A festa de encerramento do ano letivo em Guamirim, ano 2012, em sua segunda edição, liderança e coordenação da Professora Vitória Rossa Sauruk, diretora da Escola Municipal Esperança Chuilki, revelou momento de competência, encanto e emoção. Ao chegar ao evento, encontrei a Professora Zenilda Stroparo, Secretária da Educação desde 2005, e a aluna Jéssica, de Arroio Grande. Zenilda, eis a menina que gosta muito de leitura, possível estímulo de sua gestão. Guamirim, por especial carinho de Maria Lúcia Chuilki, é o único local do Município que possui, na comunidade, fora da escola, uma Casa da Leitura. Palmas prolongadas, a nação e a humanidade agradecem. Espaço da festa, a Casa da Leitura e locais externos do lar de Maria. Como toda ação didática eficaz, o primor da qualidade. A exposição de arte e vida de algumas raízes étnicas que formam o universo humano da localidade; motivos de natal, a mesa para a ceia do paladar e, pelo requinte, sobretudo ceia do espírito; um tapete de musgos locais e adjacências para significar a devoção à natureza como caminho a seguir na preservação deste nosso único endereço, a terra, segundo ensina o Mestre Paulo Freire. Sim, voltei no tempo para tornar presente Ercílio Margarida 1928 a 1929 e Mercedes Braga 1930 a 1942 na Escola Duque de Caxias, com exposições de trabalhos que tornavam a comunidade extensão da vida escolar. Na saída da Casa, um poço igual ao de fábula e um galinheiro reinventado como nunca se viu em encantados contos infantis. Os caminhos ornamentados, adiante o palco da reconstituição da fé, o nascimento de um menino que amenizou o barbarismo e modificou o mundo. Vitória e Maria, as professoras, alunos e todos viviam a angústia do poder dispersivo da chuva. Mais de mil almas confiantes. No período de 1930 e 1940, a força do teatro em Irati, com Oscar Leandro, autor e diretor das peças apresentadas no Cine Theatro Central, tinha origem em Guamirim, exatamente nesse local. Foi, então, possível um momento pleno de energia em busca do tempo perdido e, na alegria de bem querer, olhar o futuro em sua plenitude de solidariedade e harmonia.
Se em 1930 a pedagogia tinha algum fundamento em Decroly, Montessori, Freinet e sempre no universo inteligente que vai se acrescentando à civilização, desde Sócrates, Platão e Aristóteles, depois Comênio (ensinar tudo a todos), Locke, Fénelon e Rousseau; ainda Pestalozzi, Froebel e Herbart, Feltre e Basedow; no fim do século XX predominou a visão educativa de Piaget, Vygotsky, Skinner, Gramsci, Makarenko, Wallon, Ferreiro, e outros grandes educadores e filósofos, além dos nossos, Anísio Teixeira e Paulo Freire, conjunto de sabedorias sem as quais o processo educativo nunca seria pleno, para tanto requer a síntese das experiências bem sucedidas e consagradas na história. O que se viu em Guamirim foi uma aula de escola e comunidade unidas para edificar a humanidade das crianças, jovens e adultos, de perto e longe. Dona Vitória e sua brava gente destemida e solidária, por certo, vão repetir essa vitória, valorizando a memória, pois sem memória nunca haverá cidadania. Guamirim reviveu, recriou e ampliou a experiência educativa de Margarida e Mercedes, introduzindo ao que foi amplo, mas estático, o envolvimento dinâmico da arte infantil.
E a chuva veio abundante? Apenas breve garoa, depois o céu ficou repleto de estrelas. Sem elas, os reis e o povo não saberiam o caminho, na magia de uma noite de luz, além da pipoca, pastel e glória, uma página de história que só a perseverança será capaz de reconhecer na moldura da fama e do aplauso. Parabéns às crianças, atores deste momento mágico, um forte abraço aos anjos e fadas que os conduzem com esperança e ilimitado amor.
José Maria Orreda
Publicado na edição 653, 09 de janeiro de 2013.
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