Depressão pós-parto pode trazer conseqüências para a mãe e para o bebê

Doença atinge, principalmente, mães de primeira viagem, adolescentes e em casos onde o bebê precisa ficar na UTI. Segundo especialistas, apoio familiar é fundamental para a estabilização do quadro

A depressão pós-parto (DPP) é uma doença séria e pode afetar, significativamente, a qualidade de vida da mãe e do bebê. Segundo dados do Ministério da Saúde, a DPP atinge cerca de 15% das mães do mundo todo.

@Kyene Becker/Hoje Centro Sul
Os sintomas mais comuns durante o quadro são irritabilidade, mudanças bruscas de humor, indisposição, doenças psicossomáticas, tristeza profunda e, principalmente, sensação permanente de incapacidade de cuidar do bebê, podendo apresentar pensamentos suicidas e homicidas em relação ao recém-nascido.

O psicólogo Gabriel Krüger explica que o quadro de DPP acontece, geralmente, entre os momentos finais da gravidez e o início da vida materna, o chamado ciclo gravídico-puerperal. “Necessita-se apontar que o ciclo gravídico-puerperal apresenta-se como um fator de grande risco para o psiquismo, pois nesse período, a mulher vive intensamente as emoções que foram alimentadas, como também as experiências negativas, para as quais não havia se preparado. Com isso, temos uma grande energia circundando a psique. A ‘estrutura’ pode não ser suficientemente preparada ou ainda fantasiada demasiadamente, fazendo com que a energia de alguma forma fique sem ser conectada, trazendo sofrimento à mulher”, conta.

Ele ainda ressalta que outras psicopatologias podem afetar a mulher durante o ciclo gravídico-puerperal, portanto, é preciso estar atenta aos sintomas. “Temos que diferenciar algumas das dificuldades que acometem as mães durante esse período, como a Tristeza Materna, a Depressão Pós-Parto (DPP) e a Psicose Puerperal. Os diagnósticos acima apontados se caracterizam pela gravidade do sofrimento, ou seja, a Tristeza Materna acomete a mulher de forma mais sutil, já a DPP acomete de forma grave, de maneira a relaxar com alguns cuidados do recém-nascido, e a Psicose Puerperal é severa, podendo ter episódios de alucinação e delírios, acometendo todos os cuidados da mãe para com o recém-nascido”.

Gabriel destaca que a maternidade não é algo natural e é aprendida na prática. Nesse sentido, ele também ressalta que as experiências relatadas por mulheres que já passaram por esse processo auxiliam as mamães de primeira viagem e podem evitar expectativas fantasiosas. Gabriel explica que quando isso não ocorre e a mulher se vê desamparada, os problemas podem começar a aparecer. “Em alguns casos, as mulheres não têm apoio para contar nesse momento de transição e começam a adentrar a realidade, a qual, muitas vezes, pode deixar a desejar à fantasia criada de uma maternidade tranquila e apenas de momentos lindos com o filho”.

O psicólogo também alerta para os conceitos pré-estabelecidos em relação ao primeiro contato com a maternidade. Para ele, é ilusão pensar que todas as mulheres ficarão totalmente felizes e compreensíveis com seu estado. “Ainda ressaltamos que há um tabu cultural muito grande a respeito da mulher gestante em estar radiante perante o seu estado, bem como da mulher que tem seu recém-nascido estar feliz o todo tempo. Sabemos que é um tabu cultural, na medida em que é impossível manter sempre o sorriso, pois as dificuldades aparecerão e poderão ser bases de desenvolvimento da maternagem”, completa.

Apoio
Ter uma base familiar e se sentir amparada quando a doença se manifesta são situações importantes para a mãe. Em Irati, a Santa Casa de Misericórdia realiza o acompanhamento de gestantes e pós-gestantes que apresentam o quadro de depressão pós-parto. A enfermeira Genilce Aparecida Holtman explica que as mulheres que já apresentam histórico de depressão são acompanhadas ainda na gestação, já as que são diagnosticadas no pós-parto são encaminhadas para a equipe de psicologia do hospital. “É um trabalho em equipe. Temos o primeiro contato com a mãe e, caso identifiquemos que ela está passando por algum tipo de sofrimento emocional, encaminhamos diretamente para a psicóloga, que irá orientá-la enquanto estiver no hospital. Também orientamos a família. Em muitos casos, as mulheres já saem medicadas e precisam de apoio familiar para que o quadro seja minimizado”.
A psicóloga da Santa Casa de Misericórdia de Irati, Vanessa Aparecida Hecavei, ressalta que o apoio da família é fundamental nesse processo. “Ter o amparo dos familiares é essencial para a melhora da paciente. Na maioria das vezes, a doença acontece por conta de expectativas idealizadas lá atrás e, quando a realidade se demonstra diferente, a mãe acaba sofrendo. Então, é importante que ela tenha pessoas para conversar e dividir as angústias”, diz.

Causas e tratamento
A enfermeira Genilce Aparecida Holtman destaca que os principais casos de depressão pós-parto são observados em mães de primeira viagem, mães adolescentes e em casos onde os filhos necessitam ficar na UTI. “Muitas mães nos relatam que sentem que perderam tudo, porque a mudança da rotina é muito grande. Nesse sentido, elas se sentem incapazes de cuidar do bebê e com medo”, conta.
A psicóloga Vanessa Aparecida Hecavei ressalta que a maioria das mães que apresenta o problema passou por gestações conturbadas. “Eu já conversei com mães que disseram que não queriam sentir raiva do filho, mas que sentiam, tudo porque passaram por situações delicadas durante a gravidez ou até mesmo por um parto complicado. Em muitos casos, como aqueles onde os filhos precisam ficar na UTI, as mães se culpam, achando que fizeram algo errado e, por isso, os filhos não nasceram ‘perfeitos’. Percebemos que o quadro acontece com maior frequência nos casos onde se quebra o padrão instituído pela sociedade, onde o filho nasce, a mãe passa alguns dias no hospital e volta feliz com ele para casa. Quando isso não ocorre, elas entram em choque e querem saber onde erraram”.
Vanessa explica que o acompanhamento e o tratamento envolvem terapia e, em alguns casos, medicação. “Quando o caso é mais grave, também encaminhamos a mãe para o psiquiatra. Nós fazemos o que está dentro do nosso alcance aqui dentro do hospital. Procuramos fazer visitas, orientar, mostrar a realidade e ouvir as mães, que é o principal. Depois que elas saem, conversamos e orientamos que elas continuem com a terapia”, finaliza.

Kyene Becker/Hoje Centro Sul