A vida circense por trás das cortinas

Entre viagens e espetáculos, uma maneira de viver encantando as pessoas


O circo chegou, e a alegria dá bom dia! A memória da infância cora o sorriso dos adultos, que levam suas crianças para ver o palhaço, a equilibrista, o mágico no picadeiro sob a lona estrelada. Eu quero churros, mãe! E outro já anuncia: olha, olha a contorcionista! Que sopro de felicidade é o circo. Mas, quem faz o espetáculo? Quem está lá maquiado, coberto de lantejoulas, ou em rodopios no globo da morte? Quem se arrisca nas alturas para encantar a platéia? Quem faz rir a todos?

IMG_5789  Em visita a Irati, o circo Rakmer abriu suas cortinas para a equipe do Hoje Centro Sul conferir o cotidiano de seus artistas. Com sete anos de existência, o circo pertence à Jeferson Rakmer, que nasceu e foi criado sob a lona circense. Para ele o circo é a mãe das artes, onde tudo acontece ao vivo, para deleite do público.

Mas há ainda quem se encantou com a chegada do circo em sua cidade, e pegou carona para nunca mais voltar. É o caso de Juliana Velasquez, trapezista. Com 35 de idade, já é artista de circo há aproximadamente 10 anos.

Juliana morava em Belo Horizonte, e era funcionária de banco. Como também era boa dançarina na academia de ginástica que freqüentava, certo dia aconteceu do pessoal do circo que visitava a cidade oferecer um bico de bailarina nas apresentações. Ela topou. Um ano mais tarde, quando o circo retornou e ela recebeu novamente o convite, não titubeou. Aprontou suas malas e partiu. Foi no circo, inclusive,  que Juliana conheceu seu marido, que na época era domador. Com ele Juliana teve dois IMG_5864filhos. Uma pequenina de 2 anos, e Davy, de 14, que segue seus passos se apresentando como trapezista em parceria com o pai. Para o menino, circo é uma maneira de viver. “Eu gosto muito, já nasci em circo, fui criado em circo, não me vejo fora de circo.” Com a mesma convicção Davy mantém seus estudos. Há escolas em que permanece apenas quatro dias, tendo que se mudar com o circo para outra cidade. Contudo a mãe diz que só recebe elogios das professoras das escolas onde passa. As crianças de circo são amparadas pelo artigo 29 da Lei 6.533/1978, que estabelece que as crianças têm vaga garantida na escola pública ou particular mais próxima do local em que os pais estão trabalhando.

Juliana Velasquez entende a alegria do filho na vida circense. Diz que tudo é sempre novidade, e que as mudanças fazem parte da vida. Bem como os riscos. Seu marido, quando era domador, no meio de um espetáculo foi pego por um urso. Por sorte conseguiu domá-lo e IMG_5859levá-lo para um lugar seguro. Ela assistiu a tudo.

Outro momento de riscos em um circo é o espetáculo do globo da morte. Roiter Esbano começou há apenas 2 anos no número, mas, enquanto bocejava durante a entrevista realizada há poucos minutos antes de sua apresentação, disse que é normal imprevistos acontecerem, como acidentes em que um cai por cima do outro dentro do globo. “Ah, você tem que passar por cima do medo, depois a adrenalina vem e você acaba gostando.”

Roiter é a quinta geração da sua família em circo. Ele cresceu tradicionalmente realizando o número do laço-chicote, onde um assistente apóia objetos com a boca, mãos e cabeças, e o chicoteador os tira sem causar ferimentos. Sua assistente nesse número é a própria mulher.

O motoqueiro e chicoteador, além de palhaço e malabarista, tem um filho de dois meses morando com sua mulher em um trailer. Roiter diz que até já pensou em parar. “ Mas é um vício, a gente não consegue sair.” Nos intervalos das apresentações ele vende fotos para ajudar no orçamento, e ainda é o condutor das carretas do circo durante a mudança.

O que chama a atenção no circo Rakmer é também o espírito de equipe e companheirismo. Todos os artistas desempenham funções paralelas durante os intervalos. Juliana Velasquez estava na barraca de comidas durante a entrevista. Já as gêmeas Rosane Khatalini e Roseane Kalini estavam na barraca das bebidas.

O pai das gêmeas nasceu em circo, e é o capataz do Rakmer, ou seja, aquele que monta a lona e toda a estrutura. Khatalini e Kalini nasceram em Teresina, Piauí, numa família de 7 irmãos. Elas moram no trailer com seu pai e outra irmã, Flávia Souza, que é mãe e casada com um acrobata e malabarista. Da família, ainda há um irmão no Pará, outro no Rio de Janeiro, e outra irmã na França, todos vivendo do circo.

O pai diz brincando que não teve jeito, teve que pegar a estrada e seguir com as filhas o destino circense. Rosane completa: “eu já gosto quando fica uma semana e já muda, senão fico entediada.”

E entre purpurina, lantejoulas e maquiagem, um mascarado. Como brincou Jeferson Rakmer: “o nosso repórter acrobata, Peter Parker.”

Luis Alberto tem 22 anos de circo, e faz o homem – aranha do Rakmer. Paraguaio, seguiu o circo que passou em sua cidade quando tinha apenas oito anos. Apaixonado pelo que faz, diz que gosta muito do Brasil, e agradece às crianças que o aplaudem, para ele, seu maior orgulho.

 

 

 

HCS -Nome?

Vareta – Artístico, ou?

HCS – Os dois.

Vareta – Meu nome é Sérgio, Palhaço Vareta.

HCS - Sérgio de?

Vareta – Sérgio dos Santos Brasil de Fortaleza.

HCS – Há quantos anos está no circo?

Vareta – Bem, a minha vida inteira foi trabalhar em circo, desde que eu nasci.

HCS – Fez outros números antes de ser palhaço?

Vareta – Eu até que tentei né, mais num deu certo não. Eu trabalho de palhaço com reprises e entradas, onde eu trabalho mais com o público.

HCS – E como é a receptividade?

Vareta – A galera sempre participa com a gente.

HCS – E as viagens, de cidade em cidade?

Vareta – É bacana, hoje a gente tá aqui, amanhã em outra cidade, vai conhecendo novas pessoas, se identificando com elas.

HCS – O circo também é uma família?

Vareta – Aqui todo mundo trabalha junto, é uma família só.

HCS – Qual é a função do palhaço no mundo hoje?

Vareta – Eu acho... Acho não, eu tenho certeza que é arrancar risos, deixar a platéia encantada, porque você não sabe do dia-a-dia das pessoas, e conseguir risos é muito gratificante pro palhaço.

HCS – Isso porque não ta fácil pra ninguém hoje, certo?

Vareta – Num tá fácil, tá difícil, tá complicado, cada dia que passa estou engordando mais ainda, então vai se tornando muito difícil pra mim. Eu tento expandir minha gordura, minha alegria com a galera.

HCS – A tua família é de circo?

Vareta – Todo mundo de circo. Trabalham em Fortaleza, Ceará.

HCS – E já viajou muito por aí?

Vareta – Já. Já rodei na França, do Ceará; Estadus Unidu da Fortaleza; a Bélgica no Nordeste... É, eu sou estrangeiro.

HCS – Quer deixar uma mensagem?

Vareta – Sim! Recebam sempre o circo com os braços abertos, porque o circo é hoje e sempre será a maior alegria do mundo!

 

 

Texto: Kaio Ribeiro


Fotos: Ciro Ivatiuk e Kaio Ribeiro