Palácio do Pinho

O Palácio do Pinho, como é conhecido, não é só mais um belo edifício em madeira com porão e três planos, mas a sede de uma serraria com sua vila operária, localizado entre a mata e a serra a vapor. É o remanescente de um período em que o pinho teve grande importância na economia paranaense.
Há muito tempo se sabia da riqueza florestal do segundo e terceiro planalto, sendo a araucária o maior alvo desse interesse. Porém, entre meados do século XIX era impossível uma exploração intensa pela falta de estradas que permitissem a retirada da madeira. Primeiramente, a madeira era extraída na beira dos rios, para ser transportada pela água. Depois, a estrada carroçável da Graciosa e a de Ferro acelerou a exploração no início do século XX.

Em Curitiba, Guilherme Xavier de Miranda era ervateiro. Enquanto seus filhos continuaram trabalhando com erva-mate, coube a outro filho, Alberico Xavier de Miranda, 1.200 alqueires de mata localizada entre Irati e Fernandes Pinheiro, em Florestal. Alberico foi uma modelo de empresário inovador. Em 1912, começou com a indústria de madeira. O terreno foi sede de uma das maiores e mais modernas serrarias do Paraná, em um total de 2.430 hectares de pinhais próprios e mais 2.430 de concessões para exploração.

A serraria A. Miranda & Cia empregava 800 operários, entre brasileiros negros e imigrantes alemães e italianos, que eram peritos em seus ofícios. Diferente da mentalidade empresarial da época, Alberico buscou mão de obra especializada e, para assegurar boa qualidade de vida aos seus operários, investiu em infraestrutura e reflorestamento.

Na época, Florestal era maior que Irati, sendo que ali já havia iluminação, enquanto Irati não tinha. No decorrer dos anos, Florestal virou praticamente uma cidade, com armazém, panificadora, farmácia, açougue, oficina de fundição, olaria, clube, cinema, escola, fábrica de perfumes, laquê e pasta mecânica, marcenaria e a capela exclusiva da família Miranda.

O armazém recebia as novidades de São Paulo e os moradores de Irati e região faziam suas compras ali. Havia uma linha férrea particular com 10 km de extensão para abastecer a serraria de toras, com uma capacidade de produção de 600 mil pés quadrados de madeira por mês.

Mas o que chamava a atenção na vila era a residência da família de Alberico Xavier de Miranda. Construída em meados da década de 1910, a casa sede da Fazenda Florestal é um exemplo único no Paraná no que diz respeito à arquitetura em madeira. A forma como a casa foi construída foge totalmente dos padrões difundidos no início do século XX no estado. Seguindo o modelo britânico e americano, o luxo e a riqueza nos detalhes decorativos é o que mais chama a atenção. As composições são rigorosamente simétricas no uso de colunas jônicas e na concepção do jardim que segue formatos geométricos, inspirado na arquitetura francesa.

O imóvel era o ponto de referência e palco de intensa vida social, fosse entre os moradores do local ou por visitas de parentes. Faziam-se desfiles de carnaval com ricos tecidos, serenatas e cantorias, soavam violinos, bandolins e várias etnias se misturavam.

Em 1948, o governo do Paraná comprou a fazenda e instalou a Estação Experimental, atual dependência do Instituto Agronômico do Paraná, Iapar. A casa e a capela da família Almeida foram tombadas pelo Patrimônio Histórico do Paraná, em 1990. Hoje, o casarão abandonado necessita de urgente reforma e restauração, mas ainda continua a encantar quem passa por sua fachada envelhecida.

Ana Paula Schreider/Hoje Centro Sul

Fotos: Arquivo Museu Municipal de Irati