Em busca da fama: meninas e meninos sonham com a carreira de modelo

A vontade de ser modelo é um sonho de praticamente 10 entre 10 meninas na infância. Quem nunca sonhou em desfilar em passarelas internacionais ou estampar capas de revistas? O sucesso de tops brasileiras, como Gisele Bündchen, Alessandra Ambrósio, Carol Trentini e Adriana Lima alimentam ainda mais a esperança de quem quer seguir na carreira. E se engana quem pensa que o mundo da moda é restrito apenas a mulheres. O mercado da moda masculina está crescendo e o sucesso internacional do modelo Jesus Luz abriu portas para os brasileiros.

Kyene Becker/Hoje Centro Sul
A iratiense Suellen Souza, 16, participou pela segunda vez da convenção de modelos, atores e atrizes da empresa Jackson e Maria Eduarda Produções e Eventos, que ocorreu entre os dias 19 e 21 de setembro, em Irati. Ela conta que, em 2013, foi selecionada por duas agências da convenção, porém não realizou testes, porque precisava melhorar algumas habilidades. “Depois da seleção pelas agências, eu fiquei na fase de acompanhamento, porque eu tinha que melhorar alguns aspectos. Mas esse ano, eu já estou bem diferente do que eu era ano passado e, por isso, estou confiante”, destaca. A convenção de modelos, atores e atrizes, em Irati, contou com a participação de quase 200 candidatos de todo o Paraná e Santa Catarina.

Suellen explica que foi descoberta pela scouter (caça-talentos) Maria Glaci, em 2013, e foi incentivada a participar da seleção. “Minha mãe estava na casa da Glaci e eu estava junto. Antes, eu só andava de cabelo preso e me odiava. Nesse dia, a Glaci disse que eu era bonita e pediu pra eu soltar o cabelo. Ela me incentivou e, no ano passado, participei pela primeira vez da convenção”.
Maria Glaci Alves é proprietária da empresa Jackson e Maria Eduarda Produções e Eventos, que está no mercado há quatro anos agenciando pessoas que desejam seguir a carreira de modelo, ator ou atriz. Ela conta que já trabalhou com scouters renomados, e explica como funciona o processo de seleção dos candidatos na empresa. “Quando eu era funcionária, aprendi muito com Dilson Stein que, hoje, é o mais respeitado no mundo da moda, ele que descobriu a Gisele Bündchen. Hoje, eu faço minhas próprias convenções, podendo ir às cidades e fazendo as seleções. Nós visitamos as cidades, convocamos os perfis que nos interessam e fazemos uma breve reunião, explicando como o trabalho funciona. Se as pessoas tiverem interesse, passarão por uma preparação, um workshop. Então, depois desse processo, eles têm a oportunidade de participar das convenções, que é o momento de apresentação às agências”, completa.

A profissional orienta que o período de preparação, normalmente, tem o prazo máximo de três anos. Caso o candidato não obtiver propostas de trabalho neste período, deve buscar outra profissão.
A candidata a modelo, Suellen Souza ressalta que o apoio da família é essencial na busca pelo sonho de estar nas passarelas. “Fora a ansiedade que dá, é tudo muito legal. Toda minha família apoia o meu sonho e eu acho que isso ajuda, porque você fica com mais vontade de buscar o que você quer”, completa.

Ser modelo é uma profissão

O professor de passarela e etiqueta social da empresa, Moacir Soares Gonçalves Júnior, explica que a maioria das pessoas que deseja seguir a carreira não encara o trabalho como profissão. “Hoje, a maioria das meninas e dos rapazes não pensa na carreira de modelo como profissão. Eles pensam como um emprego qualquer, onde você pode ir todo dia e se produzir ou não, você recebe no final do mês. Porém, a carreira de modelo é uma profissão onde você tem que batalhar e correr atrás do trabalho, senão você não recebe”, destaca. Ele ressalta que a preparação deve ser iniciada ainda na infância. “Hoje, o sonho de ser modelo começa quando criança, mas a preparação é deixada para a adolescência. E por conta disso, dessa preparação, eles não conseguem ser modelos, porque o corpo muda. E durante esse período, onde muitos veem que não vão conseguir devido à falta de cuidado com a alimentação e pele, acabam cometendo loucuras”. Moacir ainda afirma que a presença dos pais nesse processo é de extrema importância. “Os pais são muito importantes nesse ponto, porque muitas vezes, a pessoa não possui o biótipo para modelo de passarela, mas é o que ela quer e, às vezes, comete loucuras para chegar nesse ponto”.

O professor destaca que a maturidade é um ponto que também deve ser trabalhado nesse processo. “Como é uma profissão, é um mercado muito concorrido. Onde de manhã você é lindo, maravilhoso e a tarde, outra pessoa pode assumir esse posto. E o que acontece, muitas vezes, é que você não tem as emoções preparadas e não é um adulto, emocionalmente falando, mas as agências esperam uma resposta de adulto desses adolescentes”, afirma. Ainda segundo ele, o estudo é peça chave para quem deseja ingressar e continuar na carreira. “A maioria das pessoas acha que pra ser modelo não precisa estudar. Às vezes, você não vai conseguir terminar o ensino regular no Brasil, mas nada impede que, estando fora do país, você faça um curso de inglês, por exemplo. Toda vez que você estiver fora do país, você vai assinar contratos de trabalho e você tem que saber o que você está assinando”.

Moacir alerta para um problema que atinge grande parte dos aspirantes à modelo e ator ou atriz, o imediatismo. “Se o cliente gostar de você, você faz o trabalho. Caso contrário, você vai passar por outros e isso leva seis meses, um ano, dois anos. E é nesse percurso que muitos modelos desistem, porque não tem a paciência. Ou melhor, a paciência produtiva, porque não adianta estar em casa esperando e não estar se cuidando e nem estudando”, completa.

Por trás dos bastidores

O diretor de casting (seleção) do São Paulo Fashion Week e Fashion Rio, Alexandre Queiroz, realiza a seleção de modelos para marcas brasileiras e internacionais, entre elas Alexandre Herchcovitch, Osklen, Ellus e Riachuelo, nas principais semanas de moda do país. Ele ressalta a importância de eventos que apresentem novos modelos e afirma que, no Brasil, a procura pela carreira ainda é baixa. “É muito importante que esses eventos aconteçam, para que nós possamos renovar os nossos castings. Pensar em um país de 200 milhões de habitantes, o nosso número de modelos é muito pequeno. Eu acho que podemos melhorar”, destaca.

Alexandre ainda ressalta as qualidades que uma modelo de sucesso deve ter. “Para uma modelo ser completa, ela precisa ter disciplina. A modelo que possui isso vai longe. Além disso, tem que ter os cuidados básicos. Com a demanda de trabalho que existe no Brasil, a modelo acaba se descuidando. E isso atrapalha. Eu vejo modelo todo tempo e eu observo o corpo mudando em questão de dois ou três meses. Tem que ter foco, isso vai te levar para onde você quiser. E é muito importante você saber o que está vendendo, porque assim você vai convencer o cliente”. Para Alisson Chornak, produtor e scouter da empresa Tango Management, de Florianópolis-SC, o Paraná possui muitos potenciais e ressalta que os produtores de agências estão sempre atrás de novidades. “Se o modelo tiver as características para ser introduzido no mercado, ele terá uma possibilidade. Eu sou do Paraná, de Maringá, então sou suspeito pra falar sobre as modelos do sul. Eu acho que aqui tem muito potencial e eu sempre busco novidades. Esses eventos são legais, porque trazem um fluxo muito grande de novos rostos”, afirma.

Alisson destaca que, apesar do número de modelos ainda ser baixo no país, o mercado brasileiro está crescendo. “O que nós acompanhamos é uma evolução e um interesse muito grande das pessoas. É uma área que tem crescido muito a cada ano. Da mesma maneira que o menino quer ser jogador de futebol, a menina quer ser modelo”.

Fátima Oliveira, proprietária da agência Alternativa, conta como funciona o processo de testes para os clientes e ressalta que a jornada é longa. “Entra um projeto de algum cliente e eles me enviam um e-mail, pedindo modelos e atores com determinadas especificações. A partir disso, escolho modelos dentro dessas especificações, mas com perfis variados. Não existe isso de querer só loiro ou só moreno. Então, eles farão testes para o diretor de casting da empresa. Se for aprovado, o teste é enviado para o diretor da marca e ele dirá se aprova ou não. É um processo bastante longo. Eles têm que ter paciência, mas é algo gostoso”, destaca.

Mãe de Aretha Albuquerque, ex Chiquitita, Fátima ressalta que, para ela, o objetivo é realizar o sonho da criança. “Eu, por exemplo, não trabalho pelo valor do cachê, mas pela alegria de ver a criança ou o adulto realizando o sonho. Eu sou mãe de atriz, minha filha começou com cinco anos e toda vez que ela era aprovada em algum teste, eu até esquecia de perguntar qual era o cachê. Muitas vezes era difícil de levá-la fazer a seleção, mas era uma alegria em ver o sorriso dela, que tudo compensava”, finaliza.

Kyene Becker