“Tudo está perdoado”. Este é o
título que domina a primeira página da próxima edição do semanário satírico
francês Charlie Hebdo, que terá uma tiragem de três milhões de
exemplares em vez dos habituais 60.000.
A capa
desta edição, que chega na quarta-feira às bancas, inclui ainda uma nova
caricatura de Maomé. O profeta surge com uma expressão triste, segurando uma
placa com a palavra de ordem dos últimos dias: “Je Suis Charlie” (“Eu
Sou Charlie”). Depois do atentado, que deixou doze mortos, os jornalistas
retomaram os trabalhos na sexta-feira (9), nas instalações do jornal Libération,
em Paris.
Liberdade, igualdade e fraternidade. O slogan dos
revolucionários franceses que marca o país no mundo todo ficou abalado nos
últimos dias. A França da fraternidade e da liberdade deu lugar ao terror da
intransigência religiosa, da barbárie. Por expressar opiniões fortes, por vezes
indigestas, os autores foram banidos em uma luta desproporcional entre o lápis
de desenhar e armas pesadas.
Sem direito à defesa, sem direito de argumentação,
jornalistas do Charlie Hebdo foram assassinados em Paris, num ataque
terrorista que deixou o mundo inteiro perplexo. Policiais também foram mortos
durante o atentado. Cenas insólitas de uma realidade brutal, contra pessoas e,
sobretudo, com o ideal de liberdade de expressão. Acreditamos que o Charlie não
pretendia agradar este ou aquele. Há sátiras contundentes relacionadas às mais
diversas religiões. Logo, as publicações jamais poderiam ser tidas como perseguições
ao profeta e muito menos mereciam uma ofensiva destas.
A democracia garante a todos, inclusive aos
profissionais da imprensa, o direito de expressar o que pensam. Existem as
sanções legais quando ocorrem ofensas e quem a fez arca com as consequências de
seus atos. A força não pode e nem deve ser superior a inteligência humana. E
realmente não é. Prova disso é que o Charlie Hebdo ganhou leitores e
apoiadores no mundo inteiro. Gente que concorda com o conteúdo do impresso e
gente que discorda do conteúdo, mas que defende a liberdade de expressão.
Tanto que o jornal satírico francês chega às bancas,
nesta quarta-feira, com três milhões de exemplares e em seis línguas – árabe,
espanhol, inglês, italiano e turco, além do francês. A capa da edição desta
quarta-feira traz a fase “Tudo está perdoado” e um cartaz escrito “Je Suis
Charlie” – Eu sou Charlie –, que se tornou o tema dos protestos em Paris.
Os
protestos defendem a liberdade. Esperamos que também a fraternidade e a
igualdade entre os povos voltem a predominar na França e nos demais países,
pois a tolerância é essencial para a paz.
Texto: Da Redação/ Hoje Centro Sul
Foto: Reprodução / Libération