Dia-a-dia de um agricultor familiar de Irati

Segundo o último censo (2010) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 20% da população iratiense se encontra no perímetro rural. Nossa equipe foi até a comunidade rural da Serra dos Nogueiras para encontrar Jorge Teleginski, agricultor no sítio São José.
site seu jorgeEra por volta das 10h quando encontramos o local. As palmas que batemos na frente do portão da residência fazem com que
Margarida Jachinski Teleginski venha ao nosso encontro. Simpática, ela nos informa que seu marido Jorge estava voltando da roça e dentro de alguns minutos ele chegaria. Instantes depois, um trator verde – carregando um saco de repo-lhos – para em frente a casa. É o próprio. Jorge é olericultor, assim como tantos outros agricultores da região sul e sudeste do Brasil. Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, 75% de toda produção da olericultura nacional se encontra nessas duas regiões.
O homem salta do veículo e olha para nós com um sorriso de quem já esperava visitas. Vestia uma camiseta roxa, uma calça ¾, chinelos de dedo e um chapéu. Ele nos cumprimenta dizendo que acabara de colher algumas cabeças de repolho para uma encomenda de um aniversário que aconteceria naquele dia. Apertamos nossas mãos e, antes mesmo de entrar na garagem da casa ele diz em voz alta: “esperem só um minuto que eu lavar meus pés. Vão entrando.” Jorge tira os chinelos e, com uma mangueira, enxágua seus pés para tirar o barro.
O clima do sítio é tão convidativo quanto o cheiro que vem das panelas da cozinha. Descontraído, o sitiante nos revela o motivo por trás do aroma de comida. “Quando a gente combinou de vocês (Hoje Centro Sul) virem até aqui, eu pensei: que tal fazer um frango caipira pros jornalistas?”, afirma Jorge num tom de brincadeira. Quem comanda a cozinha é Margarida. De cabelos presos, ela conversa e organiza os ingredientes do almoço com maestria.
O homem nos convida para entrar, mas antes ele lava novamente seus pés para remover o restante da terra de seus chinelos. Ele entra em casa com pés descalços e nós entramos logo após. ”Eu e o Jorge fizemos 25 anos de casados mês passado”, Margarida comenta orgulhosa enquanto prepara a comida. Jorge tira o chapéu e puxa cadeiras da mesa da co-zinha para que nos sentemos. Em meio da agradável essência do tempero que Margarida usava na comida, começamos oficialmente nossa conversa.
Às 5h, Jorge está de pé para começar o dia. “Ele faz o próprio café”, diz sua esposa. Enquanto a mulher começa a arrumar a cama, o sitiante site 02já está a caminho da plantação. “Se tem repolho pra transportar, entregamos a mercadoria pro distribuidor”, comenta Jorge. Almoçam entre as 12h e 15h, dependendo da quantidade de trabalho no dia. Pela tarde, voltam para atender o repolho outras culturas menores que administram. As 21h a janta está servida. Logo após, assistem um pouco de televisão e vão dormir. “Nós só não temos internet, mas acho não vai demorar muito pra chegar aqui”, completa Margarida. Antes de plantar repolhos, Jorge trabalhava como caminhoneiro. “Eu já carreguei batata por nove anos. Fazia São Paulo, Paraná e, algumas vezes, Santa Catarina”, diz. “A vida de caminhoneiro tem vários riscos, mas foram meus primeiros anos trabalhando. Geralmente a gente não liga muito pra isso quando a gente é jovem”, explica o sitiante. Ele conta que foi o casamento que o fez largar o antigo trabalho para morar na Serra dos Nogueiras. “Essa casa pertencia ao meu irmão, mas como ele havia se casado com uma professora de uma escola na área urbana, nós apenas trocamos de casa. Ele foi morar na cidade e eu e minha mulher no sítio”, comenta o homem.
Evolução da agricultura
O cultivo repolho é um ofício tradicional na família de Jorge. Nascido no sítio, ele se recorda de seu pai plantando e colhendo repolhos. Porém, na época, havia apenas o conhecimento da prática, sem quase nenhum acesso a informações mais precisas ou dados técnicos sobre o plantio. “Desde que eu me conheci por gente até hoje, a agricultura evoluiu muito. A gente tem disponível um maquinário muito melhor e produtos superiores aos antigos – que, na maioria das vezes, eram feitos pelo próprio agricultor”, afirma o sitiante. Apesar disso, Jorge afirma que uma das maiores dificuldades que um agricultor enfrenta é o fato de que a plantação de repolhos é “uma empresa a céu aberto”, ou seja, está exposta às adversidades e surpresas do clima. Enquanto Margarida começa a cozinhar o macarrão, seu marido lamenta sobre a falta de um local específico para a venda da produção, principalmente para os olericultores – área da horticultura que abrange a exploração de hortaliças. Segundo ele, a criação de um local que funcione como uma Central de Abastecimento do Paraná S.A. (CEASA) solucionaria esse problema. “Nossa região é produtora. Nós temos de tomate à alface. Irati precisa de um espaço para a venda dos nossos produtos, com tabelas de preço e regulamentos específicos”, defende o agricultor. O sol quase a pino, o almoço praticamente pronto e a conversa se estende. Jorge conta de suas alegrias como cidadão iratiense e apresenta sua teoria do porquê de ter voltado para morar no sítio. “Mesmo depois de cortado, o cordão umbilical te puxa de volta”, explica. O agricultor revela sua simpatia pelo povo de Irati e pela cidade de forma tímida, porém, aos poucos, vai nos dizendo suas impressões sobre o município. “O povo de Irati é muito simpático e  hospitaleiro. Vai ser difícil você encontrar alguém na cidade que te trate mal”, afirma. Nesse momento, Margarida anuncia que o almoço está pronto. A comida farta ao som de conversas e risadas é um indicador da qualidade de vida do casal. Um dos ajudantes de Jorge nos acompanha na refeição. “Temos frangos, porco, algumas cabeças de gado”, diz o sitiante. “De vez em quando, a gente mata um boi e faz um churrasco pros ‘chegados’. Na próxima vez que vocês vierem nos visitar, nós vamos assar uma carne pra vocês”, comenta.
Após o almoço, nos despedimos de Margarida para visitar a plantação do casal. Porém, antes,Jorge nos presenteia com algumas laranjas e poncãs. Dirigimos até o local onde os repolhos estão plantados. Seus cachorros seguem o carro. “São companheiros até de baixo d’água”, diz. Chegando no lugar, o agricultor nos conta sobre as etapas do plantio e o dano causado pelas chuvas dos últimos dias. Após um pouco mais de conversa, nos despedimos. Não contente com os poncãs, Jorge ainda nós dá seis cabeças de repolho. Apertamos as mãos não mais como desconhecidos e seguimos o caminho de volta.


Texto e fotos: Lucas Waricoda, da redação