Iratiense inicia carreira futebolística na Hungria

Muitos meninos no Brasil têm o sonho de jogar futebol profissionalmente e o iratiense João Victor dos Reis Neto, de 18 anos, acaba de realizar este sonho. Há 15 dias ele está na Hungria jogando no time Putnok , clube da pequena cidade demesmo nome.
JoaoApesar da complicada  adaptação ao clima, língua e estilo de futebol, em pouco tempo o volante tem se destacado no futebol húngaro e tem a aspiração de jogar no time profissional ainda este ano. João Victor concedeu uma entrevista exclusiva ao Jornal Hoje Centro Sul e falou sobre futebol, carreira e racismo.
Carreira
No final de 2012, João Vitor havia disputado a Copa Paranaense sub-18 pelo extinto Clube Serrano, de Prudentópolis. Foi lá onde ele conheceu o técnico Nivaldo, ex-jogador do Operário e admirador do futebol do jovem iratiense. Como o time do Serrano já estava em vias de finalizar as atividades, o “professor” Nivaldo, querendo dar sequência ao futebol de João Victor, o garantiu que assim que ele assumisse outro time, o volante iratiense iria junto.
Porém, a oportunidade apareceu antes mesmo de Nivaldo ser contratado como técnico por outro time, pois o empresário André Gustavo Piragis, amigo do treinador, especulou sobre algum “novo crack”, e Nivaldo comentou sobre a habilidade do garoto. “O professor explicou que o André queria falar comigo e eu fui até Curitiba para vê-lo. Lá, ele comentou sobre a possibilidade de jogar profissionalmente na Hungria e como era indicação do Nivaldo ele não precisava nem me ver jogando”, afirma o garoto.
Enquanto isso, para não perder a forma, o iratiense permaneceu em Curitiba, treinando física e tecnicamente até acertar a “papelada”. Assim, que seus documentos ficaram prontos, João Victor partiu para a Hungria.
O garoto treinou por uma semana com o time profissional, mas desceu para o sub-20 com intuito de ganhar experiência e mostrar seu futebol para o treinador.
No próximo dia 17 começa o Campeonato Húngaro e João Victor tem a expectativa de ser       aproveitado no time profissional. “Os jogadores da minha idade começam no time sub-20, então vamos treinar e se adaptar ao estilo de jogo, mas claro que eu pretendo jogar no time profissional em breve”, explica.

Adaptação
Uma das principais diferenças que João Victor sentiu ao começar os treinos no Putnok  foi a função de volante. “Aqui o futebol é muito tático, então eles jogam muito em linha aqui, diferente do Brasil que sempre tem alguém na sobra”, comenta o jogador.
João Victor explica que há a linha de zaga composta pelos zagueiros e laterais e na linha do meio de campo não existe a função de 1º volante, ou seja, aquele que fica apenas na marcação. “Os volantes aqui também atacam bastante, mas esse não foi um problema para mim porque eu gosto de atacar”, diz.
Para ele, o maior problema da Hungria, nesse momento, é o calor. O garoto explica que no sábado (27) jogou um amistoso às 9 horas da manhã sob um sol de 34°. “Mas eu saí feliz porque fiz um gol”, comemora o iratiense. Porém, ele adianta que, mesmo com todo esse calor, o inverno da Hungria também é bem rigoroso e alcança temperaturas abaixo de 20° negativos.
A língua também foi outra complicação para João Victor. Ele não fala bem o inglês e menos ainda o húngaro, por isso sempre está junto de um amigo brasileiro que fala bem inglês e que traduz as explicações do treinador e até das pessoas em lojas e comércios nas ruas de Putnok .

Racismo
No início deste ano João Victor foi vítima de preconceito racial cometido através das redes sociais. Um estudante iratiense havia postado na página de João Victor um anúncio do Mercado Livre que dizia “Negro, Africano Legítimo, Único Dono, Bom Estado de Saúde”, com o título “Promoção do dia”. O caso repercutiu nacionalmente e um processo foi aberto contra o acusado.
Quando questionado sobre o assunto, o volante conta que desistiu do processo criminal visto que, agora morando na Hungria, ficaria muito complicado de voltar apenas para as audiências. “Acabamos desistindo para não dar dor de cabeça, porque eu ia acabar perdendo jogos e me desgastando muito com as viagens”, finaliza.

Texto: Guilherme Capello, da Redação
 Fotos: Arquivo João Victor