Há dez anos Guga venceu o Masters Cup Lisboa-2000, o que o tornou o número um do mundo no ranking da modalidade. Existe uma passagem engraçada nisso tudo. Tenho a impressão, pra evitar a possibilidade de chute eu tenho só à impressão de ter visto de perto o último torneio disputado pelo Guga, no Brasil, antes de vencer pela primeira vez o torneio de Roland Garros. Foi em Curitiba, no Graciosa. Apesar de gostar muito do esporte, sempre sofremos – até aquela data – com a má vontade da imprensa esportiva que sempre se dedicou mais ao futebol do que a qualquer outra modalidade e, por isso, sabia pouco á respeito do atleta. Mas acompanhando o torneio deu pra sentir a diferença que havia entre Gustavo Kuerten e os demais participantes. O jogo dele era pra muito mais longe, e foi o que aconteceu. Guga é um daqueles, aqui no Brasil, casos raros em que se nasce pronto, e tem-se a felicidade de encontrar alguém com visão suficientemente aberta, no caso Larry Passos, pra identificar a pedra bruta e lapidá-la. Aí vem a pergunta que não pode deixar de ser feita: mas num país com tanta gente, seria só Guga o naturalmente capacitado a jogar tênis? Eu acredito que não; acredito que existam centenas, talvez milhares de talentos – e não só do tênis -, com dom natural pra diversas modalidades, mas que por falta de oportunidade e de incentivo vão “morrer no ninho”. O Brasil é um país sem tradição olímpica, por exemplo. Até a pouco tempo, os raros troféus e medalhas conquistados eram obra de esforço individual e o processo, pobre, de auxilio á atletas aconteceu no sentido contrário. Os resultados não eram frutos de um programa de descoberta e incentivo, mas de apoio depois que os resultados, não se sabe a que preço, se tornavam evidentes demais pra não serem absorvidos por essas ligas e confederações, quase sempre de moral pouco ilibada, muito mais em proveito próprio delas, as ligas. Guga não é caso isolado e Eder Jofre foi outro que brotou por esforço próprio; Maria Ester Bueno, também. O pessoal do futebol, a começar com Pelé, também não tem história diferente. Só que gravitam num meio muito melhor “organizado”, pessoas de “visão” num futuro próximo, mais ou menos e longo. Quem se organizou direitinho – até onde se vê – foi o vôlei que, até prova em contrário – atenção: não foi inventado por, mas foi visto por – deve muito á Luciano do Vale que foi quem viu bem pra frente e resolveu, através da TV, investir no jogo. Deu no que deu. Voltando ao Guga, pra encerrar. O tênis é um esporte a longo prazo; é muito minucioso, milimétrico e individual. Logo, diferente dos esportes coletivos aonde você tem a oportunidade de culpar alguém. Ali é você e você contra o outro. Pra ser jogador de tênis você tem que estar física e psicologicamente bem, e pra isso existem escolas e academias que ensinam isso, e não é barato. Mas, como sempre, o cavalo passou encilhado e não montamos. Durante o tempo que o Guga era a referência como campeão de Garros e número um do mundo, surgiram legiões de jogadores de todas as idades e criaram um meio onde poderia estar o sucessor do “catarina” mas, como sempre, não tinha ninguém em casa e deu nisso aí. Hoje, Guga e Larry, preparam Zum projeto de tênis futuro. Em qualquer canto do mundo civilizado, há dez anos, aproveitando a “onda Guga”, federações teriam sacado o momento e investido, aqui não, afinal atraso de dez anos por aqui ta parte verde do arco. Parte verde do arco já é aviação e que quer dizer que ta tudo bem, mas isso é outra história.
Marco Leite
Publicado na Edição 548, em 08 de dezembro de 2010
Marco Leite
Publicado na Edição 548, em 08 de dezembro de 2010