Skate: sob os pés, uma maneira de levar a vida

Entre ruas e pistas, o skatista iratiense e seu cotidiano


A partir dessa edição, o Hoje Centro Sul inicia uma série sobre esportes alternativos em Irati. A ideia é apresentar outras opções para quem curte se exercitar e manter alto o nível de adrenalina no sangue.

[caption id="attachment_34855" align="alignleft" width="300"]IMG_6339 > Confira o Vídeo no final da matéria <[/caption]

O skate vem dar início à série como um esporte muito presente na juventude, que vai além do simples exercício físico. O skate, para muitos, é uma filosofia de vida. Uma atitude que nasce na adolescência, e permeia a vivência do skatista vida afora. Aliás, frente à cidade, o skatista tem um olhar bem diferente: onde há um corrimão para se apoiar a mão, ele desliza; onde há uma escada, ele pula; onde há uma rampa de acesso, ele executa uma manobra; enfim, o skatista possui um olhar poético da arquitetura urbana, e isso acaba agregando valores de ruptura com o senso comum. Talvez, por isso, a sociedade ainda mantenha certo estereótipo sobre o esporte, marginalizando-o, ou tratando-o como simples brincadeira. Não é. Para a rapaziada que anda, skate é coisa séria. Por isso alguns iratienses foram entrevistados para somar outros pontos de vista sobre o esporte.

Guilherme Cordeiro, o Tomate, anda de skate já há dez anos. Começou com 14, por influência dos amigos. E comenta: “pra mim é mais que esporte, é uma forma de levar a vida.” Guilherme diz ainda que o skate lhe somou outra forma de ver a cidade, de se vestir e se comportar.

O skatista nunca correu um campeonato, mas já ajudou a promover. Há dois anos, no parque aquático, em parceria com a Associação Cultural Regional de Irati (ACRI), aconteceu um campeonato com premiação doada por lojas de Irati, e bandas tocando rock and roll. Atitudes assim ajudam valorizar o esporte.

Amigo de Guilherme, Otávio Stadikoski anda de skate desde os 15 anos.  Já fez karatê, capoeira, futebol, mas quando conheceu o skate parou com todos. “Era uma galera de uns 15, 20 skatistas, e andava todo dia.”

Estudante de administração, não sobra tempo para andar de skate durante a semana porque trabalha. Então resta apenas o fim de semana, o que é pouco. “Pois é onde tento manter meu corpo e minha cabeça fora dos problemas da vida”, explica.

Otávio ainda ressalta: “Não ando pra ganhar dinheiro ou me dar bem na vida, ando por prazer, a evolução de manobras e amizade que o skate traz é muito prazeroso.”

Sobre o estereótipo, diz que já foi julgado como marginal só por andar com o skate na mão. “Se eu ligasse pra isso, já teria parado faz anos.”

Em Irati, Otávio diz que o skate começou a crescer novamente. “A evolução e o número de skatistas daqui tem crescido muito, andar em grupo facilita muito a evolução, um vai ensinando o outro.” Hoje há duas lojas especializadas no esporte na cidade. Porém, a pista localizada na praça Edgard Andrade Gomes é precária, cheia de buracos, o que prejudica não só o skate, como apresenta riscos aos próprios skatistas. “Já fizemos alguns manifestos e pedimos ajuda da prefeitura, mas sempre resultou em nada.” E acrescenta: “acredito que é muito difícil ter uma reforma na pista, eles acham que aquilo é suficiente pra nós skatistas, mas quem usa a pista sabe que não é um lugar adequado e vamos sempre construir novos obstáculos de madeira, andar na rua, procurar novos picos pra evoluir.”

Problemas na Pista

André Augusto Galvak reafirma a postura forçadamente independente do skatista em Irati. “Sai tudo do nosso bolso”, comenta sobre as melhorias feitas na pista, e os obstáculos que eles mesmos constroem. E o esforço dos skatistas é devido ao apego com o esporte. “No começo é diversão, depois vai virando compromisso, e você não se sente bem se chegar o fim do dia e ainda não deu seu rolê.”

No dia 16 de abril de 2012 foi entregue à gestão passada da Prefeitura Municipal de Irati a última versão do projeto de uma nova pista, feita pelos próprios skatistas. Pedro Cassana dos Santos, André Galvak e Luis Otávio Stroparo estavam presentes na entrega, junto com o jornal Hoje Centro Sul, representado pelo jornalista Guilherme Capello. De lá pra cá, infelizmente, nada foi feito. O piso da pista continua esburacado, e a própria angulação dos obstáculos é um problema. São muito íngrimes, dificultando a execução das manobras.  O projeto entregue à prefeitura previa todas essas alterações para tornar a pista praticável.

“Nós queremos uma pista, um lugar pra gente poder se dedicar”, comenta Pedro dos Santos.

Há ainda uma opção, para quem não quer se arriscar na pista esburacada da praça Edgard Andrade Gomes ou nas ruas da cidade, a pista da loja Vivência Boardshop. Lá são cobrados R$ 5,00 para andar o dia todo. Porém o lugar é fechado, e não comporta muitos atletas ao mesmo tempo.

Promessas

Irati teve promessas para mais duas pistas serem construídas, além da reforma da pista já existente. Uma delas deveria ficar pronta há meses, sendo parte do Centro da Juventude, uma obra do governo do estado do Paraná que foi embargada e está parada. A pista foi construída, em forma de U, porém os skatistas a chamam de quebra-nuca, por ser impraticável. É no Centro da Juventude também que enfrentam dificuldades com a Guarda Municipal. Segundo informações da GM, o local não está aberto à sociedade, pois ainda não foi finalizada, portanto não é possível fazer uso do lugar.

Outra pista seria instalada na Praça de Esportes e Cultura, que seria construída no Conjunto Joaquim Zarpellon. Porém as obras da Praça de Esportes e Cultura também continuam paradas.

Pedro Cassana indigna-se com a dificuldade de conseguir apoio ao esporte na cidade. Segundo ele, outro empecilho é a questão financeira. Tanto para a construção de pistas, como no dia-a-dia, com equipamentos. Além do estereótipo de marginal sofrido por quem pratica o esporte. Contanto, Pedro luta pela valorização do skate como algo saudável para a mente e para o corpo. “O skate, pra mim, é minha vida. Ando todo dia, fazendo chuva ou sol, e esqueço tudo, dando o role, o skate na mão ou no pé, enquanto troco idéias com os amigos.”

Entre preconceitos e falta de apoio, o esporte sobrevive na perseverança da rapaziada que continua dando seu rolê. O skatista iratiense, bem como desliza e ultrapassa obstáculos nas ruas e pistas, também dribla os contratempos do cotidiano com obstinação. Sob os pés, o shape e as quatro rodinhas fazem fluir a liberdade no estilo ágil de quem sabe o que quer.

Texto e fotos: Kaio Ribeiro/Jornal Hoje C entro Sul