet por dois anos, mas jogava por hobbie na casa de alguns amigos, esse grupo vinha crescendo, cada hora chegava um jogador novo e como já havia clubes em outras cidades surgiu uma ideia minha e de dois amigos de montar um aqui na nossa cidade”, relata o diretor de torneios do clube, Douglas Fantin.Ele considera que o crescimento regional é já uma realidade, pois acompanha o resto do mundo, onde o esporte se desenvolve rapidamente. Para ele, uma prova desse sucesso é o número de jogadores que frequentam o clube, em 2014 foram cerca de 300, já para 2015 o diretor espera no mínimo o dobro.

Cuidados com o vício
Assim como qualquer atividade que parte da recreação, o poker também pode vir a se tornar vício. O vício em jogos é classificado no glossário internacional de doenças como “comportamento fora do normal, consiste de jogo frequente e repetido, que controla  vida do paciente e leva a uma disfunção e afastamento social, ocupacional e de valores da família e dos seus compromissos." Segundo dados de pesquisas de grupos relacionados ao estudo do jogo, como o Pokerstrategy, os primeiros sintomas do vício são a insistência do jogador em se manter jogando mesmo com constantes resultados negativos e a necessidade de afirmação dentro do grupo que está inserido.

Após viciado, é observável que a pessoa começa a seguir certo padrão de raciocínio dentro da atividade, como crer que quando ganha é fruto da sua qualidade e quando perde é pura infelicidade, acredita que quando está perdendo o melhor a se fazer é continuar jogando que uma hora a sorte muda, acredita fielmente que o investimento, mesmo que o comprometa financeiramente, vale tendo em vista a premiação que pode receber.

Cerca de um terço das pessoas que têm vício em jogos de cartas também tem outro vício, como cigarro ou álcool, e mais de 50% são pessoas diagnosticadas com depressão. Segundo Igor ‘Federal’ Trafane, presidente da Confederação Brasileira de Texas Hold’em, apesar de preocupante, o vício atinge a poucos. “Apenas 3% dos jogadores de poker são viciados, é um número bem menor se comparado aos outros jogos de carta em que a sorte é o principal fator. No poker se a pessoa for ruim acaba perdendo, o que afasta pessoas que buscam uma loteria do esporte”, explica Federal.

Raphael Gierez/Hoje Centro Sul