Mobilizações marcam o dia de combate ao abuso sexual de crianças e adolescentes

Iniciativas para prevenir a violência são desenvolvidas pelo Creas e pelos Cras, em Irati

Dia 18 de maio, ocorreu em todo o Brasil o Dia Nacional de luta contra o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. "O dia 18 ficou marcado para chamar a atenção da sociedade em função dessa violência que vem ocorrendo atualmente, a gente sabe que o dia é só algo representativo, mas a data é realmente para poder alertar a população e lembrar e não deixar que essa causa fique escondida”, explica a psicóloga responsável pelo Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas) de Irati, Janaína Del Cielo.


@Kyene Becker/Hoje Centro Sul
 Em Irati, ocorreram capacitação no dia 12 e mobilização no sábado (17). A capacitação foi dividida em duas etapas: no período da manhã com professores e à tarde com a comunidade.

Foram abordados nove temas principais: histórico da data; tipos de violência; Estatuto da Criança e do Adolescente e função do Conselho Tutelar no combate a violência e ao abuso sexual de crianças e adolescentes; sinais indicadores de violência e/ou abuso sexual em crianças e adolescentes, possíveis características familiares; abordagem de crianças e adolescentes vítimas de violência e/ou abuso; prevenção; mitos relacionados ao abuso sexual; o papel do Creas no atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência e/ou abuso; possíveis encaminhamentos.

No sábado (17) a mobilização ocorreu no período da manhã na Rua Munhoz da Rocha, com diversas ações informativas, exposição de faixas e distribuição de adesivos. E no Clube do Comércio, em dois horários (às 11h e às 13h) aconteceu a apresentação da peça teatral ‘Chapeuzinho Cor de Rosa e a Astúcia do Lobo Mau’.

Além do Creas, outras entidades que realizam trabalho com crianças e adolescentes também desenvolveram ações voltadas ao Dia nacional de luta contra o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes.

O Centro de Referência em Assistência Social (Cras) da Vila São João realizou mobilizações nos dias 13 e 14, em frente ao Cras, junto com os grupos de trabalho e moradores locais.

O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) realizou atividades com aproximadamente 320 crianças de 11 polos. Ocorreram: teatros, conversas, cartazes, além da confecção de cataventos para a entrega na ação realizada nas ruas. A Coordenação do Programa, com apoio do Projeto de Olho no Campo, apresentou palestras e vídeos sobre o assunto em cada polo (interior e urbano).
O Cras Lagoa realizou apresentação da peça “Pesadelo”, de autoria de Claudia Bonete Sequinel na capacitação feita aos professores durante a semana que marca a data. E também  palestras e apresentações de filme.

A programação de atividades do Cras Lagoa terá sequência nos próximos dias com apresentações da peça “Chapeuzinho Cor de Rosa e a astúcia do lobo mau”: dia 23 na Escola da Lagoa, dia 28 para crianças na Escola João Paulo II – Caic, dia 30 na Escola de Gutierrez, dia 04 de junho na Escola Rosalina Cordeiro de Araújo.

Dia 18 de maio
A escolha da data é uma lembrança a toda a sociedade brasileira sobre a menina seqüestrada em 18 de maio de 1973, Araceli Cabrera Sanches, então com oito anos, quando foi drogada, espancada, estuprada e morta por membros de uma tradicional família capixaba. Muita gente acompanhou o desenrolar do caso, poucos, entretanto, foram capazes de denunciar o acontecido. O silêncio de muitos acabaria por decretar a impunidade dos criminosos.

Sua morte, contudo, ainda causa indignação e revolta. O Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes vem manter viva a memória nacional, reafirmando a responsabilidade da sociedade brasileira em garantir os direitos de todas as suas Aracelis.
Dentre as metas  do 18 de maio está a mobilização de massa. Assim, é realiza a Campanha anual “Faça Bonito. Proteja nossas Crianças e Adolescentes”, que tem como símbolo uma flor.

@Augusto Travensolli/Hoje Centro Sul
O jornal Hoje Centro Sul, entrevistou a psicóloga responsável pelo Creas de Irati, Janaína Del Cielo,  que comentou os  diferentes tipos de violência, alertando e esclarecendo a população sobre o tema. A psicóloga argumenta que a violência é cíclica e que "a prevenção é o que vai trazer um resultado mais efetivo daqui a alguns anos, então prevenir é a melhor alternativa". 

Jornal Hoje Centro Sul -  Quais os tipos de violência existentes e quais os que têm mais recorrência em Irati?
Janaína Del Cielo - Em relação a crianças e adolescentes, são muitos casos de violência física e negligência. Já com as mulheres, bastante violência psicológica e física. E em relação ao idoso é violência financeira, de usar o dinheiro do idoso sem o consentimento dele, de enganar mesmo o idoso.

HCS -  Como é feito o trabalho do Creas? A violência é cíclica?
Janaína -  A violência acontece dentro da família, isso nos preocupa porque é daí que ela parte pra fora pra toda a sociedade. E também a influência que a sociedade violenta está trazendo para a família, então é um vai e volta constante, no qual a sociedade influencia as famílias e as famílias também estão reforçando cidadãos violentos. Nós tentamos, com o Creas, quebrar com esse ciclo de violência, quando já ocorreu a violência, trabalhando com o indivíduo para superar essa situação, para que ele tenha uma qualidade de vida, superando essa situação e essas condições, para que ele não venha reproduzir esse ciclo. Porque a violência é um ciclo, ela inicia com uma criança, que depois torna adulta e comete violência com outra criança e assim por diante. E também trabalhamos no sentindo preventivo, porque a prevenção é o que vai trazer um resultado mais efetivo daqui a alguns anos, então prevenir é a melhor alternativa. 

HCS -  O que é resiliência?
Janaína - A gente tenta trabalhar com as famílias alternativas, principalmente com a questão da resiliência. Que é você superar adversidades em sua vida e mesmo com problemas conseguir ter habilidade para lidar com isso, tendo uma qualidade de vida e sendo um indivíduo melhor, entendendo o que vivenciou, e não reproduzindo todas essas dificuldades, não usando como justificativa para problemas maiores. Então a resiliência é um tema fundamental em nosso trabalho, nós trabalhamos pensando nisso e sempre ajudando o indivíduo a superar. Não é um trabalho fácil de realizar, porque a violência é algo muito maior. Atendemos o indivíduo que sofre e também o que comete a violência. É um trabalho de formiguinha que a gente vai fazendo esperando futuramente ter um impacto maior.

HCS -  Quantos casos o Creas atende hoje?
Janaína - A demanda que chega até o Creas é muito grande. O Creas está hoje com uma média de 200 casos de situações de violência, negligência, abuso, para acompanhar, para atender, casos que já chegaram ao nosso atendimento. E também temos que levar em consideração que muitos casos não chegam ao nosso conhecimento.



Augusto Travensolli