Falta de água em Irati é problema antigo

A Sanepar realiza obras de melhorias no sistema há quase um ano, no entanto, o problema persiste
em alguns bairros, como Vila Matilde e Vila São João

Kaio Ribeiro

 A falta de água tem sido      um problema constante em Irati. Localidades mais afastadas dos centros de reservação sofrem desabastecimento constante, como é o caso da Vila Matilde e Vila São João.
Luciana Florindo Rosa, moradora da Vila Matilde há oito anos, diz que sempre ocorreu falta d´água. Para tentar contornar o problema, Luciana Rosa adquiriu uma caixa de água de 250 litros, mas ainda não é suficiente. “Eu tenho uma caixa de 250 litros, mas tem minha mãe na casa ao lado, usamos nós duas e já não tem mais água,” explica. E comenta que para a maioria dos moradores do bairro é difícil adquirir uma caixa de água ou reservatório, então os moradores acabam suprindo o desabastecimento através de um olho d´água próximo. “É difícil quem tem caixa d´água aqui, quem não tem vai no olho d´água ali embaixo, mas é sujo, acho que até urina tem na água,” diz.

Os afazeres domésticos e a higiene pessoal também são prejudicados com o desabastecimento. “Lavar roupa, ou casa, o que tem que fazer é até o meio dia porque depois do almoço não tem mais água, e às vezes dizem que vai voltar até oito da noite, mais banho nem pensar, até meia noite não tem água, e a gente que tem criança, elas têm que dormir sujas,” comenta Luciana. “Eu falo pro meu marido, a gente tem que aguardar a vontade deles pra vir a água, mas deu aquele mês, se não pagar, cortam a água,” desabafa Luciana.

Outra moradora da Vila Matilde, Marlene de Andrade Rocha, vive há 13 anos no bairro, e comenta que sempre houve o problema. Marlene também adquiriu uma caixa de 250 litros, no entanto, para lavar a roupa, cozinhar e tomar banho, nem sempre é suficiente.

Marlene comenta que o desabastecimento ocorre semanalmente. “Essa semana passada ainda faltou água, às vezes eu não noto porque tenho a caixa, mas os vizinhos avisam,” conta.
Na Vila São João, onde acontece o desabastecimento regularmente, Iolanda Fiori, proprietária de uma padaria, lamenta o problema, que acaba afetando a fabricação dos pães. “Tem dias que atrapalha meu serviço, porque não tendo água para colocar o vapor para o pão, tem que jogar água dentro do forno, e já não fica bom,” explica.

Há dezesseis anos morando na localidade, Iolanda Fiori comenta que principalmente nos últimos dois anos acontece o desabastecimento. Outro problema, segundo Iolanda, é que nem sempre há um aviso prévio sobre a falta d´água.
Lídia Zorek, moradora da Vila São João há vinte anos, diz que sempre faltou água no bairro. E que acabou comprando duas caixas d´água para tentar resolver o problema.
Lídia dá bom exemplo, e sempre reutiliza a água da lavagem das roupas para outros serviços, como lavar a calçada. “Hoje estou lavando a calçada porque eu lavei bastante roupa do meu filho que é caminhoneiro, e para enxaguar sobrou bastante água limpa, então eu resolvi lavar a calçada, eu tenho problema de coluna, mas tenho que ficar puxando água lá do tanque,” explica.
Além disso, Lídia se previne guardando água em galões e garrafas. “Eu guardo água, tenho uns galões de água, e até esses litros de refrigerante, eu encho uns 10 e guardo,” conta. Ela também reclama que não há aviso prévio sobre o desabastecimento, e da imprevisibilidade no fornecimento de água.

“Quando eles avisam que vai faltar água não falta, eles avisam aí eu encho máquina de lavar roupa, encho tanquinho, e daí não falta,” comenta. “Esses dias faltou água o dia inteiro, de noite eu escutei que encheu a caixa d´água, levantei umas seis e meia da manhã, já não tinha mais água,” completa.
Lídia Zorek ainda afirma que nunca fez reclamações para a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar). “Eu nunca reclamei, porque a gente vê todo mundo reclamando e não faz diferença,” diz.
Obras: abastecimento
A assessoria de comunicação da Sanepar relatou que obras de melhoria no sistema de abastecimento de Irati já estão sendo feitas e trouxeram um aumento de 10% de produção de água tratada. Outras obras estão em andamento e seguem até maio.
Ainda segundo a assessoria da Sanepar, a produção de água tratada atende a demanda da população, no entanto, a realidade não é essa. Como foi mostrado a partir de entrevistas com moradores de pelo menos dois bairros em Irati, Vila Matilde e Vila São João, a falta de água acontece semanalmente, há anos.
Por ocasião das obras, a Sanepar alerta que poderá haver mais interrupções no abastecimento. Essas interrupções, segundo a assessoria de comunicação da empresa, serão devidamente avisadas à população, informando os bairros que serão afetados.


Prefeito solicita melhorias efetivas

Em Curitiba, o prefeito de Irati, Odilon Burgath e o secretário de Planejamento Valdecir Aksenen, reuniram-se com o diretor-presidente da Sanepar, Eugênio Ghignone; o diretor de Investimentos, João Martinho Cleto Reis Jr. e o gerente-geral da Região Sudeste, Antonio Carlos Gerardi. Na ocasião, Odilon cobrou ações efetivas para solucionar os problemas de abastecimento nos diversos bairros da cidade, e também foram discutidas medidas para ampliar a oferta de água em comunidades rurais.“Ficou tratado que em poucos dias uma equipe técnica da Sanepar visitaria Irati, e também traria informações sobre um projeto emergencial que está em andamento dentro do Município, além das futuras intenções de ampliação do abastecimento”, afirma o prefeito.

Outra reunião foi realizada, em Irati, com a presença do gestor da área industrial da Sanepar em Irati, Edison Moro Rios; do gestor de redes de Irati, Miguel Vieira Guimarães; e dos engenheiros Fábio Wilson Dias e Leandro Ribas.

Os técnicos apresentaram um projeto que está em andamento desde agosto de 2013, e estabeleceram um prazo de até o final de abril para sua conclusão. “Este projeto visa melhorar o abastecimento de água em diversos bairros do município, porém, sua execução ainda causa muitos transtornos porque deve ocorrer com o sistema em operação”, explica o secretário de Planejamento.

Em uma nova reunião que contou com a presença de Edson Rios e Antônio Gerardi, foram discutidas além das obras em andamento, futuras intervenções para melhorar não somente a distribuição, mas também, a captação e o tratamento da água. Gerardi ainda recebeu do prefeito um pedido para tornar operacional o poço artesiano número 03, próximo ao kartódromo, e conectar ao sistema já existente.“O poço tem capacidade de produção de 2.400.000 litros de água por dia. Essa ação irá melhorar a oferta de água para o quadro urbano e para o Condomínio Industrial”, acrescenta Odilon. Na ocasião, ele também solicitou a Sanepar melhorias no sistema de abastecimento em diversas comunidades rurais, em especial em Itapará.

Sobre a região de Itapará, Rios afirma que as obras prevêem implantação de adutora e infra-estrutura para sistema de captação em poço artesiano. O processo licitatório está em andamento e a previsão é de investimento de R$290 mil.

Como futuras medidas a serem implantadas, os representantes da Sanepar apresentaram a Odilon um projeto de melhorias no sistema de captação, tratamento e distribuição de água para o quadro urbano de Irati. A expectativa é que seja lançado o edital até o final deste mês, e terá orçamento entre R$13 e R$15 milhões. “O projeto prevê a construção de uma estação de captação superficial e tratamento, nas proximidades de Rio Imbituvão, com adutora de 11.700 metros e três reservatórios. O primeiro deles, com um milhão de litros, próximo ao Condomínio Industrial; outro com dois milhões de litros no Alto da Glória e um terceiro, também com capacidade para dois milhões de litros no Jardim Aeroporto. Se esta obra for feita, resolverá problemas de captação de água por mais de uma década”, ressalta o prefeito.