Limite de doações prejudica busca por doadores de medula óssea

No Paraná, a cota máxima é de 9.300 cadastros anuais. Esse número é dividido entre todas as regionais de saúde do Estado. No caso da 4ª Regional de Saúde, com sede em Irati, que atende diversos municípios do Centro Sul como Rio Azul, Rebouças, Teixeira Soares, Inácio Martins e Imbituva, a cota máxima é de 50 cadastros por mês

Arquivo pessoal

A leucemia é uma doença maligna dos glóbulos brancos (leucócitos) e que, geralmente, tem origem desconhecida. A principal característica dessa doença é o acúmulo de células anormais na medula óssea, que substituem as células sanguíneas normais. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), para 2014, foram estimados cerca de 11.400 novos casos de leucemia no Brasil.
Na região Centro Sul do Paraná, atualmente, segundo informações da 4ª Regional de Saúde, três pessoas são portadoras da doença. O pequeno Emanuel Penteado, morador de Imbituva, depois da mobilização ‘Ajude o Emanuel!’, conseguiu encontrar um doador de medula óssea e, agora, aguarda o transplante. A jovem Patricia Rossa, moradora de Rio Azul, também está lutando contra a doença e ainda está em busca de um doador. Apesar da busca incessante dos pacientes que necessitam de transplante, uma determinação do Ministério da Saúde tem prejudicado o aumento no número de possíveis doadores.

Desde 2012, o governo federal implementou uma norma, que limita o número de cadastros de possíveis doadores de medula óssea no país. De acordo com a medida, cada estado brasileiro possui uma cota máxima de cadastros, que é dividida entre todas as regionais de saúde do estado. Quando esta cota é atingida, automaticamente são suspensos os cadastros e reabertos no mês seguinte.
O irmão de Patricia Rossa, Mateus Rossa, conta que o limite de cadastros foi o principal problema encontrado pela família. “A situação de saúde dela é delicada e ela precisa de uma doação urgente. O limite de cadastros foi o nosso único problema, porque as pessoas queriam doar, mas não conseguiam, porque já tinha acabado a cota. Eu, meu pai e minha mãe conseguimos doar em Irati, mas nossos outros parentes tiveram que ir para Curitiba. É algo que deveria mudar, porque a doença não espera”, completa.

Apesar disso, Mateus Rossa destaca que, recentemente, a família foi comunicada de que oito possíveis doadores podem ser compatíveis com Patricia. “Recebemos a notícia com muita alegria. Esperamos que alguém seja compatível, para que a Patricia possa receber logo o transplante. Na fila do SUS, a cirurgia só poderá acontecer em meados de julho de 2015. Se os exames dos possíveis doadores forem positivos, vamos lutar para que ela receba o transplante antes”.

Cotas

No Paraná, a cota máxima é de 9.300 cadastros anuais. Esse número é dividido entre todas as regionais de saúde do Estado. No caso da 4ª Regional de Saúde, com sede em Irati, que atende diversos municípios do Centro Sul como Rio Azul, Rebouças, Teixeira Soares, Inácio Martins e Imbituva, a cota máxima é de 50 cadastros por mês. De acordo com o Chefe da 4ª Regional de Saúde, João Almeida Júnior, com os recentes casos de portadores de leucemia na região, a instituição solicitou o aumento da cota. “Recentemente, eu solicitei o aumento dessa cota, por conta das pessoas que precisam dessas doações. Então, esse número passou para 80. Esse valor é suficiente? Não. Ainda não é o ideal, mas nós não somos liberados a realizar exames acima desse número. Se fosse pela procura e vontade das pessoas, nós faríamos cerca de 200 coletas por mês”, ressalta.

João Almeida Júnior explica que as cotas foram estabelecidas por diversos fatores. “Isso acontece porque existe uma limitação na capacidade de processar essas informações, na questão do pagamento e no número de laboratórios capacitados para realizar essas análises”, destaca.

A Chefe do Hemocentro de Irati, Emilinha Zarpellon, conta que a procura pelo cadastro de possível doador é grande, porém, nem todas as pessoas conseguem realizá-lo. “A procura tem sido muito grande, porque tem pessoas com o problema na região que precisam do transplante. Entretanto, não temos a possibilidade de atender a todos. A coleta de medula nos veio como um presente, porque essa não era a função da unidade”, diz.

Doação em Irati

O cadastro de possíveis doadores de medula óssea em Irati iniciou em 2007. A técnica em enfermagem e responsável pelo programa de cadastramento de possíveis doadores de medula óssea de Irati, Cleoneide Aparecida Subalski, explica como funciona o processo para o cadastro e quais são as exigências para se tornar um doador. “Para poder ser doador, a pessoa precisa ter 18 e 55 anos; não pode ter tido nenhuma doença infecto-contagiosa e trazer um documento com foto e outro que comprove o endereço. São retirados 8ml de sangue, que são enviados para análise genética e comparados com os pacientes que estão na lista de espera”, afirma.

Ela conta que todos os detalhes são explicados antes da coleta para realização do cadastro, pois é necessária a conscientização por parte do possível doador. “Nós explicamos todo o processo para a pessoa que nos procura, mostramos tudo o que pode acontecer se, por acaso, ela for compatível com algum paciente. É muito fácil você chegar e fazer o cadastro, mas a situação muda quando você descobre que é compatível com alguém que precisa do transplante”, diz.

Cleoneide ressalta que a compatibilidade geralmente acontece entre parentes e que as chances de encontrar um doador fora da família são menores. “A compatibilidade acontece, geralmente, na família. Principalmente de irmão para irmão. Eles procuram em 70% da família e, se ninguém for compatível, eles partem para os estranhos, onde as chances diminuem”. A responsável pelos cadastros em Irati ainda explica como funciona o processo de transplante após a identificação de um possível doador.

Segundo ela, ainda são necessárias mais duas amostras do possível doador para confirmar a compatibilidade, totalizando três exames. “Após a terceira confirmação, o paciente é encaminhado para um hospital especializado em Curitiba, onde realiza outros exames, para só depois realizar o transplante. O doador é internado e a coleta, geralmente, é realizada através de punções no osso da bacia. A pessoa doa 10ml por kg de peso do paciente. Geralmente é pouca coisa, porque os pacientes ficam bem debilitados por conta da doença e emagrecem bastante. Chega a ser parecido com uma bolsa de sangue. O paciente recebe a medula transplantada através da veia. O doador fica internado 24h, por conta da anestesia”, explica.

Ela destaca que quando o paciente está em fase terminal, o transplante acontece de maneira diferente. “No caso do paciente estar em fase terminal, o transplante é realizado através de aférese. Ou seja, o paciente e o doador são colocados em uma cadeira e a doação ocorre através de uma máquina, que separa apenas as células necessárias para o doente”.

Josiane destaca que, após o transplante, a medula se recompõe normalmente. Ainda segundo ela, em 2014, três cadastrados no Hemocentro de Irati foram convocados para a realização da segunda amostra de compatibilidade. Essa é a primeira vez, desde 2007, que um possível doador da região é convocado. “A medula se recompõe cerca de 2 a 3 semanas após a doação. Os médicos dizem que o desconforto, após a doação, é parecido com uma batida no osso. A pessoa pode ser doador quantas vezes for compatível. Neste ano, três pessoas em Irati foram convocadas para realizar a segunda amostragem. Pra mim, essa é uma alegria imensa”, afirma.

Josiane explica que muitos ainda pensam que a medula óssea é a coluna vertebral e, o simples fato de doar, pode comprometer a integridade da coluna.

“A medula óssea ainda é muito confundida com a coluna vertebral. Nós podemos dizer que a medula óssea é a fábrica do nosso sangue. A medula existe na maioria dos nossos ossos, mas a maior concentração está no osso da bacia e na clavícula. A doação não compromete nenhuma função do corpo humano e é segura”, finaliza.

Kyene Becker