Transporte público em Irati: opção ou falta de alternativa?

Não é de hoje que o transporte coletivo de Irati tem sido questionado devido ao preço da tarifa cobrada pela empresa Transiratiense, R$ 2,50, a superlotação de algumas linhas e a falta ou deficiência de horários em bairros mais afastados do centro. O Hoje Centro Sul conversou com o gerente administrativo da Transiratiense, Sérgio Ricardo Zwar, que apresentou a versão da empresa para diversos pontos.
siteUma das reclamações levadas ao gerente é a escassez de horários de ônibus no Bairro Fragatas, onde os coletivos passam apenas cinco vezes ao dia, o que causa transtornos aos moradores que dependem do transporte público para trabalhar ou estudar. Zwar explica que a quantia de horários é determinada pela demanda, e como o Bairro Fragatas não têm grande número de passageiros, a disponibilidade de horários é reduzida.
Quando questionado se o fato de moradores reclamarem dos serviços prestados pela empresa não representaria uma necessidade do bairro, o gerente afirma que há projeto da Transiratiense para o melhoramento de algumas linhas, entre elas a do Fragatas. Porém, Zwar não confirma se haverá aumento de horários e o que será feito especificamente no bairro. Também deverão ser ampliados os horários para atender a Vila Nova, que também sofre com o problema.
Segundo ele, novas linhas devem ser inseridas até o fim do ano para ir a locais de Irati que até hoje não contam com serviço de transporte público como o Jardim Planalto, o Bairro Pedreira e o Bairro Marcelo. No entanto, o mesmo ônibus fará a mesma linha nos três bairros, que são afastados uns dos outros. “Há alguns anos atrás nós colocamos um carro para fazer esses bairros, mas a demanda não conseguiu sustentar a linha”, afirma.
O estudante de Engenharia Florestal, Mário Henrique Esculápio afirma que o pior problema do transporte público iratiense é a superlotação nos coletivos. “É complicado pegar o ônibus para ir à Unicentro, pois ele é muito lotado. Como é um trajeto longo, é muito cansativo”, explica.
Já a dona de casa Sueli Gonçalves reclama do valor cobrado pela empresa Transiratiense. “Eu uso o ônibus pelo menos três vezes por semana e isso pesa bastante”, afirma.

site 2Superlotação

O excesso do número de passageiros em horários de pico é uma reclamação constante, principalmente dos usuários da linha Riozinho, que faz o itinerário da Unicentro e é a principal linha de Irati, segundo o próprio gerente administrativo da Transiratiense.
Ele concorda que, de fato há superlotação em certos horários, mas que isso seria normal. “Alguns passageiros não estão acostumados com isso e se vão algumas pessoas em pé eles acham que é algo fora do comum, mas no transporte público urbano tem um certo número de passageiros que pode trafegar em pé”, afirma.
Zwar ainda explica que a impossibilidade de controlar a demanda de alunos da Unicentro também é um fator que gera este excesso de usuários. “Eles não seguem um padrão. Por exemplo, tem dias que eles vão mais em determinado horário e de repente eles mudam”, explica o gerente. Ele reclama que são fatores oriundos da própria Unicentro que geram esses problemas. “À vezes faltam professores, então já se muda o horário dos alunos”, afirma.
Esta linha é feita regularmente por dois ônibus, porém, Zwar garante que em horários de pico sete coletivos trabalham na mesma.

 

Valores

Após as ondas de protestos que tomaram as cidades brasileiras em junho e continuam até hoje, uma das atitudes dos governos foi a redução de certos impostos e do óleo diesel para as empresas de ônibus, assim, poderia haver a redução no preço das passagens. Porém, essa redução contemplou apenas cidades com mais de 140 mil habitantes, o que não é o caso de Irati.

 

Diário de bordo – Linha Riozinho

Às 17:40h, eu, Lucas Waricoda, me posiciono na fila do ponto de ônibus localizado em frente ao Rotary Clube, no final da rua Munhoz da Rocha. Por decisão em redação, fui sem qualquer identificação do Jornal – estava ali como cidadão comum usufruindo do transporte público oferecido.
Aguardo na fila, como tantos outros, até que minha vez é chegada. Saco o dinheiro da carteira – R$ 2,50 – e permaneço em pé, pois os lugares já haviam sido ocupados. Ao todo, 40 pessoas no ônibus. De acordo com o gerente administrativo da Transiratiense, Sérgio Ricardo Zwar, a capacidade máxima dos ônibus metropolitanos da empresa totaliza 60 lugares, entre os que estão sentados e os de pé.
Posiciono-me na última porta do veículo para poder ter uma visão geral do fluxo e da quantia de passageiros. Em questão de minutos e passados apenas dois pontos, o número salta de 40 para 65 passageiros. Ainda no mesmo lugar, permaneço, por algum tempo, sem usar nenhum tipo de barra de segurança interna do ônibus por um simples motivo: não era preciso. A lotação, se “nivelando” aos poucos pelo transporte, transformava os passageiros de pé em “barras de segurança” ambulantes. A cada pressionada no freio do veículo, meu corpo, em inércia, era barrado em outros corpos – e assim por diante.
Seguimos viagem e, durante 20 minutos aproximadamente, a realidade do automóvel permaneceu a mesma – cinco acima da capacidade. Aos poucos, os passageiros chegam cada um ao seu destino. O número de pessoas dentro do veículo passa a cair, em média, de três a seis pessoas por ponto. Reparo quem são aqueles que ocupam os bancos e quem são os de pé. Conto cinco idosos aparentes contra muitos jovens sentados – não diria confortavelmente, mas em me-lhores situações.
Finalmente, após 45 minutos com todos os assentos ocupados, os estudantes dependentes do transporte público descem na entrada do Campus Irati da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro).
Tomo um dos lugares vagos e admiro a vista privilegiada de outros pontos do município. Chego no mesmo ponto onde, a exata uma hora, entrei no ônibus.

 

“Para nós não houve redução de preços”, explica Zwar.

O gerente ainda afirma que houve aumento de custos para a Transiratiense como o acréscimo de 12% na folha de pagamentos. “Fazia três anos que os funcionários não recebiam aumento acima da inflação, então o sindicato fez pressão e nós tivemos que conceder”, diz.
Como o último reajuste no valor das passagens foi abaixo da inflação, segundo Zwar, e os custos da Transiratiense aumentaram, há possibilidade de aumento na passagem até o fim do contrato da empresa, que vence no ano que vem. O gerente explica que a Transiratiense está em contato com a prefeitura para que a situação seja resolvida, ou seja, o aumento seja efetuado.
Existe uma clausula contra-tual chamada Depreciação, que é a obrigatoriedade de se reduzir o valor das passagens conforme a frota for se desgastando com o tempo. Como boa parte dos carros da Transiratiense são antigos, teoricamente o preço deveria baixar. No entanto, Zwar afirma que a empresa decidiu utilizar este regulamento para suprir os gastos extras. “Nós direcionamos este valor, que deveria ser usado para renovação da frota, nestes gastos extras da empresa”, afirma.
Atualmente a passagem em Irati – que tem aproximadamente 60 mil habitantes - custa R$ 2,50 por viagem. Em Cascavel, que tem cerca de 280 mil moradores, o bilhete do transporte coletivo também é R$ 2,50 e em cidades como Londrina - com 506 mil habitantes – e Guarapuava – 167 mil – o valor cobrado aos usuários é inferior ao de Irati.

Movimento contra o aumento da passagem

O movimento que apoiou as reivindicações ao redor do Brasil contra o aumento da passagem do transporte público, em Irati começa a se mobilizar para criar uma comissão organizadora que será responsável pela estruturação das assembleias – proposta do movimento desde o encerramento das manifestações.
Mateus Guedes e Leonardo Campos são as pessoas que estão à frente dessa empreitada. Em entrevista, Guedes pediu para que todos aqueles interessados em participar da comissão fiquem atentos à página do movimento no Facebook para novas informações. “Iremos organizar uma reunião para que todas as dúvidas e informações sobre a comissão sejam apresentadas. Só então iremos começar a planejar a primeira assembleia”, afirma Guedes. Segundo ele, provavelmente a reunião acontecerá na primeira semana de setembro.

Texto: Guilherme Capello e Lucas Waricoda, da Redação/Fotos: Da redação