O dossiê das drogas em Irati e região

Na região, as drogas estão difundidas em toda a sociedade e o grosso do tráfico é a maconha, de acordo com informações da Polícia Civil de Irati que, no último dia 06, incinerou drogas que renderiam cerca de R$ 1 milhão aos traficantes

Ao longo dos anos, o uso de drogas se tornou um grave problema mundial. Segundo o Relatório Mundial sobre Drogas da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2012, cerca de 243 milhões de pessoas no mundo utilizam algum tipo de droga ilícita. O documento ainda aponta que, naquele ano, 200 mil mortes relacionadas ao uso de drogas foram registradas no mundo.

Ciro Ivatiuk/Hoje Centro Sul
O relatório também destaca que o Brasil é um país vulnerável ao tráfico de cocaína, porque possui uma geografia favorável para o tráfico e por ser um grande mercado consumidor. Segundo dados da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), no Brasil, cerca de 3% dos estudantes universitários usam cocaína. A Senad também afirma que o número de dependentes da maconha no país aumentou.

Irati e os demais municípios do Centro Sul do Paraná também são vulneráveis às drogas e o  número de usuários estimula o tráfico, de acordo com a Delegada da Polícia Civil, Eliete Aparecida Kovalhuk. “Nós observamos que a situação das drogas na região está bem complicada, porque está bem difundida em toda a sociedade. A maioria dos detentos de Irati estão presos por tráfico de drogas. Como existe uma demanda muito grande de usuários, isso aumenta a demanda dos traficantes e acaba se tornando um ciclo vicioso”,explica.

Na quinta-feira (06), a Polícia Civil de Irati realizou uma incineração de drogas apreendidas no último ano. Cerca de 750kg de drogas, que iriam gerar aproximadamente R$1 milhão aos traficantes, foram retiradas das ruas. A delegada conta que a maior parte das drogas incineradas era maconha, substância que, segundo ela, aquece o tráfico na região. “O grosso do tráfico na região ainda é a maconha. A maioria das pessoas é pega com esse tipo de droga”, afirma Eliete.

O inspetor da Polícia Rodoviária Federal de Irati (PRF), Cláudio Adão Pereira da Luz, destaca que as apreensões de maconha representam um número significativo nas rodovias do estado. “Claro que nós temos apreensões de outras drogas, como crack e cocaína, mas a maior quantidade ainda é de maconha. As demais drogas, por ter um preço mais elevado, são trazidas em pequenas quantidades, coisa de 20 ou 30kg. Enquanto a maconha é trazida de 1 a 2 toneladas, a diferença é bastante grande”, ressalta.
Combate ao tráfico
A delegada da Polícia Civil, Eliete Aparecida Kovalhuk, explica que o trabalho de combate ao tráfico na região é realizado em conjunto com a Polícia Militar e relata como os flagrantes acontecem. “A Polícia Militar está bastante atuante nessa área e tem colaborado muito com a Polícia Civil para o combate das drogas na região. Eles possuem um setor de inteligência e nos trazem muitas denúncias para verificação. Eles nos repassam essas informações, lavramos o flagrante e encaminhamos o processo para a Justiça realizar a condenação”, destaca.

O inspetor da Polícia Rodoviária Federal de Irati, Cláudio Adão Pereira da Luz, conta que o posto de Irati é um dos mais movimentados na questão de apreensões, porque está em uma posição estratégica. “As apreensões maiores têm ocorrido mais nos postos de Irati, Guarapuava e Imbaú, que são os postos que representam um corredor, porque ligam o norte do estado, a região do litoral e as fronteiras com outros países”, completa.

Em Irati, de acordo com a delegada Eliete, os bairros que apresentam maiores problemas com o tráfico de drogas no município são Alto da Lagoa, Vila Raquel e Jardim Planalto. Ela conta como funciona o processo quando um usuário é flagrado pela polícia.
“Quando um usuário é pego, como é uma infração que não demanda a prisão, é lavrado o termo circunstanciado. Então, ele responde pela infração cometida e as substâncias apreendidas são encaminhadas para a perícia e depois, incineradas”. As pessoas que possuírem alguma informação sobre o tráfico de drogas na região podem denunciar através do 181. A denúncia é anônima.

O tráfico nas rodovias

O inspetor Cláudio Adão conta que o tráfico está cada vez mais organizado e os policiais precisam estar atentos. “Grandes apreensões foram realizadas recentemente e demonstram que o crime está cada vez mais articulado, então, sempre temos que estar um passo à frente. Todo trabalho é bem-vindo. Se tirarmos 1 ou 2kg das ruas, a situação tende a melhorar”, destaca. Ele também relata que as substâncias apreendidas são encontradas em diversos locais dos veículos. “Os traficantes ousam muito. No caso dos caminhões, as drogas têm sido apreendidas dentro de furgões, no meio da carga. Nos veículos de passeio, eles tentam esconder dentro do tanque, no painel, motor, enfim, nos mais diversos locais”, completa.

Ele acredita que a experiência é um ponto importante para as pessoas que realizam a fiscalização. “Para que nós possamos realizar um bom trabalho, a experiência também conta bastante nessa situação. Temos toda uma técnica para abordarmos as pessoas. Nós conversamos e, através das respostas, podemos identificar algumas informações importantes”.
Cláudio Adão também conta casos curiosos sobre apreensões e como funciona o trabalho. “Teve o caso de um veículo Tempra, de outro Estado, onde apreendemos a droga dentro do sistema de ar do veículo. É uma situação que, se você não tiver um pouco de conhecimento, não vai achar. Outro local comum para se encontrar drogas é dentro do tanque de combustível. É um local de difícil acesso e, por isso, se você não souber procurar, pode passar. É muito comum para o transporte de cocaína e crack”, afirma.

Tratamento aos dependentes das drogas

Os casos de dependência química atendidos pelo Serviço de Atenção Psicossocial em Saúde Mental de Irati (SAPSM) representam 7% dos atendimentos. O serviço existe há quase 2 anos em Irati. A psicopedagoga do SAPSM, Cristiane Santos, explica como o trabalho funciona.

“O serviço é de livre demanda, ou seja, a pessoa ou a família interessada procuram o serviço. É a família que tem maior movimento. Depois dessa procura, tentamos fazer a acolhida do usuário, para que ele sinta respeitado, em primeiro lugar, e mostrar as possibilidades do tratamento”, afirma.
Cristiane conta que, em alguns casos, as famílias pedem pela internação do familiar. Porém, segundo ela, a internação é realizada apenas por intervenção médica. “Só o médico especialista pode avaliar se há a necessidade da pessoa ser internada ou não. Às vezes, a família chega e diz: precisamos que ele seja internado por bastante tempo”.

A enfermeira e coordenadora do SAPSM, Rita de Cássia Costa, ressalta que a conscientização é fundamental para o tratamento. “Você tem que conscientizar a pessoa do tratamento que ela tem que fazer. E, acima de tudo, o paciente tem que querer. As pessoas se iludem, achando que a internação irá resolver o problema do paciente e ele vai sair de lá curado. Se a pessoa não quer, ela tem a internação como um sacrifício e uma pena, pelas atitudes que cometeu, voltando para a vida antiga”, completa.

A psicopedagoga Cristiane explica que o apoio da família é essencial para a recuperação do paciente. “Nós sempre solicitamos o apoio da família, porque quando se trata de dependência, se você não tiver a família apoiando, o tratamento não terá êxito”. Ela também ressalta que o tratamento é contínuo.
“Quando o paciente é internado e recebe a liberação, ele continua com o tratamento, porque é o momento que ele irá mais precisar. Dentro do hospital, você está longe da família, dos problemas e do acesso às drogas. A partir do momento que ele volta para o contexto, ele precisa estar bem para ter a iniciativa de dizer não”, destaca.

A psicóloga do SAPSM, Juliana Godoi, conta que os motivos pelos quais os usuários iniciam no mundo das drogas são diversos. “Não dá pra definir o motivo pelo quais as pessoas começam a utilizar drogas. Cada caso é um caso. São diversas situações, às vezes por curiosidade ou por violência em casa”. Segundo as responsáveis pelo Serviço de Atenção Psicossocial em Saúde Mental de Irati, os adolescentes são os que apresentam maior resistência ao tratamento.

A psicopedagoga Cristiane destaca ainda que o trabalho do SAPSM é desenvolvido em rede, ou seja, os responsáveis buscam o auxílio de outras instituições. “Nós procuramos realizar trabalhos em rede, isto é, se o dependente não está na escola, buscamos que ele seja matriculado e volte a frequentar o ensino. Se é vítima de algum tipo de violência, procuramos o CREAS, por exemplo”, finaliza.

Kyene Becker/Hoje Centro Sul