Copa do Mundo desperta paixões do brasileiro


Sentimento de nacionalismo pode ser explicado pelo sucesso do Brasil no futebol e também pela forte propagação da mídia pelo esporte

A Copa do Mundo começa nesta quinta-feira (12). Os olhos de todas as nações se voltarão para o maior evento do futebol mundial. E torcedores do mundo todo se preparam cada um na sua maneira e superstição para assistir os jogos de seu país. No Brasil, a Copa do Mundo sempre motivou o nacionalismo. A Copa é talvez um dos únicos momentos em que os quatro cantos do país se juntam cantando o coro ‘Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor’.

Augusto Travensolli/Hoje CentroSul
Esse nacionalismo pode ser explicado historicamente, pois o Brasil não tem em seu histórico um herói que represente a nação, ou um histórico de guerras em que o país todo se unisse por uma causa. A força da camisa verde e amarela nos eventos também tem representatividade, pois o Brasil é um país vencedor, com cinco títulos conquistados e nunca deixou de participar de uma Copa do Mundo, portanto é satisfatório torcer por uma equipe vencedora. 
O professor do departamento de história da Unicentro João Carlos Corso explica como esse cenário de identificação nacional foi construído. “Tem toda a relação do futebol com o rádio. O que se pode explicar é que desde quando o rádio começou a ser expandido, os jogos passaram a ser transmitidos ao vivo e as pessoas escutavam, portanto, o rádio foi um dos formadores desse processo. E a partir da década de 70 a televisão teve um grande papel nessa formação e nessa construção de nacionalidade”, explica Corso.

No Brasil, o rádio e o futebol têm histórias semelhantes. No início dos anos 30, quando foi realizada a primeira transmissão de um jogo de futebol em tempo real, o rádio e o esporte ainda eram principiantes. Em 1938, pela primeira vez um evento esportivo parou todo o Brasil na transmissão de rádio. O locutor Gagliano Neto, narrou os cinco jogos da seleção brasileira, na terceira Copa do Mundo. O país terminou em terceiro na competição realizada na França, perdendo para a Itália na semifinal e ganhando da Suécia na disputa pela terceira colocação.

Com o passar dos anos, rádio e futebol foram se profissionalizando. A década de 40 passou pela chamada ‘Década de Ouro’ do rádio, por ser a primeira mídia eletrônica do país. Na programação radiofônica existiam radionovelas, jornais, programas de auditório, concursos musicais, variedades, programas de humor e claro o esporte. 

Vinte anos após a conquista do terceiro lugar na França, a Seleção Brasileira conquista em 1958, o seu primeiro título mundial. Na competição estreava um garoto de 17 anos chamado Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, que depois foi consagrado como o “Rei do Futebol”. Já na Copa do Mundo seguinte, em 1962, o Brasil conquistou o bicampeonato, mostrando que o título de quatro anos antes não foi por acaso. E em 1970, a equipe brasileira conquistou o terceiro título da Copa do Mundo.

Futebol e política
A relação entre as duas esferas pode não acontecer diretamente, mas a ligação acontece, como por exemplo, quando durante o período militar, os governantes usavam como grande propaganda o título da seleção conquistado em 70. “Os militares se aproveitaram da situação do tricampeonato brasileiro como meio de propaganda para dizer ‘Olha o Brasil vai bem, estamos no caminho certo”, conta Corso.

Corso ainda comenta que apesar dos protestos que ocorrem contra a copa no país, nenhum governante seria capaz de recusar a Copa do Mundo. E que algumas manifestações podem ter relação político-partidária.

Copa do mundo de 2014: o Brasil entre paixões e manifestações

Professores de educação física da Unicentro realizaram na quinta-feira (05) uma aula coletiva, com o objetivo de promover o debate sobre a situação do país em relação a sediar o evento, as contradições, ganhos e perdas, ódios, paixões etc.

O Brasil é o único país pentacampeão mundial e nos apropriamos disso como discurso na hora de falar que somos brasileiros. “Pensar na perspectiva em que o futebol tornou-se o esporte mais conhecido e divulgado do mundo. Eu acho que isso tem relação com os títulos ganhos pelo Brasil. E também pela questão em que nós do Brasil nunca tivemos grandes processos de transformações sociais em que algumas lideranças aparecessem como grandes heróis, então nossos heróis foram criados, inventados e mal inventados,” explica o professor de história João Carlos Corso.

O sentimento nacionalista é mais forte principalmente na Copa do Mundo, onde todos se unem por uma única razão e uma única torcida. O professor do departamento de educação física Erivelton Fontana comenta o assunto. “Toda copa tem uma mobilização patriótica, a gente coloca aquela coisa da pátria com chuteira. Acredito que em países que tiveram guerra, isso não é tanto, porque eles guerrearam, o país simboliza outras coisas, acho que em alguns outros países isso não é tão marcado assim. Nós temos esse sentimento nacionalista, talvez somente na Copa do Mundo”, analisa Erivelton.

Outro fator que foi discutido na aula coletiva é o fato de que as manifestações por saúde e educação devem ser feitas na base, todos os dias e não na véspera de um grande evento. “Outra coisa é discutir a educação, saúde, porque essa é uma discussão que tem que ser cotidiana, aí fica muito pontual, fica muito caroneiro,” explica o professor do departamento de Educação Física da Unicentro Gilmar de Carvalho Cruz.

A Copa em Irati

Diferentemente de outras copas do mundo, as vendas de artigos para o mundial estão menores. Vendedores das lojas que comercializam os produtos contam que apesar de oferecerem os produtos para a Copa há algum tempo, a procura maior é por parte das lojas e restaurantes, que compram bandeiras e adesivos para decorarem seus estabelecimentos. Samuel Nogueira Soares Junior, proprietário de uma loja de artigos e presentes, conta que devido à baixa procura, cancelou alguns investimentos para o mundial. “A gente espera que mais em cima da hora o pessoal procure mais, porque no final das contas as pessoas não vão querer assistir o jogo sem uma camisa do Brasil, por exemplo,” finaliza Samuel.

Por Augusto Travensolli/Hoje CentroSul